quarta-feira, 26 de junho de 2013

Alminhas

Próximo das férias, apreciamos monumentos populares espalhados por estradas e cruzamentos. Parar e rezar um pouco é o convite para que todos, cada qual em sua via, prossigam em paz e cheguem ao seu destino.


Fotografia Dina Cristo















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quarta-feira, 19 de junho de 2013

O Caminho do Yoga

Wikipédia
Antes do Dia Mundial do Yoga, publicamos um artigo originalmente editado na revista "Biosofia", no ano 2000[1]. Nele o autor, diácono da Igreja Católica Liberal, explica quais são os principais tipos e princípios do Yoga.

Texto João Gomes 

Olhamos à nossa volta, e sentimo-nos insatisfeitos com as respostas que encontramos nas várias áreas do conhecimento e da chamada fé. Percebemos, no âmago do nosso ser, que chegou a altura de desvendarmos os mistérios e os véus que cobrem a vida. É ai, num pedaço de milagre, surge o início da resposta, vinda muitas vezes por “acaso”, numa conversa, num livro ou num filme.
Para muita gente, o yoga é a resposta para essas quatro questões fundamentais. [Quem sou eu? O que faço aqui? Donde venho? Para onde vou?]. Infelizmente, também para alguns, ele é a teia que os sufoca e os ilude.

O que é o yoga?

Uns dirão que é uma espécie de ginástica, de acrobacia oriental; outros, mais perto da verdade, afirmarão que é uma filosofia de vida; outros ainda, que é uma forma de atingir a paz e a libertação da roda dos nascimentos. A resposta a esta questão, encontra-se na raiz etimológica do termo. O vocábulo yoga é uma palavra do sânscrito e deriva do termo yug, que quer dizer união, unir. No yoga, o aspirante pretende unir o seu eu inferior (a personalidade, o anjo lunar, o quaternário, o subconsciente e o consciente) ao seu Eu Superior (o Cristo Interno, a alma espiritual, o Ego, a tríade, o anjo solar, atma, purusha, o supraconsciente). Assim, o yoga faculta-nos os meios, as técnicas e os instrumentos, para chegarmos a este fim.
Será interessante fazermos aqui um pequeno parêntesis e compararmos a psicanálise ao yoga. Na primeira, temos uma metodologia que nos permite “descer” ao subconsciente e analisar e conhecer o seu conteúdo; no segundo, apresenta-nos uma técnica que nos permite “subir” ao supraconsciente e contactar com o seu mundo.

O folclore da pseudo-espiritualidade

São muitos, infelizmente, os falsos gurus, os falsos mestres, que pululam por aí. Com um ar mais ou menos oriental, com os olhos mais ou menos em bico, com uma conta mais ou menos choruda, estes vendedores de sonhos apresentam-se como salvadores, avatares encarnados, que apenas com um olhar, são capazes de ministrar as mais altas iniciações. E o ocidental, guloso por algo diferente, ansioso por poderes psíquicos e sensações místicas e ocultas, aspirando à paz enlatada do pseudo-nirvana, corre, com o olhar húmido e a bolsa aberta, para os braços do seu exótico e sorridente guruzinho, o papá espiritual.
Poucos são os Instrutores que, com a humildade da experiência e do conhecimento, sabem que eles não são mais do que alunos no meio de alunos; auxiliares no processo de descoberta, que o estudante fará no seu percurso espiritual, do seu Mestre Interno (o Cristo Interno). É precisamente esse mestre interno, que apresentará o discípulo ao seu (verdadeiro) Mestre, esse Ser Excepcional, flor rara das altas montanhas, que obviamente, não frequenta ginásios da Nova Era, grupos “esotéricos e iniciáticos” (que, de esotérico só têm o chapéu e, de iniciático, o avental) e ashrams poeirentos e anandicos.
Desculpem os leitores, se causticamente desanco certo folclore ligado ao yoga e a movimentos afins. Estar calado é ser cúmplice. Amo demasiado o yoga e a filosofia oculta, para suportar, sem gritar e sem protestar contra, o modo como certos gurupitecos usam e abusam da Doutrina Sagrada. Nada tenho contra aqueles que, competente e honestamente, vivem em exclusivo para o ocultismo, cobrando o seu justo salário. Lá porque se é espiritualista, não quer dizer que o indivíduo não tem o direito, e o dever mesmo, de viver com dignidade. Todavia, o que eu não posso de modo nenhum concordar e entender são: os luxos, a baba vaidosa e matreira; os excessos; o culto das personalidades; os “segredos de Polichinelo”; a ignorância primária; a exaltação do vulgar e da ocultite; a exploração da aspiração sincera e legítima; o fanatismo sectário – e os negócios chorudos que florescem à volta do sagrado. Quem o faz desconhece a regra, quem o faz “marimba-se” para o espiritual.
Quando despertamos para a espiritualidade, uma das primeiras questões que se coloca na nossa mente, é a de sabermos qual o tipo de yoga que devemos seguir. A resposta a esta dúvida encontra-se na auto-análise prévia, que devemos efectuar. O tipo de yoga a escolher vai depender de três ou quatro factores essenciais: a idade; a raça (no sentido oculto); as polarizações; e o temperamento do praticante ou raio predominante.

Os sete sistemas de yoga

De um modo geral, consideram-se sete grandes yogas:

O Hatha Yoga, método indicado para adultos polarizados no seu corpo físico (tipo lemuriano) e nos chakras inferiores (raiz ou sacro), imaturos emocional, mental e animicamente; crianças (quando devidamente adaptado); e, predominantemente, pessoas de temperamento do 1º raio (tipo voluntarioso e determinado), 4º raio (tipo artístico, com grande sensibilidade para a estética, beleza e harmonia) e 7º raio (organizado fisicamente, valorizando os detalhes e os pormenores). O praticante deste sistema utiliza os exercícios físicos (asanas) e os exercícios respiratórios (pranayama) para atingir os seus fins. Segundo esta metodologia, a mente (vritti) é governada e dirigida pelo prana (energia vital), ou seja, o princípio inferior governa o superior. Este yoga é o mais antigo de todos, e tem as suas raízes na Lemuria e na 3ª raça, quando a humanidade atravessava o estágio infantil. Acrescente-se ainda que os Mestres e os grandes iniciados desaprovam a prática deste sistema, argumentando que: o nível evolutivo actual e médio da raça; os excessos circenses e acrobáticos desta disciplina, e algumas práticas de recuperação do controlo consciente de certos órgãos internos, que naturalmente, ao longo do processo evolutivo, passaram para a direcção do inconsciente – são tudo razões que desaconselham, claramente, a prática deste marga. Acrescentamos por fim, que a espiritualidade não é, nem pode ser, um circo, um espectáculo!
O Karma Yoga, metodologia de tipo generalista recomendado a todos os tipos de yoguis. Este sistema é um dos mais seguros e eficientes, exigindo do praticante uma personalidade (corpos mental, emocional e físico) equilibrada e bem desenvolvida, alinhada com a alma ou o Eu Superior. Os Chakras inferiores (raiz, sacro e solar) direcionam-se para o chakra cardíaco, e funcionam em sintonia com ele. Este é o yoga da acção inspirada, do serviço, da entrega. Se tivermos em conta que iniciamos um ciclo regido pelo 7º raio (vector que governa o plano físico) e que, encarnados, temos o dever de utilizar o corpo mais denso no serviço ao plano divino, então percebemos a afirmação inicial de que este yoga é do tipo generalista. Os discípulos do 3º raio (inteligentemente activos e adaptáveis), do 7º raio e do 1º, sentem-se especialmente atraídos por este caminho. O Senhor Cristo Maitreya, Gandhi, Annie Besant e Madre Teresa de Calcutá podem ser considerados exemplos superiores deste tipo de percurso.
O Laya Yoga é um sistema utilizado pelos iniciados (do 2º grau, preparando-se para a 3ª iniciação) sob a direcção do seu Mestre. Neste sistema, o discípulo medita e reflecte nas características e natureza dos chakras elevando, nas últimas etapas, a energia de Kundalini até ao último centro, o chakra coronal. Num breve parêntesis, esclareço aqui que esta metodologia não tem nada a ver com qualquer tipo de exercício tântrico ou sexual. Se assim fosse, não faltaria por aí grandes iluminados. Esta prática exige que o iniciado tenha já algum desenvolvimento do princípio atmico ou espiritual e um certo alinhamento, ainda que mínimo, com a mónada. Este é um dos yogas mais perigosos, e que provoca um grande fascínio nos aspirantes. Contudo, nunca é demais repetir que são a consciência, a meditação, autodisciplina, o serviço e a maturação espiritual que devem levar ao despertar dos chakras e não o contrário.
O Bhakti Yoga é o marga do devoto, o caminho do coração, a via do místico, recomendado a todos aqueles que estão polarizados no seu corpo emotivo e no chakra do plexo solar (tipo atlante). É também o método indicado para os adolescentes e jovens quando devidamente adaptado na sua linguagem e técnica. O devoto, através de cânticos, mantras, orações e cultos, dedica todo o seu amor à sua divindade tutelar, ao seu Mestre, procurando unir-se misticamente ao seu objecto de adoração. É minha opinião que este yoga deveria ser adaptado para servir o homem de hoje. Provavelmente deveria incluir-se nele o amor à natureza, o amor ao próximo e o amor às hierarquias espirituais e angélicas. Isto permitiria ao grosso da humanidade direcionar as suas energias emotivas e afectivas, que predominam na estrutura psico-espiritual da maior parte de género humano, para fins e causas superiores. A médio e longo prazo, permitiria a solução do problema ecológico (a questão ambiental é não apenas uma problemática da informação e de vontades política e económica mas, sobretudo, o resultado da falta de amor, da falta de integração do homem nos reinos naturais, da perda do sentido da sacralidade da vida e da reverência pela Terra). Daí a urgência de um yoga verde, agente integrador do homem e da natureza, de um yoga humanista, que permita a fusão do ser humano no corpo maior da humanidade; e de um yoga angélico (não quero com este conceito alimentar certas práticas tão habituais nos tempos de hoje, que mais parecem negócios com o céu) que facilite o contacto do homem com os reinos angélicos e dévicos. Importa esclarecer que não se tratariam de três yogas diferentes mas de três ramos do mesmo sistema, o yoga do amor, o bhakti marga. Os temperamentos do 6º raio (tipo devoto, dedicado e idealista) e do 2º raio (características amorosas e sábias) sentem-se profundamente tocados por este yoga. Exemplos superiores deste caminho terão sido S. Francisco de Assis, S. João Apóstolo e Ramakrishna.
O Jnana Yoga ou o marga do conhecimento, da sabedoria e da iluminação. Nele, o discípulo procura unir-se à divindade através do conhecimento espiritual. As suas disciplinas compreendem o domínio dos sentidos, o controlo da mente, o estudo e a meditação no Espírito Omnisciente (a Mente Universal), de modo a que, com a prática, o yogui atinja a iluminação, transformando o conhecimento em sabedoria. Este é o caminho adequado a todos aqueles que estejam polarizados no corpo mental e no chakra laríngeo (tipo da 5ª Raça-Raíz): os intelectuais e os estudiosos. Os discípulos do 2º, 3º e 5º (tipo científico) raios sentem-se especialmente atraídos por este sistema. Exemplos típicos e elevados deste yoga terão sido o Senhor Buda Gautama, Helena Blavatsky, Teilhard de Chardin, Alice Bailey, Pietro Ubaldi e I.K. Taimni.
O Raja. Este é o caminho real (raja). É o marga que sintetiza todos os outros – não nas práticas, mas nos resultados. A prática essencial deste caminho baseia-se na meditação. O discípulo, ao longo de oito passos, vai aprimorando o seu carácter; rectificando a sua postura; dirigindo a sua energia vital; controlando os seus sentidos, aprendendo a pensar e a meditar; e, por fim, no último estágio, mergulha no seu Eu Superior, identificando-se gradualmente com a sua essência espiritual. Recomenda-se este yoga a todos os discípulos que têm já o seu quaternário inferior (a personalidade) razoavelmente coordenados e estão polarizados no chakra frontal (tipo superior da 5ª Raça-Raíz). Os estudantes dos 5º e 1º raios sentem-se sintonizados com este método.
O Agni Yoga. Muito pouco se sabe deste percurso espiritual. Conhece-se apenas que ele será o yoga da próxima raça, a Sexta. O discípulo deste yoga tem já o seu corpo búdico e intuitivo razoavelmente desenvolvido e encontra-se polarizado no chakra cardíaco e no centro correspondente da cabeça. Este é a via dos discípulos avançados e dos iniciados. Muito sinteticamente, poder-se-á dizer que ele é o caminho da vida, da síntese espiritual, do fogo, da intuição e do sacrifício. O 2º e o 4º raios regem este percurso.

Os primeiros passos

Entende-se no sistema preconizado por Pantajali, o sistematizador da Filosofia Yoga, que este caminho espiritual deva ser percorrido ao longo de oito passos, ramos, partes ou angas. Não deixa de ser curioso que, também o sistema budista de libertação ou emancipação espiritual – O Nobre Caminho Óctuplo – seja composto por oito passos, e que, os raios que governam a 5ª Raça-raiz, o actual tipo evolutivo liderante, sejam o 3º e o 5º, que somados perfazem oito. Aliás, os oito passos do yoga estão divididos em dois grupos: o yoga externo, que constitui os cinco primeiros passos, e o yoga interno, os três últimos. Coincidências?
Os primeiros dois passos, yama e niyama, consistem numa série de disciplinas ou valores de carácter moral, que perfazem o total de dez, tal como acontece nos mandamentos da tradição judaico-cristã. Os objectivos destes princípios são o de preparar o yogui para, de uma forma bem estruturada eticamente, poder enfrentar os desafios que a prática mais profunda da meditação lhe vai colocar no seu caminho. Para além disso, estes valores promovem: o desenvolvimento das correctas relações com o homem, com a natureza e com Deus; a cristificação da aura; a purificação dos chakras inferiores e dos corpos da personalidade; a elevação das forças dos centros inferiores, para os chakras superiores.

Os cinco Mandamentos

Yama«Há apenas um caminho para a senda, e só bem no seu final se pode ouvir a “A Voz do Silêncio”. A escada pela qual ascende o candidato é formada de degraus de sofrimento e de dor, que só podem ser aplacados pela voz da virtude. Ai de ti, discípulo, se restar um só vício que não tenhas deixado para trás. Pois então a escada cederá e deitar-te-á abaixo; as suas pernas estão apoiadas no profundo lodo dos teus pecados e falhas e antes que possas tentar atravessar este largo abismo de matéria, tens de lavar os teus pés nas “águas da renúncia”»[2].
Ahimsa – Inofensividade ou Não Violência. Todo o yoga se fundamenta, se enraíza no valor, no voto da Inofensividade. O yogui deverá praticar a não violência em todos os pensamentos, palavras e actos. Este é o mandamento básico do Yoga. Ahimsa baseia-se no conhecimento, que o yogui tem, da unidade essencial, da sacralidade de toda a vida e de todo o Cosmos. Para o yogui, todo o Universo é o corpo, é o organismo da divindade, de Ishvara.[3] Por isso, ele deve pôr em todos os seus gestos, em todas as suas acções, o amor que lhe vai na alma e reparti-lo por toda a criação. Amando o Criador ele ama as criaturas. Esta é a Lei máxima de todo o yoga.
Disse Gandhi: «A não violência é uma força da Ordem Superior. É a força espiritual, o poder de Deus em nós. Participamos da divindade na medida em que manifestamos a não violência».
Brahmacarya – Controlo Sexual, Criatividade Mental. Este, devido à nossa incapacidade de perceber o lado interno da vida, é talvez um dos votos mais difíceis de entender. Brahmacarya não nos pede exactamente, como tradicionalmente se afirma, que deixemos de ter actividade sexual mas que apliquemos principalmente a energia reprodutiva, em acções de criatividade mental. Quando o yogui é criativo no modo como se veste, no modo como cozinha, na maneira como fala e se expressa, na sua profissão, enfim, no modo como vive e se manifesta, a sua actividade e necessidade sexual diminuem naturalmente. A energia criativa, que até aí se expressava essencialmente ao nível da libido, ao nível sexual (chakra sacro), passa de modo gradual a expressar-se ao nível mental (centro laríngeo).
Asteya – Honestidade, não roubar. A honestidade não significa, apenas, não roubar (no sentido legal do termo); quer dizer, sobretudo, não nos apropriarmos daquilo que não nos pertence. O discípulo não afirma ter escrito, dito ou feito aquilo que não realizou; não aceita uma recompensa por ter cumprido o seu dever; não aceita privilégios que não lhe são devidos.
Deixo aqui uma afirmação de Gandhi para meditação: «Todo aquele que possui coisas de que não precisa é um ladrão».
Aparigraha – Desapego. Ausência de Desejos. Sobriedade, Simplicidade. Todos os grandes yoguis, iniciados e iluminados, foram simples. Foram simples na forma como viveram, foram simples na forma como transmitiram os seus ensinamentos (o que não quer dizer que as suas doutrinas fossem simplistas!). Foram sóbrios nas suas posses, foram sóbrios nos seus desejos pessoais. Este mandamento, aparigraha, continua o anterior. O yogui não só é honesto, como também é sóbrio. Deseja ele apenas o necessário para a sua sobrevivência e dos seus, e o estritamente indispensável para o cumprimento da sua missão.
Satya – Veracidade, Sinceridade. Também aqui deverá entender este mandamento de uma forma mais abrangente do que o simples não mentir. Satya implica a abstenção de exageros e equívocos no pensamento, palavra e acção; o yogui deverá, consequentemente, ser verdadeiro e rigoroso nestas três áreas. Ele não deve pretender ser aquilo que não é; não deve pretender fazer aquilo que não pode ou não deve realizar.

As cinco regras; Niyama

TapasAutodisciplina. Quando abordamos esta regra e meditamos nela, percebemos que tem pelo menos três níveis de interpretação. A primeira, tradicional, resume-se à prática de austeridades, tão em voga nos regimes monásticos da Idade Média no Ocidente e nos Sinyasins da Índia durante a Idade de Peixes. Vemos assim grandes figuras do Oriente e do Ocidente dedicarem-se a este tipo de práticas, que tinham como objectivo o desenvolvimento da vontade e que, porém, levavam muitas vezes ao prejuízo do corpo físico. Trata-se de um tipo de disciplina pisciana, com raízes na Lemúria, e que já não tem nenhum sentido no tipo médio do yogui actual.
O segundo nível manifesta-se como autodisciplina(s) que, normalmente, são aquelas de que gostamos menos. É nestes sectores que o yogui deve autodisciplinar-se e desenvolver a sua vontade. Passarei a dar alguns exemplos: se o yogui tem dificuldades em se levantar da cama pela manhã, deverá desenvolver a sua vontade ou, dito de outro modo, deverá assumir como tapas erguer-se da cama ao primeiro toque do despertador; de uma tarefa doméstica lhe é extremamente desagradável, como tapas deverá efectuá-la com afinco e brio, se tem uma dificuldade enorme em chegar a tempo aos seus compromissos, como tapa fará um esforço para chegar 15 minutos antes. O “truque” de tapas está na concentração ou focalização da mente na tarefa disciplinadora. Se a mente focalizada ocupar todo o espaço da nossa consciência, não daremos espaço ao nosso corpo emocional para interferir e dizer: “Que seca! Que tarefa mais maçadora” Se, pelo contrário, deixarmos a mente solta, permitiremos ao nosso “amigo” emocional interferir na actividade, protestando constantemente, até nos convencer que, de facto, a tarefa em mãos é uma “chatice” e que o melhor é adiá-la para depois. Voltamos a repetir: a chave de tapas reside na concentração da mente. Se habituarmos a mente a identificar-se com uma determinada actividade, chegará o tempo em que a tarefa, que era absolutamente “intragável”, passará a ter o seu quê de interessante.
A forma superior de tapas denomina-se vontade para ou do bem. Esta energia poderosíssima tem a sua raiz na mónada ou Eu Divino e no corpo átmico ou espiritual, seguidamente, expressa-se no lótus egóico, ao nível das pétalas do sacrifício; e finalmente ancora no duplo etérico através do chakra coronal, via corpo mental. Só um iluminado com a terceira ou mais iniciações tem a capacidade de expressar a verdadeira vontade do bem. Talvez uma das fórmulas espirituais que mais revelem o mistério desta força esteja contida numa oração que se encontra no livro "Folhas do Jardim de Morya I” e que reza assim: «Ó Senhor, dá força ao meu coração, e poder ao meu braço, porque sou Teu servo. Nos Teus raios, aprenderei a verdade eterna do Ser. Na Tua voz, escutarei a harmonia do Mundo. Entrego-Te, ó Senhor, o meu coração, sacrifica-o em favor do Mundo».[4]
Svadhyaya – Estudo. Também esta regra espiritual tem vários aspectos. Tradicionalmente, considera-se que uma das regras a observar pelo yogui consiste no estudo das obras que abordam o tema do yoga e da espiritualidade. E assim é. Se, de facto, o yogui não estudar os grandes autores e Instrutores da espiritualidade, como poderá ele querer fazer um trabalho sério nesta área? É como pretender tocar superiormente piano, sem estudar os grandes compositores; ou pintar para a posteridade, sem se embrenhar nos grandes criadores; ou querer exercer medicina, sem frequentar uma boa Universidade e estudar Anatomia, Fisiologia ou Patologia. Não obstante, há alguns aspirantes que pensam que podem praticar yoga ou tornarem-se ocultistas ou esoteristas sem meditarem nas grandes obras da espiritualidade. Dizem eles, ocamente, sem qualquer tipo de consciência do que estão a dizer, que a sabedoria tem de vir de dentro. De duas uma: ou deveras vem de dentro, e então pergunta-se “onde é que ela está?”; ou, então, se não vem de dentro, como realmente acontece, que humildemente se pegue nos livros e se estude! Não nos coloquemos em bicos de pés; só os Grandes Iniciados podem afirmar que a sabedoria lhes vem de dentro. E tal apenas é possível porque durante muitas vidas passaram muito tempo aprendendo directamente com os Mestres da Sabedoria e da Compaixão e os seus discípulos, ou investigando e reflectindo nas grandes obras da espiritualidade.
Outro aspecto de svadhyaya consiste no estudo e na análise da sabedoria e da cultura do tempo onde o yogui está inserido. O yogui é um discípulo que se está a treinar para vir a ser um Mestre da Sabedoria e da Compaixão, um Jivanmukta. Para isso, ele precisará de ter uma cultura superior, devendo conhecer com algum pormenor todas as grandes correntes de pensamento do seu tempo e da história. Como poderá ele ser um posto avançado dos Grandes Mestres e da Doutrina Sagrada, se não conseguir conversar e comunicar, pelo menos ao mesmo nível, com os grandes intelectuais e líderes do seu tempo? É por isso que todos os Iniciados e iluminados foram homens e mulheres de superior cultura. Assim aconteceu com Blavatsky, Annie Besant, Steiner, Alice Bailey, Pietro Ubaldi e tantos outros.
O terceiro aspecto tem a ver com o estudo e a meditação nos símbolos. Para o yogui, o mundo e os acontecimentos da vida são os efeitos de um mundo interior, são símbolos dos mundos superiores. Interessa-lhe sobretudo perceber as forças e as energias que estão por trás de um acontecimento – mais do que, propriamente o acontecimento em si. Ele procura diariamente penetrar, cada vez mais, no mundo das causas, nos planos dos arquétipos.
Por fim, svadhyaya também se expressa como auto-estudo, autoconhecimento, análise das motivações, impulsos, forças e energias que nos fazem mover. Esse autoconhecimento manifesta-se essencialmente pela auto-observação que realizamos no dia-a-dia, e em especial à noite, no exame de consciência.
Isvara-pranidhana – Amor Crístico. Este amor, ao contrário do desejo e do amor pessoal, não está condicionado, sendo absolutamente altruísta e fraternal. O expoente máximo deste amor na história foi o Cristo, o Avatar ou o Senhor do Amor. Na sua vida, Ele expressou de uma forma única o sentido, a grandeza e a entrega do amor espiritual.
Isvara-pranidhana não é apenas um sentimento; ele é também serviço, acção e auto-sacrifício. É serviço prestado altruisticamente à humanidade, é serviço sacrificial prestado ao planeta, é serviço manifestado incondicionalmente ao próximo, é serviço doado impessoalmente ao Plano Divino e é serviço entregue abnegadamente à Hierarquia Oculta, aos Mestres.
Sauca – Pureza. A propósito de sauca passo a citar Taimni. «Antes que sejamos capazes de compreender como podemos purificar a nossa natureza devemos clarificar as nossas ideias acerca da pureza. O que é a pureza? De acordo com a filosofia do yoga todo o Universo, visível e invisível, é uma manifestação da Vida Divina e é impregnado pela Consciência Logóica. Para o sábio iluminado ou santo, que desenvolveu a sua visão espiritual, tudo, desde o átomo até a Ishvara de Brahmanda (O Logos Cósmico ou Solar), é um veículo da Vida Divina e, por isso, puro e sagrado. Assim, em termos absolutos, nada pode ser considerado impuro… Deste modo, purificação quer dizer a eliminação de todos aqueles elementos e condições que impedem os veículos de exercer as suas funções e atingir os seus objectivos. Para o yogui, o propósito é a autorrealização através da união da sua consciência individual com a consciência do Supremo ou a realização de Kaivalya (Libertação, Unificação), tal como a apresenta os Yoga Sutras. Para o yogui, Purificação significa assim, especificamente, a transformação de veículo, de modo a que ele possa servir crescentemente como instrumento para esta unificação…
Todos os veículos inferiores de Jivatma estão constantemente a mudar e a purificação consiste na substituição gradual e sistemática do material comparativamente grosseiro por um tipo mais refinado de matéria. No caso do corpo físico, é comparativamente simples e pode ser efectuada fornecendo ao corpo a matéria adequada na forma de comida e bebida… A carne, o álcool e muitos outros acessórios da dieta moderna tornam o corpo físico completamente inútil para a vida yóguica e, se o aspirante embruteceu o seu corpo através do uso destes alimentos e bebidas, deve sujeitar-se a um período prolongado de uma dieta cuidadosa, para se ver livre do material indesejável e tornar o seu corpo suficientemente refinado.
A purificação dos veículos subtis, que servem de instrumentos para a expressão dos pensamentos e emoções, é conseguida através de um processo diferente e mais complicado. Neste caso, as tendências vibratórias (inferiores) são gradualmente modificadas pela exclusão de pensamentos e emoções indesejáveis substituindo-os constantemente e persistentemente por pensamentos e emoções de natureza superior. À medida que as tendências vibratórias destes veículos mudam, a matéria dos corpos também muda “pari passu” e, depois de algum tempo, se o esforço é continuado, os veículos estão adequadamente purificados. O teste de uma purificação real é fornecido pela tendência vibratória normal que encontramos no veículo. Fácil e naturalmente uma mente pura reflecte pensamentos puros e sente emoções puras, e torna-se difícil para ela entreter-se com pensamentos e emoções indesejáveis; tal como, do mesmo modo, para uma mente impura é difícil produzir pensamentos e emoções superiores e nobres»[5].
A purificação espiritual envolve, assim, três tipos de disciplinas: uma, material, que implica uma dieta tendencialmente vegetariana, a supressão de tóxicos (tabaco, álcool, drogas) e um contacto íntimo com os elementos[6]; outra, psíquica, envolve todo um trabalho de vigilância dos pensamentos e das emoções, de modo a que o yogui não deixe penetrar e habitar na sua mente qualquer sentimento indigno do seu “Cristo Interno”.
Samtosa – Alegria. Como já deve ter percebido, a verdadeira alegria não tem a ver com as condições que nos rodeiam: ela desenvolve-se e cresce apesar das circunstâncias e dos condicionamentos que nos envolvem. Contrariamente, a felicidade depende das circunstâncias exteriores, sobretudo da satisafação ou não dos nossos desejos. Memorize esta chave da alegria, apesar de… Alice Bailey escreveu, a propósito de samtosa, o seguinte: «O contentamento produz uma condição psíquica que promove a paz mental, é baseado no reconhecimento das leis que governam a vida e fundamentalmente na Lei do Karma. Ele produz um estado mental onde todas as condições são aceites como correctas e justas, e como aquelas nas quais o aspirante pode melhor realizar e alcançar o propósito (superior) da sua vida. Isto não implica qualquer tipo de acomodação ou submissão mas, sim, o reconhecimento das condições do momento, uma avaliação das oportunidades, de modo a que formem a fundação e a base de todo o progresso futuro»[7]
*Diácono da Igreja Católica Liberal; Coordenador da Unidade de Serviço Aquarius, inspirada predominantemente na Boa Vontade Mundial.
Bibliografia:
BAILEY, Alice – The light of the soul. Lucis Press Ltd.
BLAVATSKY, Helena – Glossário Teosófico. Ed. Ground.
CLUC – O Tempo das Multidões. Centro Lusitano de Unificação Cultural.
GOMES, João – Curso de Raja Yoga – 1º Grau. Policopiado.




[1] . GOMES, João – Yoga – O Caminho Sagrado da Vida in Biosofia, nº5, Primavera de 2000, pág. 57-59  e nº6,Verão de 2000, pág.31-34. [2] BLAVATSKY, Helena – A Voz do Silêncio. Editora Pensamento, pág.69. [3] Helena Blavatsky escreveu o seguinte no Proémio da Doutrina Secreta: «A Doutrina Secreta ensina a identidade fundamental de todas as almas com a Alma Suprema Universal, sendo esta última em aspecto da Raiz Desconhecida… Por isso dizem os hindus que o Universo é Brahman e Brahmâ; porque Brahman está em todo o átomo do Universo, sendo os seis princípios da natureza a expressão ou os aspectos vários e diferenciados do Sétimo e Uno, a Realidade única do Universo, seja (ele) cósmico ou micrcósmico…» [4] Convido os leitores, com um conhecimento mais profundo do ocultismo, a fazerem o seguinte exercício: substituam na fórmula o termo Senhor por mónada, coração por lótus egóico; braço por personalidade; raios por antahkarana; e voz por corpo búdico ou intuitivo – e uma nova luz poderá brotar sobre este assunto. [5] TAIMNI, I.K. – The Science of Yoga, Quest Book, pág. 221-224. [6] Para alguns ocidentais, poderá parecer algo radical e tipicamente oriental este tipo de visão a propósito das disciplinas de purificação. Devo dizer contudo, que estas disciplinas eram e são tão comuns quer no Oriente, quer no Ocidente. Jesus, no «Evangelho da Paz» (Texto Apócrifo do Séc.I da nossa era) apresenta o mesmo tipo de soluções. [7] BAILEY, Alice – The Light of The Soul, Lucis Press Ltd. , pág. 189.

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quarta-feira, 12 de junho de 2013

Arrefecimento mediático?

Seis anos depois de realizarmos a Conferência sobre Informação Solidária(ante)vemos alguns sinais do (sobre)aquecimento mediático.

Texto Dina Cristo pintura Lídia Pinto

A exclusão do sujeito e o tomar a parte, assim, incompleta pelo todo transformou-se numa informação distanciada, objectiva e exclusiva de que resultou a crise de imprensa, em que de tanto afastamento os leitores a abandonaram tal como a atitude dos eleitores em relação aos políticos.
Agora, para recuperar da crise, o próprio jornalismo público defende o restabelecimento da ligação, do vínculo entre (e)leitores e agenda dos media e a agenda política, com envolvimento e participação.
Tal religação é também hoje defendida no âmbito do novo paradigma da ciência, holístico (quer o reaparecimento do sujeito enquanto tal quer no próprio objecto), na ética do cuidado (com a importância pública e profissional da atenção ao outro) – também aplicada aos jornalistas – e da informação social, com tripé mais equilibrado entre os líderes, acções, fontes e perspectivas não só política e económica mas também social.
Immanuel Kant chamava a atenção para o facto de o nível racional corresponder ao cumprimento da lei moral, sendo o amor aos outros a principal moralidade, que inclui não só o cumprimento da lei (mera legalidade) mas sobretudo o espírito da lei, por mor dela, ou seja, de forma desinteressada e impessoal.
Ora a informação irracional - que responde à satisfação das inclinações pessoais e dos interesses particulares, do mundo dos sentidos e dos fenómenos – e saturada, em alta definição e resolução de hoje, sem espaço para a reflexão, corresponde, em certa medida, à noção de colonização mediática, defendida por Adorno.
O sistema mediático, que apesar de ter como origem a lifeworld, autonomizou-se dela de tal forma que desenvolveu, dentro da complexidade das sociedades modernas, a especialidade e os códigos legais – que além de reduzir a necessidade de troca, entendimento partilhado e consenso, através da comunicação – delegando neles de tal forma o seu poder que passou a penetrar e até a determinar a própria vida de todos os dias. Os vários sistemas criados pelo ser humano, entre os quais o mediático, passaram não só a influenciar o quotidiano como a dominá-lo.
Numa acepção mcluhaniana, os meios verticais, unilaterais, fechados, agressivos e uniformes, já de si quentes, estão em sobreaquecimento, intensificando o seu carácter activo, distante, controlador, quantitativo e objectivo. Contudo, como nada está em expansão permanente, além de que o ponto de não retorno da sua ampliação conduzirá ao seu contrário, à contracção, é previsível (tal como ao nível climático) o arrefecimento.
Tal processo implica, ao nível mediático, uma maior aproximação à horizontalidade, bi e multeralidade, canais mais abertos, de baixa definição e espaço para a interpretação e participação do sujeito receptor, inclusão do feed-back, da subjectividade e da qualidade – dando valor não apenas ao rigor, aos números, aos factos e object(iv)os, mas também à compaixão, ao significado, às intenções, aos princípios e valores.
A deslocação para meios mais frios, passivos, receptivos, lentos e amplos, com efeitos ao nível da moderação e equilíbrio mediático, implica, ao nível informativo, também um jornalismo mais compreensivo, compassivo, democrático, integrando a diversidade, com implicações ao nível da unificação e da verdade dos relatos, representações e interpretações.
O arrefecimento mediático, mais soft e slow, verifica-se ao nível do maior envolvimento, quer do sujeito emissor, mais comprometido, quer do receptor, mais implicado na agency social. Tal significa menos informação e mais útil – capaz de se traduzir numa (mudança de) atitude efectiva.
Os media e a informação que produzem, neste âmbito, torna-se mais humilde, tolerante, diferente e sintética, com poder não ao nível do controlo informativo mas do desenvolvimento da comunicação. Enquanto se mantiverem ao nível de meios técnicos, extensões criadas pela humanidade, esta conserva-se enquanto fim, assegurando a sua dignidade e evitando que, em circunstância alguma, os humanos se tornem um meio sendo a técnica pervertida num fim em si mesma – a Humanidade como extensão tecnológica.
Esta moderação dos media traduz-se numa descolonização do sistema mediático: meios menos hierárquicos, ruidosos, analíticos, de alta definição também conceptual e resolução cultural, o que significa, segundo a escola crítica, menos dominadores e manipuladores. Diminuir a definição implica menos controlo na limitação do todo na parte (codificada) e uma alta informação, preservando a dialéctica, o conflito enriquecedor entre as partes, deixadas em aberto pelos criadores para que o receptor as possa recriar.
A valorização nomeadamente da rádio comunitária - indício de um maior equilíbrio entre a via pública, massiva, mais colectiva, e a via privada, de elite, mais individual, sinal não apenas de uma fase grupal, mais moderada, portanto, mas igualmente de uma efectiva religação, participação e envolvimento, tal como é pretendido pelos defensores do jornalismo público – é um reflexo da descolonização mediática.
Quando as preocupações dos cidadãos são relatadas, debatidas e procuradas soluções, como no caso do jornalismo social – onde o cuidado colocado nas várias relações e tarefas durante o processo de produção informativa, como as fontes e a linguagem usada – o público mostra interesse, interage, toma parte e envolve-se, num espaço auditivo apropriado, nem demasiado próximo nem excessivamente distante.
A acção concreta dos agentes mediáticos no âmbito social está a contribuir para a transformação do sistema, em algo mais harmonioso, contemplando não apenas a acção rápida, automática e interessada de qualquer dos seus agentes, mas atendendo igualmente à recepção, com mais baixa frequência e melhor processamento da informação, mais profundamente entendida e desinteressada – assente no princípio do bem comum, da comunicação e da comunidade – numa consciência e identidade já não líquida mas gasosa correspondente ao estágio pós-convencional de Kohlberg, indicativo de um círculo de cuidado e atenção de carácter universal.
É notória a tentativa actual para colocar o social no seio de grande parte do discurso e preocupações públicas, desde a teoria e pesquisa social até à comunicação social, passando pela semiótica social, função social, estrutura social, construção social da realidade, instituição social, relação social, agente social, estado social, segurança social, solidariedade social, justiça social ou, entre outras ainda, desenvolvimento social. Ao nível dos media, Ignatio Ramonet aponta a dimensão do quinto poder e Alicia Cytrynblum da informação social.
O decreto InterMirifica começa a produzir os seus efeitos, para além dos media sociais, nas redes sociais ou no jornalismo participativo - onde sob o argumento da interacçção e intervenção do receptor, se atinge a sua colaboração voluntária e graciosa na produção e reprodução de acontecimentos, transformando-o, na prática, em distribuidor gratuito de notícias, sendo explorado, muitas vezes sem tal consciência, dada o carácter sedutor, imediato e de aparente facilidade – numa real interdependência, integrando e ultrapassando a dicotomia entre a dependência, solidária e colectiva, e a independência, livre e individual.
Há, pois, sinais de arrefecimento mediático concretizando a designação “Meios de Comunicação Social” e de fortalecimento do meio sonoro, constantemente presente no audiovisual – omnipresente, subtil e invisivelmente, o que é fonte de poder e veículo de retribalização, à escala global, promovida pela actual digitalização que, por sinal, deixa mais espaço de transmissão disponível, capacitando-a para receber novos e diversos emissores.
Assiste-se, assim, à tentativa de religar e cuidar das partes excluídas, até aqui censuradas, por uma razão parcial, degenerada, distorcida e corrompida pelos mass media e a indústria cultural, como Adorno denunciou, rebaixada à impureza, à instrumentalidade e ao utilitarismo. A expressão da subjectividade, assim recuperada, será, pois, um reflexo da regeneração da razão, como Kant defendeu, o que significa o restabelecimento da centralidade do sujeito que, no âmbito do novo paradigma científico, se aprofunda mais pela colocação da Natureza no centro da própria pessoa, já de si nuclear nas formas pós-modernas de conhecimento.
Este reaparecimento do sujeito, da razão desembrutecida, da descolonização do sistema mediático na lifeworld - após a sua saturação, ao penetrar na própria vida social, indiferenciando a vida produtiva do espaço-tempo de lazer - implica a renovação da identidade e da consciência, com consequências ao nível da agency grupal, temperada, após o desequilíbrio entre o excesso e a falta de solidariedade, ambas inibidoras da acção social, da passagem da benevolência à beneficência, próxima e concreta.
Após a separação, o distanciamento, a exclusão, a razão enfraquecida, a colonização, o aquecimento, o domínio do sistema, em várias áreas sociais, da política ao jornalismo, há indícios (d)e vontade de (re)união das partes extirpadas, como a natureza mental, interior e subjectiva, de (re)aproximação, de (re)integração no todo original, de valorização da lifeworld, da purificação da razão, com um interesse cada vez mais impessoal e transpessoal, manifestada em novas disciplinas especializadas na área social, como a Semiótica social, a Jurisdição social ou também solidária, como a Economia ou o Turismo.
Num meio quente como a rádio, estimulante de um único sentido, a audição, tipicamente tribal, das sociedades arcaicas – prévias à complexidade e especialidade moderna – há sinais de arrefecimento depois da colonização informativa, como ocorreu no Rádio Clube de Moçambique, entre 1953 e 1973, com o aumento progressivo de horas de emissão de “A Voz de Moçambique” bem como a expansão, intensificada no período de Marcello Caetano, dos Emissores Regionais - uma forma mais agradável, subtil e próxima de a fazer infiltrar nos povos autóctones.
O (sobre)aquecimento mediático, a aceleração, a expansão, a saturação e a limitação máxima de espaço e tempo à participação terá, atingido o seu nível máximo, um efeito contrário, ou seja, de desaceleração, de (s)low information, mais ‘silenciosa’ e espaçosa, por forma a permitir o envolvimento democratizado, agora à escala digital e planetária e, portanto, uma maior aproximação, (re)ligação, comunicação e unidade social livre e com base na diversidade, o que, após os períodos de forte ênfase quer no comunitarismo, na ordem e na estabilidade social, quer no individualismo, na liberdade e na mudança social, acelerará o processo de retribalização universal e de fusão grupal.

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terça-feira, 11 de junho de 2013

Elucidações


Abraçamos a entrada no nosso sexto Verão esclarecidos por alguns excertos de     livros editados pelo CLUC - Centro Lusitano de Unificação Cultural.

Selecção e fotografia Dina Cristo


«Bem-aventurados os que superam a dor e as crises por dentro e não por fora» (4)

«A real "expansão" faz-se "para dentro"» (3)


«Repudiar o mal e, não obstante, amar interiormente o seu portador» (2)

«É incomparavelmente mais importante transmitir amor, estabelecer laços de solidariedade e promover valores justos e edificantes do que ter uma profissão materialmente produtiva» (1).

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quarta-feira, 5 de junho de 2013

Algas


No Dia Mundial do Ambiente e antes do Dia Mundial dos Oceanos falamos das verduras marinhas, neste que é o melhor período para as recolher, entre o fim da Primavera e o início do Verão.

Texto Dina Cristo


Portugal tem 800 km de costa e 400 espécies diferentes de algas visíveis, com valor alimentar, nutritivo e medicinal, usadas em território nacional desde pelo menos o séc. XIV. Os mais velhos são ainda testemunhas da apanha do sargaço destinado à indústria farmacêutica. Mais actualmente as algas são estudadas, em laboratórios. Em Coimbra temos a Algoteca e existem, além da investigação, algumas publicações como o “Guia ilustrado das Macroalgas” de Leonel Pereira. Fotossintéticas, podem também ser usadas como fertilizantes ou rações, na talassoterapia ou produção do biodiesel ou em aquacultura.
Mas verduras marinhas são sobretudo uma fonte alimentar e medicinal. Possuem macrooligoelementos, como cálcio, enxofre, fósforo, magnésio, potássio, sódio, e micro-oligoelementos, tais como cobalto, cobre, ferro, iodo, manganésio, selénio, silício ou zinco. As mais conhecidas são a Agar-Agar, Dulse, Esparguete do Mar, Fucus, Musgo da Irlanda, Nori, Kombu e Wakame. Normalmente desidratam-se, umas comem-se cruas, em saladas, outras podem ser assadas, guisadas e até fritas, como condimento ou guarnição, por exemplo. Devem-se ingerir em pequenas quantidades, como um princípio homeopático, e podem ser usadas na dieta da cor, dada a sua variedade azul, vermelha, castanha ou verde.
Do ponto de vista terapêutico estes vegetais marinhos são anti-cancerígeno, anti-celulíticos, anti-coagulantes, anti-inflamatórios, anti-microbianos, anti-oxidantes, anti-sépticos, anti-tumorais e anti-virais. Entre os seus benefícios está o reforço das defesas, activação das glândulas endócrinas, manutenção do PH equilibrado, capacidade de neutralizar os radicais livres, prevenção da absorção de elementos poluentes radioactivos e formação de cálculos biliares ou redução do excesso de colesterol e triglicéridos. Há algas indicadas para, entre outras, o cabelo, as constipações, o estômago, a hipertensão, os olhos ou a tosse.

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