quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

A Era da Deusa


Trinta anos depois da publicação do livro que lhe deu origem, revemos o filme que mostra o desaparecimento da sociedade matriarcal.
Texto Dina Cristo
Com um alto poder de comunicação telepático, de leitura de pensamentos, de antevisões, de (in)visibilidade, auxiliados pela sinalética, canais de água, espadas, círculos e fogueiras, os habitantes do Lago, orientados pela lua e com práticas crematórias, colocam toda a sua vida ao serviço da preservação do culto à Grande Deusa: as mulheres tendencialmente pelo amor, os homens sobretudo pela luta.
Mas mesmo com todos os sacrifícios pessoais das sacerdotisas do conhecimento antigo, como Igraine, Morgana, ou Viviane, e dos homens ligados à ilha, como Merlim ou Lancelot, e até mesmo o nascimento planeado de Artur ou Mordred são insuficientes face à violência das invasões bárbaras e à ascensão do Cristianismo. Os sofrimentos e as renúncias não chegam e Avalon é engolida pela nova era de então, a dos sacerdotes cristãos.
Absorvida mas não completamente perdida. No final, as mulheres que sobrevivem, Igraine, Morgana e Guinevere, mantêm, no convento, o culto da Deusa: a Nossa Senhora - a Virgem Maria à espera de um dia ser recuperado na sua pureza original, como refere Morgana Le Fay, uma das principais personagens e narradora da história.
Durante três horas, o realizador, Uli Edel, mostra a importância das sacerdotisas em várias gerações e o seu papel essencial, de materialização, envolve o espectador no mistério da lenda do Rei Artur, dos Cavaleiros da Távola Redonda, da ilha sagrada, ainda hoje tema de uma canção de Bryan Ferry, fazendo lembrar a do Rei D. Sebastião, também ele escondido nas brumas da memória.

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quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Jornalismo de interesse público



Na véspera da litúrgia relativa ao patrono dos Jornalistas, S. Francisco de Sales, recuperamos o conceito de jornalismo público*, a assinalar vinte anos.

Texto e fotografia Dina Cristo
No jornalismo tradicional os profissionais controlavam todo o processo de produção de informação, desde a recolha à sua publicação. Aos receptores era dada apenas a possibilidade de reagirem, escrevendo, “a posteriori”, uma carta ao director. Perante o afastamento dos leitores e a crise de imprensa, nasceu nos EUA, em 1993, uma nova proposta de exercício do jornalismo: o jornalismo público que passa a liderar a mudança de relacionamento entre profissionais e audiência.
Com o objectivo de promover o aumento de vendas e recuperar a ligação com os leitores, o jornalismo público visa sobretudo envolvê-los nos assuntos públicos. Já que a internet havia retirado efectivamente o privilégio do fabrico do produto informativo aos profissionais, estes aceitaram oferecer aos leitores, telespectadores, ouvintes e usuários um papel na participação na elaboração dos conteúdos das notícias. Desde então o jornalismo público tem vindo a experimentar parcerias privadas na recolha e produção de notícias, embora reserve para si a publicação.
São três os seus principais objectivos. Ligar-se aos problemas das pessoas (comuns), dando-lhes a possibilidade de se expressarem sobre assuntos públicos, o que implica a noção de pertença, partilha de experiências, interacção, vínculo e espaço social, ultrapassando o lugar geográfico - a comunidade. Envolver as pessoas na contribuição para os assuntos públicos, mantendo-se informadas sobre a agenda pública e política, assumindo-se enquanto cidadãos, o que implica vontade, respeito, informação e igualdade de oportunidades de expressão - a cidadania. Debater e discutir os temas, opções, perspectivas, posições e informações em agenda, procurar soluções e decidir de forma inteligente - a deliberação.
Esta reconexão com o público tem-se concretizado sobretudo em três modelos: o jornalismo interactivo, em que o público pode participar mas apenas após a publicação, ao nível informativo, no conteúdo – através de uma leitura não linear e de uma escolha mais complexa – e ao nível comunicativo, na relação interpessoal – através do uso de correio electrónico, espaços de debate,  discussão e comentário. O jornalismo participativo em que os usuários recolhem e enviam conteúdos noticiosos, sobretudo fotografias, ao nível hiperlocal e de forma voluntária, como ocorreu no âmbito do Tsunami, em 2004. O jornalismo de cidadão em que os cidadãos realizam todo o processo produtivo, desde a recolha à publicação, passando pela produção e selecção, desde as fontes ao enquadramento noticioso. É o mais envolvente de todos, o que mais se liga às comunidades de leitores e o que melhor se tem desenvolvido. Geralmente exercido através de blogues, os primeiros a reportar, necessitam dos “media” tradicionais para exercerem a sua influencia e se tornarem (re)conhecidos, afirma Joyce Nip. São uma forma de jornalismo legítima desde que contenham entrevistas originais, reportagens e análise de acontecimentos públicos. Um dos maiores e melhores exemplos é o Indymedia, do Independent Media Center.
Mas até que ponto, questiona a autora, estes modelos de jornalismo têm contribuído para os fins do jornalismo público? No caso do jornalismo on line, por exemplo, as potencialidades, como a interactividade, não têm sido suficientemente aplicadas, pelo contrário a reprodução de produtos existentes nos media off line revelou-se frequente.
Desaproveitamento
Não bastam existir canais de comunicação com o público, caso dos endereços electrónicos, links, comentários a posts, é preciso que sejam usados, o que não se verifica em número suficiente, como no caso da falta de respostas aos @mails por parte dos profissionais. No caso dos arquivos, notícias personalizadas, sondagens e hiperligações facilitam o engajamento do público nos assuntos comunitários, contudo a sua optimização está aquém do necessário. Para o estímulo à conversação, com comunicação (a)síncrona, é imprescindível a administração e o agendamento dos assuntos para debate.
Apesar das finalidades de estreitamento da relação com o público, o jornalismo público, na prática, tem-se mostrado débil. Os blogues com mais sucesso reportam sobretudo as preocupações da elite; os dos jornalistas são os mais credíveis e confiáveis pelos “media” de mainstream que os citam e publicam e com os quais os próprios profissionais se relacionam; as hiperligações para websites oficias são menos comuns tal como é rara a oportunidade de conversação entre participantes; nos chats a tendência é convidar pessoas já conhecidas; a ligação entre as comunidades on line e off line está por fazer e a esfera pública on line, principal plataforma da prática dos modelos interactivo, participativo e de cidadão, não só também exclui como o faz de forma ainda mais extrema.
Para além das dificuldades de recursos (financeiros) e literacia (tecnológica) de vários membros das comunidades acresce o excessivo controlo administrativo, incluindo a pré-censura, e uma forma selectiva dos temas em debate insuficientemente democrática para o nível de deliberação pública pretendido.
Se a Web trouxe ferramentas inovadoras e forneceu novas oportunidades de concretização dos objectivos do jornalismo público também aumentou a complexidade das tarefas. Ainda assim, os seus princípios no âmbito do fornecimento de uma informação completa e na representação de todos os pontos de vista, na aceitação de formas diferentes de construir histórias, incluindo composições, enquadramentos e acções alternativas, com vista à compreensão dos temas, a ênfase nas possibilidades de soluções e na agenda pública, para além da estritamente política e mediática, são valiosos contributos para o desenvolvimento da actividade jornalística. 
De uma audiência tradicionalmente ignorada, onde apenas eram ouvidas as fontes especializadas ou governamentais, esta passou a integrar o próprio processo de fabrico, em diferentes graus de participação e actividade. Entrámos na segunda fase do jornalismo público, com a audiência a tomar a iniciativa e a ultrapassar as acções dos próprios meios de comunicação social.
Apesar das potencialidades da Web estarem sub-aproveitadas, a verdade é que com a facilidade da auto-publicação e a popularização dos blogues, a maior parte dos profissionais acredita que o futuro da imprensa depende da interactividade com o público ao que o autor acrescenta vantagens de um trabalho em rede que beneficiaria ambos, cidadãos e profissionais.
O envolvimento das comunidades, previsto e pretendido pelo jornalismo público há duas décadas, foi superado pela própria dinâmica tecnológica e motivação do público, cada vez mais envolvido na procura, realização e discussão dos assuntos comunitários. O objectivo de ir para além da mera informação, os dados, e atingir a comunicação, a relação com os receptores, foi promovido pelas próprias circunstâncias e condições técnicas.
Contudo, ainda assim, de uma forma geral, é o profissional que exerce o “gatekeeping”, é ele que tem o poder de escolher, editar e publicar os conteúdos informativos. Talvez esta resistência a perder o controlo do monopólio da (definição da) informação explique a actual controvérsia e enfraquecimento do jornalismo público, com a anterior directora do Pew Center for Civic Journalism, Jan Schaffer, a fundar projectos no âmbito da cidadania.

* Seguimos o artigo de NIP, Joyce – Exploring the second phase of public journalism in Journalism Studies, vol.7, nº2, 2006, pág.212-236.

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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

A Comunicação Oculta III



Neste terceiro artigo apresentamos um vislumbre da Antropologia Arcaica.

Texto e desenho Dina Cristo

Do ponto de vista da Ciência Antiga, o devir humano tem-se processado ao longo de éons por dezenas e dezenas de milhões de anos. Primeiro como raça Polar, numa Era Primordial e Primitiva, em que se desenvolveu a audição e em que a reprodução se efectuava por cissiparidade - divisão celular em duas partes sensivelmente iguais. Nessa altura, há cerca de 320 milhões de anos, a Humanidade vivia na Ilha Branca e era luz astral, invisível, portanto.
Na segunda raça, a Hiperbórea, na Era Primária, os Humanos viviam na zona do actual pólo norte e Gronelândia, onde desenvolveram o tacto. Com um corpo de carácter vital, sem ossos, mas com vários braços, reproduziam-se por esporulação, através dos esporos. Foi há cerca de 150 milhões de anos.
Há cerca de 45 milhões de anos, na Era Secundária, surge a terceira raça, a Lemuriana, andrógina e azulada. Sensivelmente a meio deste período de desenvolvimento, a Humanidade, em involução e queda na matéria, densifica-se – torna-se de barro. São os lendários Ciclopes, ovíparos, que se reproduziam através de ovos, gigantes (como os seres coevos) com um olho, na testa, depois três[1] (triopis), e que viviam na Pangeia (a Terra inteira), nos actuais oceanos e Austrália, onde desenvolveram a visão.
Na mesma altura, há cerca de 23 milhões de anos, quando se dá a divisão sexual, entre homem e mulher, estes recebem o fogo de Prometeu, o princípio mental, a árvore do conhecimento, a Luz, representada pelo Arcanjo S. Miguel, que lhes permitirá, doravante, estabelecer a ligação entre o quaternário inferior e a Tríade Superior e, assim, tornarem-se aptos a escolher entre o bem e o mal.
Os Lemurianos correspondem a uma época de expressão dourada, através da comunicação por telepatia, que mantiveram por muito tempo e será com eles que surgirá também a manifestação sonora. Falam[2] inicialmente uma espécie de canto que dará origem à língua monossilábica em que os étimos são construídos com base numa consoante a que é acrescentada uma vogal[3], a emanação do poder septuado do verbo, a alma do som. Embora haja duas ocultas[4], há sete vogais, presentes aliás sobre a cabeça da serpente redentora dos gnósticos, Muladhara.
Os próximos estados de desenvolvimento humano são marcados pela elocução de diversas sílabas. É o caso de TAU na quarta raça, Atlante, a primeira totalmente física e objectiva, onde a linguagem se tornou aglutinante, casos do chinês ou japonês, em que os radicais se aglomeram, sem se fundirem completamente, para formarem termos compostos, que exprimem diferentes relações.
Os Atlantes, de cor amarela e vermelha, apareceram há cerca de nove milhões de anos, na Era Terciária, na Atlântida. Tinham cerca de um metro e sessenta ou setenta centímetros (diferentes dos Lemurianos, com cerca de oito metros e meio), desenvolveram o gosto e desdobraram-se em sete sub-raças: Ramohal, Tlavatli, Tolteca, Turariana, Semita original, Acadiana e Mongólica. Centrados no plano emocional (pensavam com o estômago) foram destruídos pela água, no dilúvio de Noé. 

Destino Humano

A quinta raça, Ariana, branca e morena, Indo-europeia, surgiu no actual Deserto de Gobi há cerca de um milhão e 50 mil anos, na Era Quaternária. O sânscrito, síntese do conhecimento da raça anterior, é a sua língua flexiva original, da qual derivaram todas as antigas, como o grego, hebraico e latim, e (quase) todas as línguas modernas. O AUM, símbolo da Trindade na Unidade (Criação, Preservação e Conclusão), que deu origem ao OM, é a sua nota-chave, o som contínuo e sustentador do Universo.
Esta presente raça desenvolveu, até agora, a sub-raça Hindu, Árabe, Iraniana, Céltica e a Teutónica (actual). A próxima sexta-sub-raça, a Americana, matriz da próxima sexta-raça-raiz, manifestar-se-á daqui a cerca de sete mil anos, de acordo com Humberto Álvares da Costa, teósofo português. Focados no plano mental inferior, os Arianos, serão dissolvidos pelo fogo, através do vulcanismo, dentro de cerca de 427 mil anos, após o surgimento da sétima-sub-raça. 
A sua sabedoria será sintetizada pelo SUM, o som da próxima raça, cinzenta, ancorada no plano Mental Superior[5]. Esta ampliará a união com o quaternário inferior e aprofundará, pela activação do antakharana, o sexto sentido, a Intuição. Este “Homo Pan/Holo Sapiens”, facilitado pelo vegetarianismo, recuperará a Memória e, em ascensão, falará em uníssono: «Quando o tempo da madurez e da colheita surge, o Homem saberá entender todas as vozes (“linguagens”) do Universo e nenhuma encerrará segredos para ele»[6].

Quer a evolução (condensação física) quer a involução (subtilização metafísica) do SerHumano se tem processado numa matriz septenária na qual se encontra, relembramos, na quinta sub-raça, a Teuto-Anglo-Saxónica, da quinta raça-raiz, a Ariana, no âmbito do quarto período global, ou globo terrestre, na respectiva quarta ronda da quarta cadeia do primeiro esquema de um entre milhões de outros sistemas solares.

[1] Um dos quais na actual moleirinha. [2] «A linguagem pertence à ontologia humana, define o que é ser humano (…) Se o homem não falasse (…) não era homem»[2], escreveu Humberto Álvares da Costa. [3] Ainda hoje, a unidade fundamental, para os fonéticos indianos, é a sílaba e não a letra. [4] As cinco expressas estão em correlação com os cinco sentidos desenvolvidos. [5] Cuja ligação foi estabelecida no Cretáceo. [6] GOVERNO, Isabel Nunes – O voo de Phrixus – Montado no Carneiro de Ouro in Biosofia, 2003, nº17, pág. 40.

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quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Ser rico


Num momento de insuficiência económica, lembramos as palavras de Neale Donald Walsch sobre como (re)criar prosperidade.
Texto Dina Cristo
Noventa por cento dos recursos estão nas mãos de dez por cento das pessoas. Se fossem partilhados, seriam suficientes. Por isso, o autor das "Conversas com Deus" propõe a criação de um fundo geral para os mais necessitados, através da contribuição voluntária de dez por cento dos rendimentos. O dinheiro faz parte de Deus e é ele que permite que as coisas aconteçam, através de cada um, lembra.
Contudo, a abundância não está em ter bens ou pessoas; no caso da Terra, a atenção deve estar na administração em vez da sua posse. A verdadeira riqueza está ao nível do ser, pelo que todos são… ricos e sendo-o podem e devem partilhar. Neale D. Walsch aconselha a d(o)á-lo àquilo que faz sentido para cada um, a contribuir: «O dinheiro tem mais valor quando sai das vossas mãos. Porque vos dá o poder para ser, fazer e ter algo que escolheram»[1].
Assim, há que procurar primeiro o campo do “ser”. Os afazeres devem decorrer dessa atitude, que (re)criará uma vida plena e próspera, o "ter". O segredo está em valorizar os recursos internos em vez de os procurar externamente. Desta forma, se acentua a riqueza interior, característica das Pessoas Altamente Sensíveis, desvalorizando a carência ou escassez exteriores.
O conselho do autor é para ser a origem de recursos em vez do seu destinatário: «Quando vocês se imaginam como a fonte daquilo que desejam poder receber, tornam-se muito ricos»[2]. O escritor norte-americano ensina que quando se quer algo mais na vida (alegria, amor, paz), em vez de o reter ou cobiçar, pois “aquilo a que se agarram, escapa-se por entre os dedos», o melhor é emiti-lo, já que “O que damos volta para nós”[3].

[1] WALSCH, Neale Donald – Conselhos de Vida sobre a Abundância. 2003, pág.85. [2] Idem, pág. 87. [3] Idem, pág. 84.

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quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Comunicação lusófona

Aos 15 anos das emissões regulares da RTP África, abordamos a (falta de) oportunidade de desenvolvimento da comunicação digital no continente negro.
Texto Dina Cristo 

A Lusofonia, espaço não apenas geográfico, mas também linguístico, cultural, histórico, institucional e identitário, ganhou força política nos anos 80 (década de desenvolvimento tecnológico e de entrada de Portugal na então CEE) e convergência política, nos anos 90, com objectivos internos (o imaginário de um país que ultrapassa as suas fronteiras físicas) e externos, como a afirmação de Portugal.
Nos governos de Cavaco Silva foram feitas alterações estruturais, com a privatização e liberalização da Comunicação Social (investindo no seu segundo governo na missão do serviço público e na solidariedade e cooperação, particularmente ao nível técnico e de formação), estabilizadas e aperfeiçoadas no governo seguinte de António Guterres, designadamente em termos de legislação e de regulamentação.
Contudo, a iniciativa considerada mais importante foi no plano externo: a criação da RTP Internacional, no Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, em 1992, sendo emitida 24h por dia três anos depois, num esforço centrado na distribuição (através do satélite, do cabo ou via terrestre) de forma a tentar atingir os 200 milhões de falantes da língua portuguesa e estreitar os laços de afecto, acentuando o universalismo da alma lusitana.
Em 1996 realiza-se o Fórum da Comunicação - com as agências, televisões e rádios de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, S. Tomé e Príncipe e Portugal -, é formada a Aliança das Agências de Informação de Língua Portuguesa e as Televisões de Língua Portuguesa e previsto apoio à produção, distribuição e livre acesso. Durante o encontro, em Lisboa, anuncia-se a constituição da RTP África, um desdobramento da RTP Internacional, com a promessa de participação dos povos. Após alguns dias constitui-se a pluricontinental Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, com base na amizade, na cooperação, na solidariedade e no intercâmbio.
Após o “Canal África”, integrado na RPT Internacional, desde 1996, nasce, em Janeiro de 1998, uma nova fonte de informação e entretenimento: a RTP África, com programação autónoma, produzida pelas estações públicas da CPLP, com descodificação nas capitais africanas e retransmissão via terrestre. Em vista está a maior aproximação aos 25 milhões de habitantes dos cinco países africanos de língua oficial portuguesa.
Trata-se da concretização da política de desenvolvimento do espaço lusófono, de contemplação da diversidade e diferença, com base na capacidade de relacionamento, de ligação e de estabelecimento das pontes entre culturas, expressão de um princípio anímico, «(…) uma espécie de família espiritual repousando na recordação de um passado comum, sobre uma parte do esquecido e sobre uma vontade de construir o futuro em conjunto»[1].
África digital?
O continente africano - que tem necessidades ao nível da alimentação, da saúde, da habitação e da electricidade, bem como problemas de pobreza, analfabetismo, iliteracia ou abertura ao debate público - tem a mais baixa taxa de penetração da internet: abaixo dos cinco por cento (apesar do rápido aumento ao longo da primeira década do séc. XXI, devido à baixa de custos).
Em contextos de construção democrática, com restrições à liberdade de expressão, imprensa ou associação, como é o caso de África, os novos “media” podem desempenhar um papel relevante com efeitos ao nível da democratização, da liberalização, do desenvolvimento e da modernização. Nesse sentido, a internet pode constituir um meio para atingir objectivos como os do milénio, proclamados pela ONU.
Este medium digital pode ser vantajoso ao nível da facilidade de uso e de acesso, de auto-produção, de participação ou de interactividade, constituindo um espaço para novos actores, conteúdos e pontos de vista e, portanto, com potencialidades ao nível da diversidade e da liberdade de expressão, de opinião e de informação, como são exemplos os websites noticiosos e os blogues.
Tendo em conta um ambiente de limitações à liberdade, Susana Salgado considera as suas potencialidades ao nível do aumento do pluralismo, da independência, de pontos de vista, de debate, de agendamento de novos temas, de crítica e de vigilância do poder político e, sobretudo, ao nível da participação política, através da facilidade, simplicidade, disponibilidade, interactividade, auto-produção e distribuição.
Contudo, os mesmos meios informativos podem ser instrumentos ao serviço do autoritarismo e os seus conteúdos dominados pelas elites. Apesar de existirem cada vez mais websites e blogues, muitos temáticos e anónimos, estes resultam de outros órgãos de informação, controlados. Por sua vez os bloggers pertencem, normalmente, à classe média e alta, têm profissões liberais e alto nível académico.
A teoria do knowledge gap, nos anos 50, defendia que cada novo medium aumentava as diferenças já existentes entre os indivíduos de menor e maior estatuto e habilitações, sendo os de maior posição sócio-económica e educativa os que tendiam a beneficiar mais rapidamente das vantagens do novo meio de comunicação: era para eles mais fácil lidar, obter e compreender a informação, acentuando as disparidades, desequilíbrios e diferenças anteriores.
Daqui resultou o conceito do digital divide, o fosso de oportunidades e de uso da tecnologia. A maior parte da população mundial não tem sequer as infra-estruturas, à electricidade ou aos equipamentos. Além disso, não basta o acesso à informação de outras regiões, também é importante a produção e partilha de informação local quando a maior parte dos conteúdos são produzidos nos países desenvolvidos, o que significa um risco de dominação dos valores ocidentais e a redução à mera recepção por parte dos africanos.
Susana Salgado cita o perigo do consumo se sobrepor à cidadania, da liberalização dos “media” ser mais uma oportunidade de negócio bem como a fragmentação dos conteúdos, a dispersão das identidades e o desinteresse do cidadão comum face à complexidade dos pormenores das decisões políticas.
Além do mais, as disparidades em relação ao mais elementar, o acesso à tecnologia, verificam-se não só entre países, o chamado global digital divide, mas também dentro dos próprios Estados, nomeadamente ao nível de status, área geográfica ou de género. No geral, as desigualdades verificam-se não apenas ao nível dos recursos e acesso, mas igualmente no âmbito da competência, da vontade, do uso e da participação. Os indivíduos que usam os “media” digitais são, por exemplo, os que possuem meios e conhecimentos para tal.
São exemplos da ambivalência dos “media” digitais as possibilidades de ultrapassar os constrangimentos, designadamente ao nível da distribuição, porém com o perigo da concentração (a propriedade dos órgãos de comunicação social nas mãos de grupos económicos próximos do poder política, que os tem controlado, fechado ou substituído) e controlo da opinião pública por parte das elites.
Entre a posição optimista que vê a tecnologia como meio de libertação e de expressão, de participação política e de democratização, de desenvolvimento humano sustentável e a posição mais negativa, que se centra nas necessidades mais primárias, prioritárias, ainda por resolver, está uma atitude moderada, segundo a qual o papel dos “media” é variável, a de que mesmo que as novas tecnologias consigam diminuir as desigualdades, uma vez que estas são endémicas, não serão com certeza eliminadas.

[1] Yves Léonard citado SOUSA, Helena – Os media ao serviço do imaginário: uma reflexão sobre a RTP Internacional e a Lusofonia. Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade. Braga, 1999, pág. 3.
Bibliografia:
SALGADO, Susana – O digital entre os muitos “divides” de África in Media & Jornalismo, nº 18, vol.10, nº1. Primavera/Verão 2011, pág.100-111.
SOUSA, Helena – Os media ao serviço do imaginário: uma reflexão sobre a RTP Internacional e a Lusofonia. Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade. Braga, 1999.



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quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

P(r)o(f)eta

Domingo assinalam-se 130 anos sobre o nascimento de Kahlil Gibran, escritor e pintor libanês. É com um breve excerto[1] de uma das suas obras, publicada há 90 anos, que damos as boas vindas a 2013.

Selecção Dina Cristo

«Ora eu digo-vos que a vida
É, realmente, obscuridade,
menos onde há entusiasmo:

E todo o entusiasmo é cego,
menos onde há sabedoria;

E todo o saber é vão,
menos onde há trabalho;

E todo o trabalho é vazio,
menos onde há amor».

[1] GIBRAN, Kahlil – O Profeta. Ed. Pergaminho, 2004, pág. 58.

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