quarta-feira, 14 de novembro de 2012

(In)segurança


Em plena greve geral e num momento de instabilidade, com perdas e mudanças, reavivamos as origens da insegurança e algumas formas de a ultrapassar.



Texto e fotografia Dina Cristo



A falta de apoio e de amor, em criança, provoca insegurança. Segundo dados referidos por Elaine N. Aron, cerca de 40% a 50% da população teve durante a infância uma ligação insegura, o que origina, mais tarde, relacionamentos cautelosos, evasivos, por receio de se magoar, ou então muito intensos, de ambivalência ansiosa, como no caso das Pessoas Altamente Sensíveis (PAS). Quando em pequenas, as chamam de incapazes ou imbecis, para as tornar sossegadas e obedientes, os educadores bloqueiam e assustam os mais novos.



A insegurança pode ter sido motivada por uma mãe negligente ou, pelo contrário, superprotectora, fazendo o bebé sentir-se carente ou dependente dela para o proteger do mundo, sentido como ameaçador e terrível. Esta sensação de perigo ou risco - que também pode ser provocada por um cuidador irado ou advir da memória implícita, pouco consciente, sobretudo em caso de perdas emocionais ou abusos - cria excitação que, de breve, se pode tornar duradoura e gerar uma hiperexcitação de longo prazo, como acontece com as PAS.



Ao mesmo tempo que se agarra ao seu tutor, a criança é desencorajada a explorar e a descobrir o mundo. Por falta ou excesso de cuidado, ela pode temer ser abandonada ou ter uma compulsão (ou resistência) para a intimidade, o que a pode conduzir, em adulta, a reproduzir o mesmo tipo de padrão, atraindo relacionamentos com o mesmo género de pessoas, designadamente sob promessas de amor e segurança, na procura de uma “âncora”.



A falsa segurança



Por vezes, o sentimento de insegurança é tão forte e o impulso para encontrar um porto seguro tão intenso, que conduz à procura de um abrigo imediato. A tentativa de conquistar uma segurança fácil, apressada e externamente, conduz à falsa segurança - uma exibição encenada, ostentando uma postura aparentemente segura, como forma de esconder a insegurança realmente sentida, ou a tentativa de domínio, controlo e imposição face ao outro que, assim, tenta segurar e submeter.



“A segurança de um não pode ser obtida mediante a insegurança de outro”, lembra Carlos Cardoso Aveline, escritor, jornalista, ambientalista e teósofo. A manipulação, a luta pelo poder dentro de uma relação não passa de uma forma ilusória de tentar, em vão, garantir a manutenção da “luz de presença” humana. Esta atitude conduz a relações opressivas, destrutivas e de aprisionamento (de)ge(ne)radas pelo temor da perda. É a vulnerabilidade trasvestida de força e potência, a sensação de escassez e insuficiência, catalisadora da tristeza e da desgraça.



É o medo e o desejo, que tenta agarrar, prender e possuir o outro como forma de compensar a própria insegurança. Ao tentar fixar o que por si só é dinâmico, evita a mudança, que é a essência da própria vida, que flui. Como declara a terapia Aurosoma, “a única constante da vida é a mudança”. Spencer Johnson afirma, por seu lado, que às vezes é mais seguro antecipar as alterações e procurar no “labirinto” novos “queijos” do que permanecer na zona de conforto, conhecida e familiar. A resistência às transformações pode levar a cair não só na inércia mas também a cristalizar e a desvitalizar.



A falta de segurança origina, entre outras doenças, deficiente equilíbrio, dores de cabeça, resfriamentos, problemas nos pés e na vista, nomeadamente miopia. Ultimamente, sobretudo depois do 11 de Setembro, tornou-se um pretexto para maiores e mais fortes violações dos direitos humanos e uma vigilância permanente em muitos espaços públicos e comuns, com gravações constantes ao nível do vídeo e do áudio, como nos atendimentos telefónicos das mais diversas empresas.



A via segura



Astrologicamente, o sentimento de insegurança, a qualidade reversa do centro energético básico, é representado pela Lua, numericamente o 18 - quando a sua percepção relativa ao passado poderá ser mais facilmente integrada e superada, designadamente mediante o uso da imaginação. Oportunidade para reverter a falta de suficiente cuidado, atenção, carinho e amor - vindo e vivido do exterior, habitualmente reproduzida depois pela própria pessoa insegura - em auto-conhecimento, de que advirá auto-estima e, por consequência, auto-confiança, que pode ser coadjuvada pelo floral “wild oat”, especialmente no dia, mês ou ano 17.



Mas um dos principais contributos é através da comunicação: consigo próprio, reduzindo a alienação; com os outros, a comunidade, fortalecendo a segurança social real; com a Natureza, estudando as suas leis, contemplando-a; com o Universo, designadamente pela meditação, e com a Alma, o Centro do Ser, o Céu no Plano Causal. Em reintegração interior e religação exterior, o indivíduo sente-se, então, mais apoiado. A protecção advém do contacto, da relação, do serviço e não da separatividade, isolamento ou exploração.



Através da aceitação e vivência da insegurança, atravessando-a, esta poderá ser sacrificada e ultrapassada, atingindo-se a verdadeira segurança. A instabilidade, à superfície, a mudança, o desconforto, são parte do caminho em direcção à vera estabilidade (simbolicamente no topo da montanha ou no mais fundo dos mares), permanência e conforto, à confiança na própria vida, na Graça que providencia a cada momento o que é necessário, útil e adequado, independentemente de parecer um ganho ou uma perda, e despoletar, no imediato, alegria ou tristeza.



A segurança real



Até aos nossos dias, a aparente segurança foi colocada na acumulação de dinheiro ou no sistema bancário, cuja confiança cega permitiu a emissão de moeda fiduciária sem corresponder às reservas de ouro. O sucesso da falsa segurança (na obtenção de bens, na posse de pessoas ou na aquisição de posições) levou, em alguns casos, à arrogância e a deixar de prestar atenção ao que se passa(va) à volta, como se refere no livro “Quem mexeu no meu queijo?”. O foco foi colocado na periferia, nas expectativas alheias, estimuladas pelos modelos mediáticos, disfuncionais, mantendo a segurança enganosa e incitando o medo desnecessário, numa cultura em perseguição da segurança (alimentar, digital, pública, rodoviária, sexual, social, etc.).



Na religação à Fonte Natural e íntima, a ecologia, e nos laços entre as criaturas, a solidariedade, reside a verdadeira segurança e apoio, origem de (auto)conhecimento, (auto)estima e (auto)confiança e, portanto, verdade, amor e coragem, em abundância e liberdade. No respeito pelas Leis, que protegem, em vez da transgressão que vulnerabiliza, na transparência, em vez da mentira, da força de vontade em vez da fragilidade do desejo, o verdadeiro refúgio fomentador de alegria, conforto e cura, descanso, ordem e tranquilidade – a estrutura realmente estável, sem precisar de perdas, bloqueios ou lamentações.



Este verdadeiro abrigo, que não pode ser fornecido pelos seguros, o amor, o discernimento e a verdade, em relação a si próprio e aos outros, providencia a confiança necessária para enfrentar, sem medo, novas experiências, com energia própria, dispensando de a exigir ou extorquir aos outros e, efectivamente, satisfazendo aquela que é uma das necessidades humanas essenciais, a segurança, material, emocional ou mental, encontrada a um nível interior e profundo, ao mesmo tempo, global e elevado.



Desta forma, independentemente de se ter tido cuidadores agressivos, desmazeladas ou excessivos, e sem recorrer à ocultação, disfarce ou contrapartida da insegurança sentida, mantendo o medo e a carência, o caminho é enfrentá-la e transmutá-la, passando da separatividade individualista ao restabelecimento de relações conscientes com a identidade essencial e central de si próprio, dos outros e do universo - fonte de luz e calor e, portanto, da solidez, firmeza e audácia autênticas, com suficiente vontade e poder benéfico para desvendar o mundo, sem aprisionamentos e sofrimentos desnecessários.

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