quarta-feira, 25 de maio de 2011

O Comércio do Porto


Fonte: http://coleccionar-collectus.blogspot.com/


Na próxima semana faz 155 anos que foi fundado um dos primeiros jornais industriais em Portugal. Nasceu na cidade invicta. Uma viragem na imprensa que passa a valorizar a economia em detrimento da política.


Texto Carla Moura

Em 2 de Junho de 1854 apareceu ao público um novo periódico na cidade do Porto. Primeiramente chamava-se «O Commercio» mas um ano depois do seu início, o seu nome foi alterado para «O Comércio do Porto», de modo a prender a estima dos habitantes da cidade do Porto.
Por esse tempo, publicavam-se no Porto dez jornais, entre os quais o «Jornal do Povo» (1848) e «O Nacional» (1846). No entanto, salvo algumas excepções, como é o caso do «Periódico dos Pobres» (1834) que se publicou durante 24 anos, todos estes jornais tiveram uma curta duração.
Inicialmente «O Commercio» publicava-se três vezes por semana: às Segundas, Quartas e Sextas-Feiras. Mas como este jornal tinha uma extraordinária aceitação por parte do público, a 2 de Janeiro de 1855 o jornal passa a sair diariamente devido ao êxito inesperado que teve, e até algumas personalidades dessa época, como Ramalho anotava nas suas «Farpas» o seguinte: «foi neste momento que na Ferraria de Baixo veio à luz o primeiro jornal sério da cidade, o grave, o conspícuo, o sacerdotal “O Comércio do Porto”».
Todavia «O Comércio do Porto» apesar de ter passado por muitas dificuldades sempre manteve os princípios dos seus fundadores, Manuel de Sousa Carqueja e Henrique Carlos de Miranda, que quiseram formar uma publicação que apoiasse o Comércio, a Indústria e a Agricultura.
Visto que o jornal surgiu num tempo em que as «gazetas» eram, na sua maioria, “as alavancas do poder ou os basiliscos que o derrubavam”. No «Comércio do Porto” naturalmente a política teria de ser tratada, no entanto, sem relevo de maior, ou seja, sem expressar uma posição crítica determinada.
O que os seus fundadores pretendiam era que o «Comércio do Porto» lhes falasse sobre o que diariamente os “afligia”: «as quebras da praça, a subida ou descida do ágio, os vapores que chegavam ou partiam para toda a parte onde se mercadejava e, sobre tudo o mais, a palavra lisa, correcta e despolitizada (..)».
Um jornal, como Alberto Bessa disse, no seu livro «Esboço histórico da origem do jornalismo até aos nossos dias»: «(…) próspero e com o mesmo progresso de austeridade e independência que se traçou, O Comércio do Porto (…) pode ufanar-se e ter correspondido, pontual e admiravelmente, à missão que se impôs com uma largueza de vistas, e imparcialidade de crítica, que desde muito cedo lhe conquistaram um lugar no primeiro plano do jornalismo português».
É admirável ver um jornal que apesar de ter atravessado várias convulsões políticas e sociais, que abalaram profundamente as estruturas da nação portuguesa, conseguiu manter-se no panorama jornalístico com os mesmos ideais que sustentavam, desde a sua fundação – verdade, correcção e independência – mesmo que tivessem de sofrer algumas represálias, devido ao seu não acatamento do fácil e do acomodante.

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sábado, 21 de maio de 2011

Rádiotelefonia de sessenta I



Festejamos o Dia Mundial da Comunicação com a publicação da segunda parte de um ensaio, escrito há 14 anos, sobre a telefonia portuguesa. Depois da primeira parte, introdutória, sobre 1961, eis o retrato radiofónico de toda a década de sessenta.

Texto Dina Cristo

Enfrentando um novo e poderoso concorrente, a televisão, para onde se começou a canalizar parte da publicidade, a produção radiofónica ressentiu-se primeiro, renovando-se, depois.
Durante o decénio 1958-1968, transmitiu alguns dos programas de grande êxito vindos dos anos anteriores, como os folhetins radiofónicos, os programas de discos pedidos, os serões para trabalhadores, o humor dos Parodiantes de Lisboa, os relatos de futebol, as transmissões de fados e guitarradas, e a rádio comercial, estrategicamente baseada nos lucros publicitários.
A rádio absorveu o passado e inovou. As novas condições técnicas, como o desenvolvimento da Frequência Modulada (FM), do rádio portátil, do auto-rádio, da estereofonia, criaram condições para a sua modernização. Alterou-se o conteúdo, a forma e captaram-se novos ouvintes. Apareceram os primeiros indícios de uma nova forma de fazer rádio, mais jovem, mais dinâmica e mais arejada.
A pouco e pouco, a rádio deixou cada vez menos de falar, substituindo os diálogos entre os locutores pela música gravada em disco. Por sinal, maioritariamente de artistas internacionais. A rádio abriu a porta à música pop, à audiência juvenil, e deixou-se entrar pela noite dentro. Dali em diante, a rádio e a madrugada caminharam juntas, cada vez mais acompanhadas pelo crescente interesse pela cobertura dos acontecimentos anódinos. O seu discurso, umas vezes por outra, tornou-se mais dinâmico e ritmado.
Rádio ganha vida
Alguns noticiaristas destacaram-se. Luís Filipe Costa, no programa “Meia-Noite”, no RCP, inaugurou o jornalismo radiofónico. Num apontamento de “Radiocrítica”, Jorge Guerra, fazendo uma análise geral dos serviços de informação das principais estações, anotou: «Nos noticiários são francamente animadores os sintomas de uma maior síntese e tratamento das notícias. Começa-se a pensar em termos radiofónicos quando se redige uma notícia recebida por telex das agências noticiosas, o que não deixa de ser consolador nos tempos que correm»(1).
Mais adequados à linguagem radiofónica, e em maior número – em 1966, a EN, Lisboa 1, disponibilizava diariamente 11 serviços noticiosos, e o RCP, emissor da Parede, 17 (2) – a cobertura informativa ganhou terreno nos próprios programas, como o “Diário do Ar” ou o “PBX”.
Durante este período, passaram pela presidência da Direcção da EN António D´Eça de Queiroz (até 1959), Jaime Ferreira (até 1963) e Sollari Allegro (até 1969). Em 1968, «Há muito menos entraves ao trabalho dos jornalistas na nossa estação oficial do que noutros emissores particulares, nomeadamente no Rádio Clube Português, onde todas as declarações de funcionários e colaboradores têm de ser submetidas a aprovação superior da empresa. A Emissora Nacional, ao contrário, tem confiança nos seus funcionários e deixa-os falar sem peias nem medos»(3), escrevia o repórter da “Rádio & Televisão” (R&T).
Não admirava, já que a maior parte dos funcionários da EN vinham de concursos da Secretariado Nacional da Informação. Por outro lado, nas emissoras particulares, em especial no RCP, verificou-se, no final dos anos 60, uma dança de cadeiras em vários programas, diversas demissões, despedimentos e algumas denúncias. «São as limitações da própria estação. Por lá mesmo que se pretenda fazer qualquer coisa, digamos, arejada ou mais ou menos diferente, não se consegue. Por lá só é possível, actualmente, fazer rádio, “com visto”»(4), denunciava Manuel Seleiro à R&T.
Ao longo da década de 60 o país desenvolveu as suas infra-estruturas radiofónicas. Assim, as 57 estações emissoras existentes em 1968 passaram para 67 um ano depois (em 1969) atingindo as 73, já em 1970. Quanto aos 62 emissores que existiam em 1961 (representando uma potência total de 1732 kw), aumentaram para os 106, em 1968, alcançaram os 142, em 1969, chegando a 1970 com 151 postos emissores. A duração mensal das emissões estatais (com apenas uma estação emissora, a EN) era de 366 horas, em 1968, e de 380, um ano mais tarde, em 1969.
Ao longo dos anos, o número de receptores licenciados também evolui. De 848 mil registados em 1961 (equivalente a 95 por mil habitantes) existiam, sete anos mais tarde, em 1968, 1397 mi aparelhos (147 por mil habitantes) alcançando os 1405,6 mil em 1969, embora descesse algumas décimas, em 1970, para 1405,1 mil (163 por mil habitantes).
Quanto ao preço de um aparelho de rádio, um modelo “Fidélio” (para todas as ondas e FM, em caixa de madeira) atingia, em 1960, 2.950$00. Em 1965, um modelo “Parati” (portátil a pilhas, com ondas curtas, médias, longas e marítimas) custava 1.690$00.

*(1) Rádio & Televisão (R&T) 21/12/1968, pág.15. (2) Idem, 21/05/1966, pág.10. (3) Idem, 20/07/1968, pág. 4. (4) Idem, 4/3/1967, pág.41.

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quarta-feira, 18 de maio de 2011

Santo ofício?

A Inquisição foi instituída em Portugal faz, Segunda-Feira, 475 anos. Oportunidade para revermos um pouco da sua história a ver se aprendemos a lição.

Texto Sara Coimbra

O flagelo da Inquisição proliferou-se por mais de dois séculos e, os arquivos deste terrível tribunal ainda existem quase intactos (perto de quarenta mil processos restam (ainda) para darem testemunho de cenas medonhas, de inúmeras atrocidades, de longas agonias).
Durante os primeiros doze séculos da Igreja foi aos bispos que (exclusivamente) pertenceu vigiar pela “pureza” das doutrinas religiosas dos fiéis (ninguém podia interceder nesta parte do ofício pastoral).
Um tribunal especial incumbido em descobrir e condenar as here-sias, nos séculos primitivos, seria “uma instituição intolerável e moralmente impossível”(1). Todavia, surgiu durante o século XIII, no seio do catolicismo, um tribunal, mais conhecido por Santo Ofício ou Inquisição, que espalhou o terror e cobriu de luto quase todos os países da Europa Meridional (atravessando os mares, oprimindo regiões do Oriente e da América). Criada de repente, esta organização nasceu fraca e desenvolveu-se gradual e lentamente.
Já mesmo antes do século XIII, as comissões denominadas sínodos, constituíam nos distintos distritos de cada diocese, uma espécie de tribunais dependentes do bispo, com a finalidade de proceder contra os hereges.
Após a queda do Império Romano e até aos finais do século XI, as heresias foram raras e nesses casos, a Igreja “cingiu-se” aos castigos espirituais (muitas vezes os castigos eram pagos por delitos civis.) Contudo, em 1179, no Terceiro Concílio Geral de Latrão determinaram-se severas providências contra as heresias, que pela violência dos seus sectários, tornaram-se mais perigosas.
Após cinco anos desse mesmo Concílio, Lúcio III promulga uma constituição que, segundo vários autores, é a origem e gérmen da Inquisição. Nessa constituição já apareciam designações de suspeitos, penitentes e convencidos, referindo os diferentes graus de culpabilidade religiosa, com as várias sanções penais.

As perseguições

Porém, foi verdadeiramente no século XIII que começou a aparecer a Inquisição (como entidade) e até certo ponto independente (como instituição alheia à diocese). A função dos “inquisidores da fé” era o de descobrir os albigenses, “nome com que se designavam, sem suficiente distinção, todas as seitas que naquelas províncias se afastavam mais ou menos da doutrina católica” (2), e nesse campo, o trabalho não era grande, em combatê-los pela palavra e inflamar o povo contra eles. De certo modo, a acção dos inquisidores vinha a ser moral e indirectos os resultados materiais dela.
O ano de 1229 é a verdadeira data do estabelecimento da Inquisição. Os albigenses (hereges) tinham sido esmagados e a combate fora longo e violento para deverem contar com o extermínio. No mesmo ano, Luís IX promulgou um decreto que ordenava o suplício imediato dos hereges sentenciados, e se condenavam as penas de confisco e “infâmia contra os seus fautores e protectores (3).” (A legislação que já dominava a Alemanha e uma parte da Itália, prolongava-se agora a França.)
Ao longo dos tempos, com a publicação de determinadas bulas e de diplomas pontifícios relativos aos precedentes factos, sentia-se que a Inquisição (como instituição distinta), tendia rapidamente a constituir-se.
Em 1245, celebrou-se um concílio provincial em Béziers (França), no qual se redigiu, por ordem de Inocêncio IV, um regulamento sobre o modo de proceder contra os hereges. Esta escritura, que reproduz algumas normas anteriores, acrescentando-lhes outras novas, serviu de base a todos os posteriores regulamentos da Inquisição.
À medida que os tribunais do Santo Ofício se reproduziam, as reacções contra o seu cruel procedimento multiplicavam-se. Por toda a parte faziam-se insultos, que consequentemente geravam vinganças e as vinganças aumentavam a irritação, de onde resultavam novas crueldades. “A tolerância e a resignação evangélicas tinham sido completamente banidas. A Inquisição, que era forte, tinha o cadafalso e a fogueira; a heresia, que era fraca, tinha o punhal (4).”
Foi entre 1255/56 que pelas rogativas de Luís IX, o papa Alexandre IV, propagou a Inquisição em França. Por sua vez, a república de Veneza só aceitou o tribunal do Santo Ofício em 1289, com bastantes restrições e pondo-a debaixo do poder civil. (Nesta época, a Inquisição atingira o seu apogeu em França, para, declinar em pouco tempo. Já em Portugal não se mostravam indícios da eleição de um único inquisidor para exercer as funções, em parte alguma.)
Em 1376, após uma bula de Gregório XI a Agapito Colonna (bispo de Lisboa), se suspeitou de que em Portugal se tinham introduzido alguns erros de doutrina. Nesse documento, o papa incumbia o bispo de Lisboa, “visto não haver inquisidores neste país (5)”, de eleger um franciscano, dotado dos requisitos necessários para inquisidor, de modo a apurar a existência das heresias e discretamente as perseguisse e extinguisse. (Frei Martim Vasques foi o eleito.)
No século XIV, a Inquisição era nula em Portugal, mas no resto da Península Ibérica não se sucedia o mesmo: os autos-de-fé eram constantes e efectuados em curtos intervalos. (Em 1479, Fernando V funda a (moderna) Inquisição espanhola O primeiro código inquisitorial em Espanha é promulgado em Outubro de 1484.) Desde modo, o tribunal do Santo Ofício era um meio de aniquilamento, como outro qualquer que se aplicava na época. “As suas sentenças de morte não eram, não podiam ser, na maior parte dos casos, senão assassínios jurídicos” (6).
A 31 de Março de 1492 é publicada uma lei em Espanha para que todos os judeus não convertidos saíssem do país até 31 de Julho desse mesmo ano, sob pena de morte e apreensão para os que desobedecessem. O terror fazia com que abandonassem Espanha e uns embarcam para África, enquanto outros obtiveram licença para entrar em Portugal (pela extensão da fronteira e facilidade do trânsito).
Por sua vez, a partir do último quartel do século XV, os hebreus portugueses eram regidos por um direito público e por um direito civil especiais. As leis que os protegiam eram a expressão de ampla tolerância. Tinham a liberdade de seguirem a sua religião e de usarem os ritos dela na sinagoga. Porém, não podiam ter criadas ou criados cristãos; eram obrigados a trazer nas roupas uma estrela vermelha de seis pontas cosida e eram-lhes vedado o uso de armas. Muitos dos judeus que se refugiaram em Portugal, achariam socorro numa poderosa população, a quem o poder público concedia (ainda), apesar dos ódios gerais, protecção religiosa e civil.

Papel manuelino

Em 1495, D.Manuel sobe ao trono, após a morte de D.João II e um dos seus primeiros actos foi dar liberdade ao grande número de judeus que tinham sido reduzidos à condição de servos (durante bastantes meses houve confrontos entre a população e os judeus, pois muitos dos habitantes não viam com agrado a sua permanência em Portugal.)
No contrato de casamento entre D.Manuel e D.Isabel (de Castela), assinado em 1497, estipulou-se a expressão dentro de um mês dos indivíduos de raça hebreia, que estavam refugiados em Portugal. Findo esse mês, muitos judeus ainda continuavam no país e expediram-se ordens para que em todo o reino se tirassem aos judeus (que tinham preferido o desterro ao baptismo) os filhos menores de catorze anos, para que se distribuíssem por todas as cidades, entregando-os a família que os educassem na crença cristã. As principais famílias hebreias (que ainda não tinham abandonado Portugal) tinham sido convocadas pelo Governo a estarem presentes em Lisboa: foram baptizados violentamente e os homens e os mais idosos que resistiam eram arrastados pelos cabelos à pia baptismal.
D.Manuel, membro de uma família perseguida e talvez arrependido, procurou suavizar o seu erro: a 30 de Maio de 1497 redigiu um documento no qual instituía importantes providências a favor dos convertidos, nomeadamente o uso de livros hebraicos ficava permitido aos médicos convertidos. Contudo, o fanatismo e os rancores populares não paravam. Os sintomas de uma futura erupção começavam a nascer aos poucos.
Na Primavera de 1506, o tormento da peste chega a Portugal e um motim popular contra os cristãos-novos rebentará em Lisboa. Os cristãos-novos que circulavam pelas ruas desprevenidos eram mortos e arrastados, às vezes semivivos, para as fogueiras que se tinham preparado no Rossio e nas ribeiras do Tejo. As casas dos cristãos-novos eram assaltadas.”Metiam a ferro homens, mulheres e velhos: as crianças arrancam-nas dos peitos das mães e, pegando-lhes pelos pés, esmagavam-lhe o crânio nas paredes dos aposentos. Depois saqueavam tudo (7).” Marinheiros e mais de mil homens andavam obcecados pelo mal. Perante estes crimes, o monarca D.Manuel ordenou graves punições para estes assassinatos. Estas demonstrações de benevolência e de arrependimento criavam esperanças enganosas aos cristãos-novos “fazendo-lhes crer que a intolerância e os ódios brutais do povo obrigariam o poder público a protegê-los (8).” Porém, os indícios da malevolência do povo começaram a surgir de novo em tentativas isoladas.

Comentário

É lamentável descobrir determinadas atrocidades que a Igreja cometeu por toda a Europa, ao longo dos séculos. Descobri determinadas coisas que pensei que seriam impensáveis mas, não é só de coisas boas que a História é feita e, como tal, também é importante saber isso. Apesar de o tribunal do Santo Ofício já estar extinto, a sociedade de hoje comete crimes como os da Inquisição. É com os erros que aprendemos, e quiçá, daqui a uns anos o mundo pare para pensar nas barbaridades cometidas, tal como eu parei para reflectir com a leitura deste livro.
A Inquisição, a meu ver, é um conjunto actos maliciosos, com a mistura de muita hipocrisia (por parte da Igreja e do Governo) e de bastante fanatismo (por parte de determinados indivíduos da população que não aceitam a diferença, tal como a Igreja). Se um dos objectivos da Igreja é a reprodução, porque razão é que em tempos assassinava seres humanos?.

(1)HERCULANO, Alexandre - História da origem e estabelecimento da Inquisição em Portugal, pág.19. (2) Idem, pág.29. (3) Idem, pág. 32. (4) Idem, pág. 45. (5) Idem, pág. 50. (6) Idem pág. 63. (7) Idem, pág. 142/143. (8) Idem, pág. 148.

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quarta-feira, 11 de maio de 2011

Seja feita a tua vontade


Em qualquer relação a verdade e a liberdade são fundamentais. Num relacionamento amoroso ainda mais. Antes do dia da família, anotamos os conselhos para ser feliz numa ligação de alma.

Texto Dina Cristo

Em “Conselhos de vida sobre as relações pessoais”, Neale Donald Wasch explica a importância das relações (sobretudo as pessoais) já que tudo o que existe é em relação ao outro. Uma relação humana feliz é aquela que tem na sua base uma razão de alma e não um motivo personalístico de troca, para manter as pessoas na nossa vida.
Devemos, segundo o autor, afirmar o nosso Eu verdadeiro, mesmo se isso tornar a separação inevitável, pois o verdadeiro amor aceita e dá liberdade ao outro. Contudo, hoje, o casamento vem limitar e aprisionar as pessoas, diminuir a sua experiência no mundo, quando na verdade devia permitir a expansão e implementar, permitir, e impulsionar a mudança.
As palavras mágicas são “como tu desejares”, pois na verdade nada devemos tirar ao outro. Por isso, é fundamental aceitar e expressar a verdade sobre nós e sobre o outro; a cinco níveis: acerca de nós, a nós próprios; acerca da outra pessoa a nós próprios; acerca de nós a outra pessoa; acerca da outra pessoa a essa pessoa; acerca de tudo a toda a gente.
Para o autor, o objectivo da vida é o auto-conhecimento (através de outrem), a elevação da consciência colectiva e o despertar (dos outros). Defende que se ultrapasse a barreira da resistência pois só através do desconforto se vive de facto, o que significa evoluir e sentir alegria. Há que conviver sem expectativas, sem medos e sem rejeições, advoga, mas pela compreensão.

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quarta-feira, 4 de maio de 2011

Criticar ou compreender?


Numa altura crucial para Portugal, publicamos um conto sobre a liberdade de escolher o caminho. De um jovem autor português a história alerta para a responsabilidade de aumentar o que mais se estimular: o conflito ou a elevação.

Texto Elton Rodrigues Malta fotografia Dina Cristo

Num belo parque, onde o Sol penetrava as folhas das árvores que dançavam com o vento, a água do lago brilhava com o reflexo da magnífica luz solar, e as aves voavam com infinita liberdade, encontravam-se três amigos bem diferentes.
Hélio, contemplava e absorvia aquela beleza, fundindo-se com a magia da natureza e enriquecendo-se com aquela energia. Repousava em silêncio, contagiando ao seu redor. Era firme, constante, compreensivo, respeitador e dado.
A segunda era Gaia, sempre muito influenciável pelo que a rodeava, sem opinião firme aquando de troca de ideias. O que defendia num momento rapidamente era esquecido, bastava ser confrontada ou não ser apoiada.
Por último encontrava-se Selene. Sentada no banco em posição rígida e sentindo-se perturbada, batia continuamente o pé enquanto agarrava em ramos e os partia em mil pedaços. Apesar de pouco reflexiva, tinha tendência a defender fanaticamente a primeira opinião que expressasse. Fechada sobre si mesma, recusava-se a ver mais além, o que a tornava agressiva. Dominada pelo instinto, desejosa de controlar tudo, e aborrecida com a impossibilidade de o fazer, alternava continuamente o alvo do seu olhar, mas ainda assim qualquer alvo era incomodativo.
Após algum tempo de silenciamento externo, Selene não resistiu mais e com revolta começou a atacar os pombos que ali passeavam:
- Olhem que animais tão parvos… Não param de comer. Nem sequer guardam um pouco para se mais tarde precisarem!
Hélio manteve-se no seu reflexivo silêncio, enquanto Gaia concordou e ainda acrescentou:
- É verdade, parece que comem para passar o tempo.
Depois de ouvir isto Selene sentiu-se apoiada, e com mais confiança continuou num ataque repartido com Gaia:
- Para onde voa um vão todos atrás! Vão para onde está a comida e não fazem nenhum esforço para a conseguir...
- Pois é, e ainda roubam a comida uns aos outros!
- Como se isto não fosse suficiente, limitam-se a um campo reduzidíssimo, não vão além deste curto espaço onde se habituaram a viver...
- São comodistas! Preferem o que é garantido em vez do esforço de crescer e arriscar.
- No fundo eles nem escolhem o seu caminho individualmente…
- Mas depois acabam por ser ainda mais individualistas! Não achas Hélio?
Hélio concorda, e em tom brando e assertivo responde calmamente:
- Sim, isso é um facto. Funcionam cada um por si, guerreiam para chegar primeiro e o que se safa vai logo embora...
Então Selene e Gaia, entusiasmadas, intensificaram o ataque:
- Já viram que quando eles querem acasalar andam às voltas sobre si mesmos para impressionar?
- Sim é verdade… e ainda por cima estão constantemente a fugir, azulam até de quem lhes dá alimento. Vivem completamente amedrontados... Mais rápido se acobardam do que enfrentam o perigo!
- Então e já repararam que não aproveitam a sua leveza, e optam por caminhar de forma mais pesada, sobre as suas finas patas, esforçando-as excessivamente?
- Sem dúvida, movem-se muito mais lentamente do que aquilo que conseguem, e preferem estar aqui a andar enquanto podem voar livremente.
E é quando Selene e Gaia, em coro, rematam:
- Ainda por cima estão sempre a fazer porcaria.
Após este ataque, Selene silenciou a voz, enquanto, sentindo-se tão superior àqueles animais, pensava que nem deviam partilhar o mesmo espaço. Foi durante esta pausa que anunciava o fim do ataque, que Hélio quebrou o seu profundo silêncio.
- Estive a ouvir-vos atentamente, e reflectindo sobre as vossas palavras concordo com tudo o que disseram. Mas vocês já repararam que estavam a falar de nós? Tudo o que disseram encaixa perfeitamente no Homem...
Indignada, Selene responde:
- Achas mesmo? Os pombos nem merecem estar no mesmo espaço que nós. Eles são inúteis, além de não construirem nada que nos seja benéfico ainda conseguem destruir o que está à sua volta. Ainda por cima sujam tudo, não respeitam o espaço do Homem.
- Exacto, continuas a dar-me razão. Só quando deixarmos de ter essas características que lhes apontaram é que eles deixarão de nos incomodar. Indo um pouco mais longe, só aí é que nós deixaremos de os incomodar a eles. Só teremos paz quando passarmos a viver presentes na nossa vida. Se criticamos nos outros, é porque nos sentimos incomodados, e isso só acontece porque também temos essas mesmas características, eles apenas nos mostram o que somos.
Hélio entra novamente no seu característico silêncio meditativo durante cerca de sete segundos e retoma o seu raciocínio:
- Só aí chegaremos ao seu nível, ou seja, não teremos este fel. Lutando para vencer estes defeitos mais básicos fortalecemos a força de vontade. Aí acreditaremos nas nossas capacidades e voaremos sem limite, com a possibilidade de realizar todos os nossos sonhos, porque nós somos o que acreditamos. Nós somos o que alimentamos. Tornamo-nos naquilo em que nos focamos, os nutrientes aos quais abrimos as portas psíquicas passam a integrar o nosso organismo, transformando o que somos. Aí deixaremos de viver num grupo pré-programado e cada um voará livre no seu próprio caminho. A ignorância é mãe da incompreensão e avó da revolta, e desta última nasce a frustração. A ignorância é a única prisão. Da liberdade nasce a felicidade e a realização.
Nós temos os genes de Gaia, não lhe podemos ser indiferentes. Mas temos o livre arbítrio para optar por dar mais espaço aos conflitos mentais ou à compreensão do coração, à escuridão ou à luz. E o que alimentamos cresce. Mas temos de nos lembrar que podemos ver sempre mais fundo do que nos parece à primeira vista. Podemos sempre ver as coisas por nós próprios. Só precisamos de luz.

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