quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Comunicação empática



Numa altura propícia ao contacto mais genuíno, abordamos a comunicação compassiva - baseada na expressão e reconhecimento das necessidades dos interlocutores - desenvolvida e ensinada por Marshall Rosenberg há décadas. 

Texto Rogério Marques desenho Dina Cristo*

Porque há tanta desarmonia e conflito no mundo quando tantos parecem estar dispostos a contribuir para o bem-estar de outros? A verdade é que cedo na vida aprendemos a falar e a pensar de uma forma não-natural, mas que se torna habitual. Chamemos-lhe a linguagem de chacal ou chacalês.

O chacal

O chacal é um animal que se move próximo do solo, que não vê nem antecipa o futuro e que está apenas preocupado em satisfazer as suas necessidades imediatas.

A linguagem que o chacal usa é uma linguagem que vem da cabeça, classifica mentalmente tudo, incluindo pessoas, em graus de bem e mal, certo e errado, melhores e piores.

Esta linguagem provoca reacções de defesa, resistência, e contra ataque. É uma linguagem que não só faz os seus utilizadores acreditarem que podem rapidamente analisar, compreender e classificar as pessoas, como também de que podem mudar as outras pessoas. Ainda por cima, mudar as pessoas por via das exigências!

Resumidamente, o Chacal é: o uso de juízos morais, a comparação de pessoas, a negação de responsabilidades, o uso de exigências, o uso de recompensa e castigo, e a responsabilização de outrem pelos nossos sentimentos.

O Chacal surgiu há muitos milhares de anos e tem-se espalhado desde então, tendo profundas raízes políticas e filosóficas. Emergiu a partir de e suporta sociedades hierárquicas ou de dominação, sendo verdadeiramente uma mentalidade de escravo, portanto seria do interesse de reis, czares, nobres, etc que as massas fossem falantes de chacal.

Citando o criador da Comunicação Não Violenta, Marshall Rosenberg: “Quanto mais as pessoas são condicionadas a pensar em termos de juízos morais que implicam o "estar mal" ou "estar errado", mais propensas elas ficam a procurar externamente -
nomeadamente em autoridades - pela definição do que constitui certo e errado, bem e mal.”

Por tudo isto, a linguagem de Chacal pode ser considerada uma Comunicação Alienante da Vida.

Mas há uma outra possibilidade, que parece ter grande potencial para através dela fazermos com que a vida de todos seja mais maravilhosa. Vamos chamar a esta forma de comunicação de linguagem de girafa ou girafês.

A girafa

A girafa é um animal bastante diferente do chacal. Este é o animal terrestre com maior coração, vive a vida com gentilidade e força e tem a cabeça alta o suficiente para ver bem longe e tem consciência de como as suas acções no presente se repercutem no futuro.

Desde cedo nas nossas vidas somos integrados na sociedade e aprendemos a esquecer como falar à maneira da girafa, portanto gostaria de vos relembrar...

A linguagem de girafa é uma linguagem que vem do coração e serve para falarmos sobre o que se passa connosco, o que está, no momento, vivo em nós. Por outras palavras, é uma linguagem com um vocabulário rico em palavras que expressam sentimentos e necessidades, bem como uma atenção especial por falar da forma mais concreta que for possível quando estamos a criticar alguém ou até a fazer auto-críticas.

A girafa nunca julga os outros, procura dar oportunidade às pessoas de dizerem sim, e o “não” é respeitado como resposta. As girafas estão também conscientes de que não conseguem mudar os outros. O que as girafas fazem é dar-lhes oportunidades para estarem dispostos a mudar. É uma Linguagem de pedidos, sem exigências. Esses pedidos são focados no que queremos que as pessoas façam, não no que queremos que as pessoas sintam.

Enfim, a linguagem de girafa promove o nosso bem-estar e o dos outros, sem coerção ou manipulações.

É por isso que lhe chamamos Comunicação Não Violenta ou Comunicação Compaixonada.


Esta forma de comunicar pode ter fortes repercussões na nossa vida pessoal, íntima, social e profissional. Não é nenhuma panaceia, mas tem grande potencial para ajudar a melhorar a nossa vida em sociedade.

* Anos 70

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