quarta-feira, 27 de julho de 2011

Economia solidária



Antes da interrupção durante o mês de Agosto, em todas as rubricas, e ainda em ambiente festivo pelos quatro anos de existência, vamos conhecer melhor um dos pilares da Informação Solidária. Numa altura de crise sócio-económico, eis uma alternativa ao actual sistema de produção.

Texto e fotografia Dina Cristo

A Economia Solidária (ES) é um movimento, com cerca de 30 anos, de renovação da Economia Social. Com raízes nas práticas indígenas, a Economia Social desenvolveu-se com o aparecimento do sistema industrial, que marginalizava artesãos, sobretudo em Inglaterra, no séc.XIX, com o sistema cooperativo. Antes, na Idade Média, já existiam as guildas e em Portugal as Misericórdias. Com a depressão e Grande Guerra, no séc.XX, e o surgimento do Estado Providência, a Economia Social renasce aprofundada no final do século devido à hegemonia da globalização capitalista. O aumento do contingente das franjas do sistema conduziu à reinvenção de uma Outra Economia, revalorizada desde o Fórum Social Mundial, no Brasil, há mais de onze anos, aglutinando diversos movimentos sociais.
A Economia Solidária emerge, sobretudo no Brasil, América Latina e África, como um valor acrescentado em relação à velha economia, dominante. Economia pública não estatal dá resposta à necessidade de bens e serviços que o sector privado não investe, por ser pouco lucrativo, e que a esfera pública não atende. Uma economia de princípios e não de objectivos, muito menos com fins meramente lucrativos, que concilia o que, até então, parecia impossível de harmonizar: o trabalhador e os meios de produção, a actividade económica e a Ética. Reacende-se como alternativa à economia capitalista, de competição e maximização dos lucros individuais, baseada no pressuposto de escassez e gerando desperdícios (incluindo energéticos), com a adoração do seu deus dinheiro, como denuncia Óscar Quiroga, com os seus dogmas económicos, nos seus templos bancários.
«A economia solidária nega a competição nos marcos do mercado capitalista que lança trabalhador contra trabalhador, empresa contra empresa, país contra país, numa guerra sem tréguas em que todos são inimigos de todos e ganha quem for mais forte, mais rico e, frequentemente, mais trapaceiro e corruptor ou corrupto», lê-se na sua Carta de Princípios. Um sistema moderno de escravidão geral gerado por uma mecânica monetária, que cria dinheiro a partir da dívida, no âmbito de uma ditadura económica, com uma guerra económica, destrutiva, que inclui assassin(at)os económicos, demonstra a segunda edição da série de documentários “Zeitgeist”. «Competição ou espírito agonístico são, na nossa perspectiva, a mesma coisa. Resultam da incapacidade de sair de si próprio, no desejo de se sobrepor, ao invés de se identificar com o outro», precisa Clara Tavares, na última edição da "Biosofia", revista vencedora do I Prémio de Informação Solidária.

Há mais de 25 anos, Carlos Cardoso Aveline escrevia no seu livro “Aqui e Agora”: «As ideologias da luta competitiva, baseadas na premissa de que o mundo é mau e o homem não presta, não sobreviverão à sociedade patriarcal que já está aos pedaços, como uma placenta que se rompe na hora do parto». A ES baseia-se num novo contrato social, com novos actores - como são exemplos as associações, cooperativas, mútuas, fundações, IPSS, ONG, clubes de troca – assente em novos pressupostos e com uma mudança de valores. Para a ES, acima de tudo está a Vida, depois o Bem-Estar geral, de todos e de cada um, a satisfação das suas necessidades básicas e reais, que são, segundo a terceira série do Zeitgeist, alimentação (água potável, alimentos nutritivos), roupa, abrigo (energia limpa), calor (contacto, companhia), amor e aceitação, em ambiente estável e de reforço positivo.
A ES representa o regresso ao básico: o respeito pela vida integral – de todos os seres vivos – e estabelecimento de correctas relações humanas e ambientais. A recuperação de uma economia em que o Ser Humano é o sujeito do processo – e não o objecto em perseguição do lucro viciante, que advém da criação de problemas, como defende Peter Joseph, na sua película – realmente económico, no sentido de ser produtivo e economizador de recursos. Uma economia em que o que se produz vende e o que se compra consome, fundada na aceitação da realidade, naquilo que se tem, e não no desejado, o que se gostaria de ter, como o crescimento contínuo.
Diferente consoante as épocas e as áreas geográficas, a ES tem-se vindo a manifestar em novas propostas como as de responsabilidade social, desenvolvimento sustentável, comércio justo, ecoaldeias, microcrédito, cidadania global acção local. Economia baseada em recursos, segundo o Movimento Zeitgeist, Economia Espiritual, de acordo com Alfredo Sfeir-Younis, Economia Budista, como a designava Carlos Cardoso Aveline, no seu referido livro, em 1985, ou a Teoria de Utilização Progressiva, do Movimento PROUT, que defende uma democracia económica. Mais visível num âmbito mais alargado, o social, tem expressão na emergência do empreendedorismo social, marketing social, tecnologias sociais, turismo social e… informação social.

Reticular, em cadeia produtiva, reinveste os excedentes que assim permitem melhorar a qualidade de vida dos que nele se tecem, aumentando e melhorando o trabalho e a renda. Uma união, onde há parceiros (e não clientes), baseada nos princípios de solidariedade – moral, social e sistémica -, liberdade eticamente exercida, baseada num sistema de troca e onde se conjuga o trabalho manual e intelectual, a função de empregado e patrão, o papel de produtor e consumidor (o proconsumidor), num equilíbrio final. Uma emancipação que tem vindo a ser concretizada, por exemplo, na recuperação, pelos trabalhadores, de empresas falidas, em auto-gestão, numa participação efectiva, com partilha de direitos (resultados) e deveres (responsabilidades e limites, auto-regulados).
Descentralizada e democratizada, com melhores níveis de interesse, estímulo e autonomia, em que a diversidade e singularidade são valorizadas, nela floresce a confiança, a criatividade e originalidade. De carácter pequeno, familiar, doméstico, popular ou local, de proximidade, tem uma essência transpessoal, de sinergia colectiva. Vocacionada para o desenvolvimento humano, com uma eficácia não apenas económica, mas também social, ambiental, cultural, patrimonial ou política, tem na dignidade, reciprocidade, justiça e suficiência alguns dos seus valores. Actua de acordo com o paradigma da abundância, segundo o qual quanto mais se distribui a riqueza mais os ganhos de todos aumentam.
Numa lógica social e comunitária, esforça-se por integrar, ainda que em situação desfavorável, elementos que num raciocínio imediatista levaria ao despedimento imediato. Mais do que na experiência, aposta em talentos, e inclui deficientes, por exemplo. O enriquecimento não é individual nem se mostra na paralisação amontoada de moeda fiduciária, ilusória, mas geral e a médio e longo prazo, em desenvolvimento pessoal, social e espiritual, como é o caso dos ashrams. O lucro não é meramente económico, muito menos financeiro; é sobretudo social, ambiental e cultural; é benéfico, útil e satisfatório para toda a comunidade envolvida, designadamente humanos, plantas e animais.
O proveito é mútuo e colectivo e ultrapassa a dimensão material; traduz-se na alegria de estar em harmonia com os outros seres, com os quais se identifica, aproxima e comunica em vez de se sentir superior aos outros, intensificando a separatividade e isolamento. Em causa está a felicidade de todos e de cada um, para a qual o interface, dinheiro ou vale, é apenas um meio e não um fim. Aliás, a moeda social não tem juros – está livre para fluir, circular e dinamizar as intercâmbios.

Num momento de decrescimento económico involuntário, de colapso do sistema e de transição, a auto-produção pode ser um caminho lento mas seguro e construtivo, onde a união por um “nós” interligado supera a desunião de um “eu”, fragmentado e em luta. Os chamados excluídos, o tecido social da designada periferia, em comunhão, encetam uma acção de auto-recriação e regeneração, de religação e reconexão, verdadeiramente comunicativo e ecológico. Em cadeias produtivas tendencialmente amigas, de si próprio, dos outros, do meio ambiente e das culturas são recentrados pelas novas tecnologias digitais. Grupalmente, recuperam o secular controlo social da estrutura económica, ocultado pela hegemonia corporativismo e monetarismo. Mais consciente, sensível, comprometido, voluntário, informal, transparente, harmonioso, constitui um enriquecimento humano e cognitivo, tendente ao aperfeiçoamento, pela integração da vertente investigação/acção.
No Brasil, onde o sector da Economia Solidária está mais desenvolvido, em termos teóricos e práticos, e a corrente Ibero-americana (Euclides André Mance) salienta a entre-ajuda comunitária, existem além de mais de vinte mil empreendimentos de ES, associações (de trabalhadores, de pequisadores), redes, fóruns, feiras, incubadoras, centros de formação, conferências, colóquios e um Conselho Nacional bem como uma Secretaria Nacional de Economia Solidária e Dia Nacional. Na Europa, cuja corrente (Jean-Louis Laville) destaca a sociedade civil, existe o Intergrupo de Economia Social do Parlamento Europeu. Espanha tem um portal de ES.
Na corrente da Macaronésia (Rogério Roque Amaro), onde Portugal se integra, sublinha-se o carácter sistémico. Foi nos Açores o foco de nascimento e é lá que a ES se tem desenvolvido. Além de cooperativas, como a Kayros e a Cresaçor, existe um Centro de Estudos de ES do Atlântico. No continente, tem havido actividade académica, mestrados, teses, cursos livres, edição de revistas e livros, além de uma Bolsa de Valores Sociais e um recente Conselho Nacional para a ES.

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quinta-feira, 21 de julho de 2011

Rádiotelefonia de sessenta III


Nesta terceira parte passamos em revista o ano de 1961, ao qual foi dedicado o ensaio "Telefonia de sessenta".

Texto e fotografia Dina Cristo

Com o assalto ao Santa Maria, Luanda ficou repleta de jornalistas tornando-se o palco ideal para a revolta da população negra. Os ataques, que se desencadearam a quatro de Fevereiro, intensificaram-se, tornando-se irreversíveis a partir de 15 de Março de 1961.
A cobertura do embarque das tropas portuguesas para Angola teve como pano de fundo a teoria da multirracialidade nacional: “Se há alguém que ainda tenha dúvidas que Portugal é um país multirracial, venha agora aqui ao cais e veja passar, como nós vemos, um pelotão no qual um dos graduados, um furriel à frente da sua secção, é um negro. Um negro de Angola ou de Moçambique, que aqui está no meio dos soldados brancos, respeitado como se respeita qualquer furriel, qualquer graduado no nosso exército”(1).
No dia 27 de Março, uma manifestação deslocou-se, em protesto, até à embaixada norte-americana, em Lisboa, devido à posição dos Estados Unidos, na ONU, contra a política colonial portuguesa. A transmissão da EN salientou: “Alguns dos homens que se desprenderam da multidão, ao encontro às varandas e janelas deste prédio dos Estados Unidos, são homens de cor e isso também é altamente significativo neste momento. Eles estão aqui, afinal, na firme determinação de defenderem Portugal, assim, sem armas, de peito feito, de peito descoberto, ou com armas na mão se for preciso (…) A polícia, aliás, devo dizer-vos, não mostra vontade decidida em dispersar a multidão, a polícia também é portuguesa e isto é uma reacção portuguesa (…)”(2). O dia quatro de Abril de 1961, aquando do 12º aniversário da NATO, foi aproveitado para nova exibição de anti-americanismo. As cerimónias, que decorreram na Universidade de Lisboa, tiveram uma cobertura intensiva da Emissora Nacional(3).
O Rádio Clube Português relatou a guerra de Angola, através de crónicas de José Drummond, enviado especial. Eram histórias, sem recolha de som, propagando a “resistência firme” dos colonos portugueses aos crimes praticados pelos “revoltosos negros”, terminando com a expressão “esteve a falar-vos José Drummond de Angola, província portuguesa de África; senhores ouvintes, até breve, se Deus quiser”.
No dia cinco de Abril o assunto foi um português que se salvou “(…) da fúria selvática dos assaltantes, dos grupos fanáticos”. A ideia defendida pelo Governo de que a revolta havia sido provocada por forças externas constituiu parte fulcral de uma outra crónica, do dia dois de Maio, onde o confronto angolano foi comparado a uma tragicomédia, com enredo em três actos: “Primeiro, semear o terrorismo, matando a esmo mulheres e crianças, para assim, e mais facilmente, dar início ao segundo acto. Neste, o objectivo seria acender o ódio racial (…) Enredo do terceiro acto: a intervenção de forças internacionais para restabelecer a ordem, tal como se está a verificar no Congo. (…) E pode até admitir-se que pretendem incluir Angola nesse espectáculo de conjunto. Mas os organizadores, os empresários desta hecatombe vão ter dificuldades na sua empresa odiosa, vão fracassar”(4).
O apontamento de 19 de Abril foi uma entrevista ao administrador do N`Gaje, António José dos Santos Reis, que afirmou viver-se um ambiente calmo, estando a população unida e empenhada em fazer frente a qualquer eventual ataque: “Aqui no N`Gaje, como em todas as terras de Angola, todos os habitantes, todos os bons portugueses, sejam da Metrópole sejam de Angola, estão no propósito fim de resistir a todos esses bandos de agitadores e enfim permanecer para sempre portugueses nestas terras portuguesas de Angola”(5).

Botelho Moniz

A tentativa de golpe de Estado, ensaiada por Júlio Botelho Moniz, terminou em fracasso quando Salazar, informado, se antecipou, demitindo os conspiradores. José Freire Antunes, na sua obra “Kennedy e Salazar – o leão e a raposa”, recorda: “Cerca das 15 horas, a Emissora Nacional interrompeu a programação normal para anunciar a demissão de Botelho Moniz e a sua substituição na pasta da Defesa Nacional por Salazar. As demissões de Almeida Fernandes e de Beleza Ferraz foram também noticiadas (…) O poder intimidatório da mensagem radiofónica fez-se sentir no campo rebelde. Botelho Moniz ficou a partir daí, e para efeitos da opinião pública, situado fora da legitimidade. Era sumariamente demitido sem que o incidente provocasse, como observou Elbrick, qualquer atenção da opinião pública.”(6)
Pela rádio, os ouvintes foram informados das remodelações – incluindo a transferência da pasta da Defesa para Salazar – mas permaneceram ignorantes quanto aos verdadeiros motivos da decisão, justificada pelo Presidente do Conselho aos microfones dos meios audiovisuais três horas e meia após a tomada de posse dos novos ministros, com a urgência de uma actuação rápida e em força no território angolano.
A campanha eleitoral de 1961 pautou-se pela neutralização da EN, impedindo desta forma qualquer divulgação de opiniões contrárias ao regime, que tomou uma atitude de autodefesa: “A lei eleitoral restringia a campanha aos distritos de onde os candidatos eram naturais, interditava o acesso dos candidatos à televisão e à rádio nacionais, instaurava uma rigorosa censura a matérias militares, proibia a entrada da imprensa estrangeira em Portugal, impedia os membros do PCP e grupos similares de se candidatarem e de votarem”(7).
Um dia após Salazar apelar ao voto através da rádio, a oposição apoderou-se de um avião da TAP e lançou panfletos de propaganda sobre Lisboa, numa operação de marketing bem sucedida.
No dia 15 de Dezembro, começaram a chegar a Portugal refugiados goeses, inseridos no plano de evacuação do Estado da Índia. A Emissora Nacional fez a cobertura do aeroporto de Lisboa: “Podemos dizer-vos, entretanto, senhores ouvintes, como primeira impressão, que todas as pessoas que chegam – as senhoras e mesmo as crianças – não reflectem, de maneira nenhuma, o pânico, a intranquilidade, o pavor das horas perigosas. Há efectivamente nelas, na sua expressão, a tranquilidade, sobretudo a confiança, de que tudo corre pelo melhor, a confiança de que estão bem entregues à protecção das autoridades portuguesas, diremos mesmo, à própria espontânea e sincera e natural protecção do povo português, que as acolhe como portugueses que são”(8).
O ano de 1961 não terminaria ainda sem mais “assaltos” ao Governo. Depois da perda efectiva de Goa, Humberto Delgado tentou ainda comandar uma revolta a partir de Beja, mas sem sucesso. A EN informou: “Na chegada a Beja da equipa da EN procuramos todos antes de mais nada o testemunho objectivo do médico assistente aos acontecimentos da madrugada de hoje. Havia um sossego absoluto na cidade como se nada tivesse acontecido, como se nenhuma ocorrência tivesse que ser marcada, no entanto, o hospital encontrava-se guardado pelas forças da ordem. O médico que prestou os primeiros socorros ao capitão Varela Gomes é o provedor do hospital, chama-se Dr. Joaquim Delgado e com ele travámos o diálogo que se segue de alguém que é bastante esclarecedor. Suficientemente esclarecedor sobre ou acerca dos acontecimentos desta noite de que ele foi testemunha activa, de que é testemunha objectiva. E senhor governador, como reagiu a população da cidade perante este autêntico atentado ao momento de unidade que Portugal necessita de viver para afrontar os problemas que tem diante de si e que são realmente graves?”(9) A resposta do médico foi que a população do distrito reagiu patrioticamente e que todas as pessoas viram este atentado com verdadeira indignação e repulsa.
“Senhor governador”, interpela ainda o repórter, “tenho aqui à sua beira o presidente da Câmara de Cuba, aliás que é uma cidade célebre em Portugal por ter nascido nela um dos seus mais ilustres escritores, o senhor governador permite que eu ausculte também a opinião do senhor presidente da Câmara de Cuba?”(10). Devidamente autorizada a pergunta a Francisco António Silva, este respondeu que o concelho de Cuba é nacionalista e que, portanto, não poderia estar ligado à intentona.
Na introdução de “O mundo em parada”, rubrica de retrospectiva anual, o RCP fez o seguinte balanço de 1961: “Vivemos mais um ano bem cheio de factos de transcendente importância, particularmente para nós portugueses. Grandes acontecimentos, que só terão paralelo com os vividos em meados do século XIV, estão a processar-se como consequência da forte personalidade de que demos provas durante um passado não muito distante. Dir-se-á que os avós foram grandes demais para que haja hoje netos que os possam continuar. Mas nada disso. O povo de Portugal tem dentro de si próprio a solução para os seus grandes problemas motivados, insistimos, pela sua grandeza como povo que, deslumbrado, talvez com tanta força em corpo tão pequeno, parecerá não saber encontrar o caminho em época menos propícia. Mas encontrá-lo-á, temos a certeza. Um novo e grande caminho eterno como a sua história passada e futura(11)”.
(1) AH RDP, EN 1961. (2) Idem, 27/03/1961. (3) “Kennedy e Salazar – o leão e a raposa”, pág. 212. (4) Idem 02/05/1961. (5) Idem, 19/04/1961, AHD 14340. Faixa 6. (6) Op Cit., pág. 224. (7) Op. Cit, pág. 284. (8) AH RDP EN 15/12/1961 (9) Idem 1962. (10) Idem, ibidem. (11) AH RDP RCP 31/12/1961.

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quarta-feira, 20 de julho de 2011

Despertar


Antes da comemoração do nosso quarto aniversário, Segunda-Feira, publicamos um poema de intervenção sobre os benefícios de viver no Aqui e Agora.

Texto Elton Rodrigues Malta fotografia Dina Cristo



O passado não é real existe apenas na cabeça
Se o vives, vives um trauma que não deixas que desapareça
Porque não viveste o momento, não estavas presente
E recusas novamente desperdiçando todo o teu tempo
A obsessão não é real, torna-se fascínio que te ofusca
E a saudade é fuga à realidade que te assusta
Não vale a pena dizer que com o passado se ganha experiência
Porque se essa semente entrou, foi no momento da ocorrência
Só nao deixes que essa informação adormeça
Interpreta bem agora, acorda depressa
E pensa que não é passado o que causa arrependimento
Porque se o sentes, é porque esse aspecto ainda está presente
Para quê arrepender-me das situações da minha vida?
Se não fossem elas não estava agora a ver desta perspectiva
Se com esse comportamento já deitaste tanto tempo fora
Para quê deitar mais? Desperta agora...

O futuro não é real, só existe enquanto o imaginas
E se não abrires os olhos a tua presença nele torna-se rotina
Nele vives a melhor forma possível, mas só por instantes
Por isso é que o regresso à realidade se torna frustrante
Nunca verás o viste, porque nos sonhos estás às escuras
E quando surge o ideal... nem reparas, e continuas à procura
Podes ter tudo e ainda mais todas as prendas
Mas se viveres no amanhã... Amanhã não chega
O futuro que tu visionas é um jogo que a mente faz contigo
Imaginas uma situação ao teu gosto num certo sítio
Inconscientemente adicionas um sentimento já tido
Resumindo e concluindo... É tudo conhecido!
E quando surgir algo parecido não consegues pôr em prática
É como decorar exercícios para o teste de matemática
Se já deu tanta falsa esperança e só em desilusão se transforma
Para quê sonhar mais? Desperta agora...




o presente é que é real, é nele que se encontra tudo
Foi nele que aconteceu o passado e onde acontecerá o futuro
Os primeiros são imaginados, o segundo existe realmente
O presente parece o mais pequeno, mas é presente para sempre
Parece pequeno mas é presente eternamente...
Para além de eterno, é o único que existe
O único onde te moves e onde concretizas os planos que construíste
É neste momento que aquilo que não gostas, corriges
É aqui que te realizas, é agora que és feliz
Não imagines, sente, vive o momento
Absorve o sentimento e abstrai-te da mente
Apenas o presente está ao teu alcance
E tudo o que queiras alcançar é nele que o encontras
Enquanto pensas em remodelar o passado ou construir o futuro
Apenas o presente desmoronas
Há que viver com planos mas como bússola e não como mapa


Apenas um destino definido e não uma estrada traçada
Também há que recordar, mas de forma equilibrada
O mal para não repetir e o bem para dar força para nova etapa.

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quarta-feira, 13 de julho de 2011

Informação áurea


Antes de comemorarmos o quarto aniversário, fazemos o balanço de actividade inspirada na Informação Solidária (IS), corrente que abraçámos desde o início. Filha de um quinto poder, a IS orienta-se pelos princípios da qualidade, diversidade, profundidade e sensibilidade, do Bem, do Belo, do Bom e do Verdadeiro. É hoje, mediante a crise, uma oportunidade urgente que importa (re)conhecer.

Texto Dina Cristo desenho Zita Leonardo


Há dez anos, Carlos Cardoso Aveline, autor brasileiro, escreveu um livro que se intitulava “Informação solidária”. A obra serviu-nos de inspiração para a realização da conferência sobre Informação Solidária em Portugal. Em Coimbra, estiveram presentes Henrique Pinto e Gabriela Oliveira, e, via tecnológica, o autor. No seguimento, encetámos, em Julho de 2007, este projecto. Os primeiros artigos foram sobre o tema.

Quatro anos depois, temos mais de duas centenas e meia de textos, de mais de 50 autores, sobre vários assuntos e em diversos géneros jornalísticos. Além dos artigos semanais, à Quarta-Feira, e as rubricas, trimestrais - em cada nova estação -, temos tornado públicos, mensalmente, vários ensaios, desde a literatura à política. Todas as produções são inéditas, salvo uma ou outra excepção devidamente referida.

Ao longo destes anos, apresentámos o conceito de Informação Solidária nas Jornadas Internacionais de Jornalismo, no Porto, promovemos um workshop e entregámos dois Prémios IS, o primeiro à revista “Biosofia”, em 2009, e o segundo ao blogue “Vislumbres da Outra Margem”, em 2010. Temos dado a conhecer novos autores, como Elton Rodrigues Malta, e novas ideias, como a simplicidade voluntária. Tivemos mais de 35 mil páginas consultadas por mais de 17 mil visitantes, dos quais 12% durante mais de 20 minutos.

Quando começámos, a palavra “solidária” era vista com desconfiança e apenas no aspecto moral. Hoje, ela é visível, na publicidade, audível, em programa de rádio, e está presente em secções próprias de jornais. Um pouco como a sustentabilidade, primeiro, e a responsabilidade social, depois, torna-se mais habitual. Na economia, na política, na justiça, no turismo, na inovação, na informação o sector social ressurge.

Transformações
Actualização do espírito fraternal da Revolução Francesa, hoje é mais perceptível a sua necessidade, existência e importância. Com o colapso do sistema industrial, financeiro e social as propostas alternativas, até aqui desprezadas, são revalorizadas. Neste início do terceiro milénio, a consciência planetária acelera e as práticas mais altruístas ganham dimensão.
Desde as áreas científicas, como a física quântica ou a psicologia transpessoal, teorias de vanguarda, como os campos mórficos de Rupert Sheldrake ou a ordem implícita de David Bohm, alargam horizontes. O digital, com os blogues, redes sociais e o wiki, expande-se e há todo um terceiro sector que se fortalece.

A informação é aquilo que dá forma a algo; como explica Lucienne Cornu, é aquilo que permite estruturar. O acesso a uma nova informação trará novas formas individuais, colectivas e planetárias, como ensina Dieter Duhm. Na perspectiva de Carlos Cardoso Aveline, uma verdadeira informação dará lugar a decisões mais correctas.

Enquanto super-estrutura influenciará a infra-estrutura material, mas esta também não a prescinde. É assim que realidades como a economia solidária, a inovação social, as ONG, as IPSS e os mais diversos movimentos, desde a ecologia à saúde, do sincretismo religioso à protecção às crianças e animais, precisam de se fazer ver e ouvir enquanto partes legítimas do grande todo colectivo.

Fora dos grandes “media” conservadores, há um país a desabrochar. Para além da crise objectivada em sons e imagens, há todo um outro Portugal que se dinamiza: agentes, fontes e acontecimentos que retratam o lado mais nobre e digno. Com ensejos filantrópicos, os acontecimentos multiplicam-se pelo território nacional. Os pequenos, mais atentos e com novos critérios, dão-lhes expressão.

Os cidadãos, implodidos com a propaganda do crescimento económico contínuo, explodem no sentido do desenvolvimento interior. Agonizados pelo curto-circuito, fechado, dos “mass media”, sentem novos ventos de liberdade de expressão, de livre fluxo informativo. Dão, recebem, partilham.

Apesar da insistência na brutalidade, nos acontecimentos egocêntricos e nos actos de selvajaria, há novos ares que sopram no sentido da elevação da consciência: mais generosa e holística. Seja por um livro, um filme, uma terapia, um blogue, a nova informação já circula, também na internet.

É neste contexto que a Informação Solidária se evidencia. Desde logo parte de um novo pressuposto - o de que os recursos são suficientes: matéria-prima, tempo, espaço, técnica, homens e mulheres chegam para fazer uma informação melhor, mais útil e humana. Confiante nos meios, assente em princípios (éticos) e desapegada dos fins, está segura de que, mais cedo ou mais tarde, estes surgirão, para bem de todos.

(Des)créditos informativos

Alternativa, a IS é uma informação ecológica e dourada. Sem se arrogar de independente, muito menos dependente do receptor, a Informação Solidária afirma-se e (a)firma a interdependência, não só na sua relação interlocutiva mas entre todo o universo. Necessariamente reticular, pura, saudável, natural e estética, ela é benfazeja, terapêutica, regenerativa e sustentável.

Sinal dos novos tempos de descoberta espiritual, a IS é uma informação solar, amorosa, intuitiva, por vezes abstracta. Inspiradora, ela é criativa, profunda, livre, essencial e transpessoal. Estrutural e íntegra(l), é simples e significativa. Corajosa, diferente e coerente com os seus valores, por vezes inconveniente, é interventiva.

Ocupada com questões de médio-longo prazo, desacelerada, lenta e extensiva, próprio do “slow journalism”, é autónoma, realista e pauta-se pela inovação e correcção. Caracterizada pelo equilíbrio e a moderação, usa a média tecnologia. Democrática, ela é uma espécie de informação branca, no sentido de reflectir as demais cores (políticas, religiosas, sociais ...).

De origem aquariana, ela é vincadamente feminina e grupal. Descentralizada, local, voluntária, informal e doméstica. Inofensiva e construtiva, prudente e discreta, ela é escrupulosa, animada, alegre e entusiasmada. Serena, graciosa, confiante, desperta, consistente e respeitosa, ela concilia a autonomia com a responsabilidade.

Aos poucos, vai desactualizando a informação interessada, grosseira e agressiva. Para trás vai ficando uma comunicação social carente, desnutrida, insaciável e hipnotizadora. Relatos violentos, repetitivos, fragmentados, formais, superficiais e irrelevantes tornar-se-ão inaceitáveis. Informação rápida, imediata, intoxicante, indiferente, negativa, conveniente, fútil e contraditória será abandonada. Notícias exageradas, tendenciosas, à base de cosmética e de alta tecnologia, baseadas no valor comercial, opacas, demasiado masculinas, crueis, em quantidades astronómicas, impulsivas, assustadoras, indiscretas e desgraçadas desvanecerão.
Espiral informativa

Mais de 30 anos depois do relatório Macbride, a IS reequilibra os fluxos de informação e enceta uma economia não monetária, onde todos colaboram com todos. Depressiva - no sentido em que honra a diferença e promove a unidade, possui bons sentimentos e partilha o poder (de saber) com os outros cidadãos - é talvez motivo para se dizer: “silêncio que se vai ler, ouvir ou ver Informação Solidária”.

Mais (além) e melhor do que a informação alternativa, social, de paz, de cidadania ou responsabilidade social que integra, a Informação Solidária comprometida com a Paz, o Amor e a Vida, ultrapassa o impasse das mais diversas dicotomias e transcende-as, sintética e harmoniosamente. Ela é o ponto de partida, em expansão, para um novo portal comunicacional, transformador e curador das feridas deixadas pela guerra, intolerância e incompreensão.

Pólo activo e passivo, romântico e industrial, racional e emocional, direito e dever, onda e partícula, optimismo e pessimismo, quantidade e qualidade, substância e forma, tempo e espaço, idealismo e positivismo, política e economia, autor e leitor, hemisfério direito e esquerdo, meios quentes e frios, objectividade e subjectividade, global e local, ética e mercado s(er)ão vistos como duas expressões da mesma realidade. Ao conciliá-los e ordená-los, a IS supera os conflitos separatistas e actua(rá) como consoladora na Nova Era de Liberdade, de Ser e de Comunicar.

Como escreveu Carlos Cardoso Aveline, jornalista, ecologista e teosofista: «Na nova era, a conduta do cidadão não será comandada por programas de auditório de televisão ou necessidades comerciais de grandes empresas. Informações inúteis não serão vendidas com tanto zelo como hoje, e a novidade deixará de ser vista como mais importante que a verdade. Velhas tradições ressurgirão. A arte e ciência de viver correctamente ocupará lugar de destaque em escolas, locais de trabalho e meios de comunicação social.».

(1) AVELINE, Carlos Cardoso - A informação Solidária - A Comunicação Social como prática de uma nova ética. Edifurb, Brasil, 2001.

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quarta-feira, 6 de julho de 2011

Vida festiva


Este fim-de-semana, de Norte a Sul, Portugal anima-se com a mudança para um mundo mais saudável, solidário e Humano.


Texto Dina Cristo

Montalegre recebe a oitava Manifesta, Festa e Feira de Desenvolvimento Local, centrada na economia solidária, social e sustentável. Uma espécie de Fórum Social Nacional, coordenado pela Animar, com exposição e debate de soluções inovadoras para um paradigma que coloca as pessoas em primeiro lugar. “Viver as utopias para construir realidades”, declarava Elza Pais, na qualidade de Presidente da Comissão para a Igualdade de Género, no encerramento da última edição, em Peniche, onde expressões como “terceiro sector”, “microcrédito”, “regionalização”, “sociedade civil organizada” ou “diversidade” estiveram presentes.
No Palácio de Cristal, no Porto, é a vez da sétima Feira Alternativa – a apresentação de novas ideias e soluções no âmbito da saúde, incluindo alimentação e medicina (natural), ou desenvolvimento (pessoal). A proposta das organizadoras, “Terra Alternativa” e “PazPazes”, é (vi)ver o mundo de outra maneira, mais ecológica, confiante e harmoniosa. Entre conferências, aulas, ateliers e a presença das mais diversas expressões artísticas, está programado, no Domingo, pelas 15h, uma meditação pela paz e abundância na Terra, cuja receita reverterá a favor de instituições de solidariedade social da cidade invicta.
Em Tomar tem lugar a Festa dos Tabuleiros, em honra do Divino Espírito Santo. A coincidir, ainda, com a Festa, em Coimbra, da Rainha Santa Isabel, promotora do culto em Portugal, a cidade dos Templários mantém a tradição e fé na terceira pessoa da Santíssima Trindade, correspondente a Shiva, o destruidor hindu. Depois da Era do Pai, Criador, (antigo testamento) e da Era do Filho, Conservador (novo testamento), da Era de Peixes, eis a chegada à Era do Espírito Santo, Destruidor - Era de Aquário.
Os festejos antecipam, desde há séculos, essa Nova Era de Ouro, de pureza, representada no cortejo pelas meninas, de solidariedade, simbolizada no bodo, onde toda e qualquer pessoa é convidada a sentar-se confraternalmente à mesma mesa. Simbolizado na pomba da paz ou nas línguas de fogo purificador, celebradas no Pentecostes, o Espírito Santo, Transformador por excelência, também Consolador, corresponde igualmente a Maria, a mãe, a matéria, daí o retorno ao Feminino, e à Mente Superior, ao regresso do “Encoberto”, ao reaparecimento de Cristo, à Intuição, numa anunciação do Quinto Império. Em causa uma nova cultura: do ser, interesse colectivo, desapego e partilha; de amor, alegria, liberdade e abundância; de simplicidade, compreensão e felicidade.

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