quarta-feira, 13 de abril de 2011

O Rei faz anos

Roberto Carlos completa Terça-Feira 70 anos de vida. Ensejo para reflectir sobre o papel social de um fenómeno musical.

Texto e fotografia Dina Cristo


Pelos cinquenta anos de carreira, Erasmo Carlos, o seu amigo desde a adolescência, resumiu-lhe em poucas palavras, grato e emocionado, o seu valor: «Um cara guerreiro, iluminado, cheio de fé e esperança, que impõe nos corações humanos a força do amor maior por um mundo melhor». Já anos antes havia referido que homens como Roberto Carlos só aparecerem de 500 em 500 anos.
Na sua multiplicidade discográfica, entre centenas de composições, destacam-se a intensidade da vida emotiva, o pioneirismo ecologista, a defesa da paz e da religação com a fonte divina. Com uma voz meiga e doce partilhou, sem defesas, as suas convicções e sentimentos como, por exemplo, a crença em Jesus Cristo, a fé na bondade humana, o questionamento do progresso, o romantismo integrado num vasto universo amoroso.
Num hino à mulher, viveu e cantou as suas desilusões, alegrias e sofrimentos de forma original. Mostrou a dimensão humana, vulnerável e digna, mas acima de tudo o poder de união do amor, autêntico e profundo, com os seus familiares, colegas e público. Expressa-se de alma para almas, fazendo pelo caminho milhões de amigos.
Simples, apesar do seu trono, despojado, valorizou em palco os mais diversos nomes da música. Muito mais do que interpretar, cantou o que sentia. Uma lenda, reconhecida em vida, e uma força da Natureza, como lhe identificou Caetano Veloso. Uma referência para o Ser Humano, sobretudo para o homem do futuro, mais sensível.
Eleito Rei das emoções, nasce durante a II Guerra Mundial, num mundo dominado pela ambição em relação ao poder, ao sexo e ao dinheiro. Cantou durante décadas, numa civilização amarrada à materialidade, o amor invisível. Grande sonhador, idealista e visionário usou o seu poder criativo, comunicativo e intuito para derramar luz sobre o mundo.
Um dos maiores sucessos também a nível comercial, vendendo milhões de obras. Uma carreira sustentada que encontra eco em cada coração que se abre ao outro e se relaciona na intimidade. Também toca a sensualidade, o erotismo mas sem ser instintivo. Os sons que nos deixa abrem sulcos na direcção acima do diafragma, para que as águas mais puras do amor possam inspirar e (re)vitalizar os humanos.

Etiquetas: , ,