quarta-feira, 27 de abril de 2011

Prostituição mental

Antes do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa publicamos um artigo de opinião sobre a relação entre jornalistas, patronato e público.

Texto Elton Rodrigues Malta fotografia Dina Cristo


Desde há muito que a prostituição, escondida atrás da desculpa de ser um modo de sobrevivência, ganha a legitimidade de ser praticada sem ser punida. Talvez por ser uma troca de interesses entre chulo, prostituta e clientes. Ou talvez porque quem tem a função de regular esta situação, também se serve dela, não tendo portanto qualquer interesse na sua eliminação ou mudança. Agora pergunto: será que há ocupação mais antiga do que divulgar os segredos da vida dos outros? Será que há ocupação mais antiga do que espalhar boatos para denegrir a imagem?
No fundo talvez seja o jornalismo a profissão que é considerada a mais antiga do mundo. Quero com isto dizer que a grande maioria das pessoas pertencentes a este grupo profissional são prostitutas. Ora vejamos. Estas pessoas não só utilizam técnicas de sedução com o intuito de aumentar os seus lucros, como outro dos seus propósitos é dar prazer ao cliente, com a intenção de o agradar para que este volte. E uma das bases do exercício da sua profissão é supostamente a imparcialidade, sem que a emoção tome espaço. Além de tudo isto, é um facto inegável que passam vírus aos clientes.
Muitas vezes, estes só têm interesse por ser uma forma de contorno à marginalização e isolamento. À parte disso, é sabido que eles procuram algo fugaz, rápido e fácil, sem ser necessário um esforço para conquistar, então logicamente o contacto entre eles e elas nunca é feito com o intuito de gerar um fruto, apenas satisfazer um interesse. Esta profissão é exercida no sentido de saciar um capricho a curto prazo. É algo momentâneo e feito à pressa, sem tempo para uma entrega e dedicação. É algo que o mantém submisso através de promessas de mais prazer. Logicamente ele acaba por sentir uma instisfação constante, e se não lhe dá um prazer imeadiato então não vale a pena. Apenas lhe interessa receber passivamente, no fundo só quer que o sirvam. E verdade seja dita: é o cliente que escolhe como o trabalho vai ser feito.
Já os chulos, com os seus interesses económicos, são responsáveis por destruições de lares, uma vez que roubam os clientes do convívio familiar. As pessoas que trabalham para eles são pressionadas no sentido de um trabalho sujo, com duas caras, forçadas a agir sem escrúpulos apesar destas saberem as consequências dos seus actos. Na verdade elas vendem a sua dignidade a um patrão que as chula. Eles escolhem as que têm melhor aparência, tentanto acima de tudo mostrar o jovem e belo, independentemente do trabalho realizado. Pode ver-se então uma sobrevalorização da forma, enquanto o conteúdo é repetido. Os mesmos actos, as mesmas palavras, sem entusiasmo devido a fazer por obrigação. Eles estão também a investir cada vez mais na importação. Gradualmente estão a ser eliminadas as que trabalham na rua, e agora fazem um trabalho com base em boates, ou boatos, como preferirem.
Este é um meio de degredo, degenerado, onde cada um saca o que pode, serve-se do outro como um meio para alcançar os seus fins, não passando de um mero objecto. É um meio onde as doenças se propagam, onde a morte se alastra, onde a hipocrisia prolifera. Onde o natural é condicionado por regras, por obrigações e exigências. Onde um dos pilares da possibilidade de vida humana que é a informação, é violado, e é utilizado não para gerar vida ou crescimento, mas sim como meio de prender.
É um facto que não existe apenas este jornalismo. Mas é este jornalismo que “educa” as massas.

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quarta-feira, 20 de abril de 2011

Não Ser Humano


Publicamos hoje alguns versos sobre a irracionalidade generalizada.

Texto Elton Rodrigues Malta desenho* Dina Cristo


O camelo bebe até não conseguir beber mais nada
Só para que os camelos seguintes não tenham água
O burro só olha em frente apesar de não ter palas
É teimoso mesmo quando sabe que é errado o que fala
O porco sabe escolher o que come, mas é porcaria que escolhe comer
As serpentes cospem veneno só pelo prazer de ver sofrer
O papagaio só repete apesar de saber pensar
Os ursos caçam pelo prazer de matar, matam mas não comem.
Na verdade não há nenhum animal tão desumano, só o Homem
É por ter mente que se sente acima do resto dos animais
Mas é por causa dela que é o animal que desce mais baixo!
Na selva urbana impera a lei do mais fraco
É a única que é regida pela lei do mais cobarde:
Por quem não tem coragem de ser transparente nos seus actos
É o falso que domina os ignorantes fragilizados
Quem finge ter princípios para que o ingénuo acredite
Para atacar pelas costas sem qualquer risco
Quem rouba e diz ser seu, apesar de não ser, e saber
Independentemente de dar uso, apenas para ter...
O Homem é o mais camelo, o mais burro
O mais urso e o mais porco que a Natureza tem
É o único animal que vai contra a Natureza
É a única aberração que viola a própria mãe.
* Anos 80

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quarta-feira, 13 de abril de 2011

O Rei faz anos

Roberto Carlos completa Terça-Feira 70 anos de vida. Ensejo para reflectir sobre o papel social de um fenómeno musical.

Texto e fotografia Dina Cristo


Pelos cinquenta anos de carreira, Erasmo Carlos, o seu amigo desde a adolescência, resumiu-lhe em poucas palavras, grato e emocionado, o seu valor: «Um cara guerreiro, iluminado, cheio de fé e esperança, que impõe nos corações humanos a força do amor maior por um mundo melhor». Já anos antes havia referido que homens como Roberto Carlos só aparecerem de 500 em 500 anos.
Na sua multiplicidade discográfica, entre centenas de composições, destacam-se a intensidade da vida emotiva, o pioneirismo ecologista, a defesa da paz e da religação com a fonte divina. Com uma voz meiga e doce partilhou, sem defesas, as suas convicções e sentimentos como, por exemplo, a crença em Jesus Cristo, a fé na bondade humana, o questionamento do progresso, o romantismo integrado num vasto universo amoroso.
Num hino à mulher, viveu e cantou as suas desilusões, alegrias e sofrimentos de forma original. Mostrou a dimensão humana, vulnerável e digna, mas acima de tudo o poder de união do amor, autêntico e profundo, com os seus familiares, colegas e público. Expressa-se de alma para almas, fazendo pelo caminho milhões de amigos.
Simples, apesar do seu trono, despojado, valorizou em palco os mais diversos nomes da música. Muito mais do que interpretar, cantou o que sentia. Uma lenda, reconhecida em vida, e uma força da Natureza, como lhe identificou Caetano Veloso. Uma referência para o Ser Humano, sobretudo para o homem do futuro, mais sensível.
Eleito Rei das emoções, nasce durante a II Guerra Mundial, num mundo dominado pela ambição em relação ao poder, ao sexo e ao dinheiro. Cantou durante décadas, numa civilização amarrada à materialidade, o amor invisível. Grande sonhador, idealista e visionário usou o seu poder criativo, comunicativo e intuito para derramar luz sobre o mundo.
Um dos maiores sucessos também a nível comercial, vendendo milhões de obras. Uma carreira sustentada que encontra eco em cada coração que se abre ao outro e se relaciona na intimidade. Também toca a sensualidade, o erotismo mas sem ser instintivo. Os sons que nos deixa abrem sulcos na direcção acima do diafragma, para que as águas mais puras do amor possam inspirar e (re)vitalizar os humanos.

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quarta-feira, 6 de abril de 2011

(Quanto) custa ser feliz?


Texto e desenho* Dina Cristo

O bem-estar é o tema do 10º congresso da Associação Cais, que hoje começa. Durante três dias, duas dezenas de conferencistas debatem as relações desta economia com o mercado (Quarta-Feira), o humano (Quinta-Feira) e o político (Sexta-Feira).
Contribuir para a “prossecução e construção pessoal e comunitária de um estado de felicidade para lá do prazer” é um dos principais objectivos da reflexão que decorre no auditório principal do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), na Rua do Quelhas em Lisboa.
Depois de nove congressos onde se focaram questões sociais, como “Gostar de si” e "Jornalismo social”, eis a hora, em tempo de vi(r)agem do discurso económico actual, como refere a organização, de apurar, em encontro gratuito, o preço da felicidade.

* Anos 70

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