quarta-feira, 23 de março de 2011

Em jejum


Em tempo de Quaresma, de abstinência e renúncia (alimentar), e colados ao Equinócio da Primavera, uma das épocas mais propícias para jejuar, evocamos a sua utilidade. Um exemplo para alimentar a alma e restabelecer o corpo, desde que praticado com precaução.

Texto e desenho* Dina Cristo

Saudável e benéfico seria o hábito da moderação à mesa e a prática de uma dieta vegetariana e frutífera, com alto poder alimentício, devido à capacidade de absorção das células – por longo tempo. Contudo, mais vulgar é a gula, um vestígio do instinto de sobrevivência. A dieta carnívora, típica do tipo de sangue O (o mais comum), sobrecarrega o organismo; pela sua decomposição rápida exige (mais) refeições frequentes, envenena o sangue e desgasta os órgãos.
Esta alimentação incorrecta pode e deve ser corrigida, através da prática de jejum. A privação de alimento, durante um tempo limitado, pode regenerar o organismo exausto. «É bom jejuar de vez em quando pelo menos vinte e quatro horas. Aquele que sabe como jejuar compreende que o jejum é uma outra forma de se alimentar. Sim, quando se priva um pouco o corpo físico de alimento, são os outros corpos, mais subtis – etérico, astral e mental – que começam a alimentar-se. Quando o nosso corpo físico não recebe todo o alimento a que está habituado, é dado um alerta e, como há no organismo entidades que velam pela nossa sobrevivência, vêm então, de uma região mais elevada, entidades que nos proporcionam o que nos faz falta e nós começamos a absorver certos elementos subtis que se encontram na atmosfera (…)»(1).
Existe, contudo, o risco de prolongá-lo: «Em certas condições, o jejum durante um ou dois dias é, sem dúvida, benéfico; mas assim como há glutões, também há outros que vão ao extremo oposto, jejuando em excesso. Aí reside o grande perigo», escreveu Max Heindel (2).
O jejum pode ser benéfico ao permitir pacificar as células e depurar o corpo. Se adequado, nomeadamente ao tipo de sangueA, B, AB ou O, e efectuado com moderação e lucidez, permite fortalecer a vontade e clarificar a mente, mas não deve ser praticado por pessoas em estado de vulnerabilidade. Os casos excepcionais, como o místico indiano Prahlad Jani, são isso mesmo: excepções.
Sugestão
De acordo com Alberto Chang, terapeuta de medicina natural, o jejum, de 24h, pode ser constituído por três litros de água com sumo de limão ou laranja. Deve ser antecedido por um dia com três quilos só de um tipo de fruta neutra (maçã, melancia, papaia, pêra, pêssego ou kiwi), nas mais variadas formas e acompanhado por dois litros de água ou chá (nomeadamente de alecrim, que é depurante) e um clister, de camomila morna.
No dia anterior a este, a preparação é feita com base em fibras vegetais: o pequeno-almoço com leite (de soja) e frutos secos, como nozes e/ou amêndoas. A principal refeição, ao almoço, à base de arroz integral com uma salada, com azeite, por exemplo, de alho, beterraba, cebola, cenoura, couve rouxa, espinafre, nabo e rabanete. À noite, uma sopa de legumes, com quinoa, trigo serraceno ou amaranto. No dia anterior deverá fazer-se uma refeição mais ligeira, à base de peixe.
Após o dia de jejum, propriamente dito, recomeçará a mesma dieta mas em sentido inverso: o quinto dia será igual ao terceiro (com outra fruta - uma oportunidade neste ano em que o Borda D`Água prevê a sua abundância) e o sexto ao segundo, o sétimo ao primeiro. Desta forma, pode obter-se um jejum saudável. «A terra exausta», como escreveu Helena Blavatsky, «deve ficar sem lavoura até que possa abrigar um novo plantio» (3).
Na Primavera ou no Outono, a privação alimentar, regulada, praticada com equilíbrio, nas actuas condições de irracionalidade alimentar, pode constituir um meio útil de se preparar para os novos desafios das estações mais extrovertidas ou introvertidas. Pode ser realizado em época de Lua Cheia e completado com meditação, numa espécie de purificação integral. Ao desintoxicar, vitaliza e restaura o organismo proporcionando uma sensação de leveza, um renascimento, tão bem simbolizado na Páscoa, após a quarentena.

* Anos 70. (1) AIVANHOV, Omraam Mikhael – Pensamentos quotidianos. Publicações Maitreya, 2011 (13 de Março). (2) HEINDEL, Max - Princípios ocultos da saúde – a cura. Zéfiro, Projecto Apeiron, 2010, p.33. (3) Citado por "O Teosofista" Maio 2008 de "Collected Writings”, H. P. Blavatsky, Theosophical Publishing House, Adyar, Índia, volume IV, 718 pp., ver p. 299. Publicado inicialmente em “The Theosophist”, Adyar, January 1883, p. 91.

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