quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Vida minúscula


Uma vida heterónoma e existência controlada - errónea, diria Wayne Dyer - são alguns efeitos da necessidade de ser aceite e motivo para reflexão antes do Dia Mundial da Saúde Mental, este Domingo.

Texto Elton Rodrigues Malta desenho* Dina Cristo

Não sei se já reparaste, mas as tuas acções e movimentos estão muito limitados. Às vezes até podes pensar que os fios não existem devido a não os veres, mas na verdade eles estão lá e bem firmes. Se estiveres atento vês que os fios são a opinião dos outros. Não te queria dizer que és uma marioneta, mas repara bem nos teus comportamentos, escolhas e pensamentos, ou melhor, na falta deles. Devido à tua ânsia de seres aceite, numa situação ou noutra, há sempre alguém que controla a tua vida. Agora foquemo-nos nesse domínio e vejamos se não és uma marioneta: se esse alguém te puxa para cima tu olhas para o céu, já te sentes num nível superior aos teus semelhantes. Se o teu dono brinca contigo, danças e dás pulos, alegre pelo destaque, e enérgico enquanto tens os teus momentos de protagonismo. Contudo, se o patrão te larga a mão bates em quem tens mais perto, ou não é verdade? Se cais, ficas à espera que te levantem e se não te conduzem ficas estático sem qualquer tipo de iniciativa.
Tu não te vestes, simplesmente vestem-te, eles determinam o teu estilo, e este depende do papel que querem que representes. Já reparaste que não tens voz? Mas eles podem emprestar-te… se estiveres disposto a propagandear as suas ideias. Tu estás dependente dum superior que te controla, superior esse que se encontra escondido, ninguém o vê. Não queria ser mau, mas no fundo vives uma vida em miniatura. Talvez seja por isso que tudo o que fazes na vida tem o objectivo de te tornar grande e vistoso.
Não é obrigatório que sejas uma marioneta. Também podes ser um fantoche. Reflecte no facto de bastar não seres novidade para já não servires. Se vêem que tens defeito, já cais na inutilidade, já não vais servir para ser o principal. Mas o problema é que te fizeram para o seres. Fazes a tua vida para um público, a tua vida é um teatro, é só representação e show off, no fundo vives para o espectáculo. Tu até sabes que o cenário é só aparente mas continuas a viver para ele. Inúmeros fantoches já representaram esse papel, mas tu repetes, pois os donos são os mesmos e os seus objectivos também… É por isso que tu ages tal e qual como querem, não passas de um boneco nas suas mãos, tratado como objecto, descartável. Acabas por ser um fantoche, vazio, que dá permissão que invadam o teu interior.
Será que tens vida própria? Achas que tens uma vontade e que conduzes a tua vida? Ou és apenas um boneco subjugado? A diferença entre ti e as marionetas e fantoches é que eles não escolhem ser manipulados.
* Anos 70

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