quarta-feira, 25 de junho de 2008

Filhos da estrada


Depois da comemoração, ontem, do Dia Nacional do Povo Cigano, relembramos as suas antigas tradições num artigo escrito há mais de vinte anos, com base em “O povo cigano”, de Olímpio Nunes.

Texto e fotografia Dina Cristo

Muitas pessoas desejam hoje paz, amor, liberdade. No entanto ficam apenas pelos sonhos. Os ciganos, com uma personalidade única, vão muito mais longe. Ultrapassando todos os obstáculos vivem uma vida repleta dos ideais do povo civilizado, reflectidos nas coisas mais simples. São filhos do sol e do vento.
Os ciganos faziam parte de um povo multiforme criador e herdeiro de culturas antigas como a mohenjo-dora. Estas sofrem uma regressão com as invasões arianas, ressurgindo a concepção religiosa primitiva e a devoção mística a par dos mais díspares ritualismos.
Com um género de vida já semi-nómada iniciaram assim o seu peregrinar por volta do século X. Deixam o noroeste da Índia, atravessam o vale do Danúbio - onde estacionam longo tempo, assimilando muitos costumes húngaros – a Pérsia, Arménia, Península Balcânica, onde se qualificam nas artes dos metais.
No século XV, com a invasão turca, retomam a marcha para a Europa Ocidental, de onde se deslocam para todo o mundo em inúmeros e pequenos núcleos.
Aquando da sua chegada, muitas designações lhes foram atribuídas, baseadas desde a sua cor às regiões de maior permanência. São três os principais grupos: Rom, mais tradicionais, com subgrupos de várias profissões, Sinti, devido à sua longa estada em França, e Gitanos, estabelecidos na Península Ibérica.
Nas primeiras décadas de estadia, foram vítimas de expulsões e repressões, chegando mesmo a morrer, atingindo o auge com os nazis.
É perante esta sociedade, então desconhecida, que sofrem um enquistamento. Ignoravam as línguas e eram importunados por outra mentalidade cheia de curiosidade, começando aqui o temor e ao mesmo tempo desdém ao estranho.
Entretanto, à medida que se distanciam no tempo e no espaço do seu berço territorial, vão-se afirmando cada vez mais como ciganos, pois que vão dando respostas muito próprias às necessidades surgidas. É por esta razão que apresentam ainda hoje características antropológicas e socias peculiares que os distinguem dos meios humanos onde vivem, mantendo uma genuinidade étnica.
Cultura
A área cultural está na sua própria etnia, nos seus elementos comuns que lhe dão unidade e a preservam. Embora sendo uma raça única é diversificada devido à permanência mais duradoura em determinadas regiões.
Esta é uma cultura ágrafa, que foi perpetuada pela tradição oral. A sua língua original é o Romani. Pertence às indo-europeias, com grande parte do vocabulário indo-ariano. No entanto, com o seu peregrinar, são influenciados por vocábulos dos vários países (alguns dominam diversas línguas) pelo que surgem vários dialectos.
Como povo nómada que é, liberta-se de todo o complexo burocrático e artificial da nossa civilização, levando-o a algum imobilismo cultural. Embora tivessem transformado algumas formas externas – pela sua utilidade imediata e necessária – muito pouca a sua forma interna foi seduzida pelo ambiente social externo. São idênticos a ciganos de séculos anteriores, incompatibilizando-se com as leis das sociedades modernas que os rejeitaram, tornando-os definitivamente (como) marginais.
Povo
O povo cigano só é plenamente feliz perante um cenário natural, tirando proveito da sua liberdade. Reflecte-se na tranquilidade dos campos, na fogueira sobre a relva à sombra das árvores, na largueza dos vales, na grandeza das montanhas, no ilimitado do céu, no brilho das estrelas, no esplendor repleto no contraste entre o luar e o sol.
Foi pelo amor à liberdade que se tornaram nómadas, fugindo aos que os pretendiam escravizar. Assim caminham à rédea solta durante séculos, dando-lhes esse permanente vaguear pelas zonas mais distantes e diversas do globo uma enorme alegria e paz de espírito. A terra não tem para si fronteiras; a sua pátria é o mundo.
Preferem passar as situações mais humilhantes a deixar a viagem. O caminho está no seu próprio sangue, faz parte da sua natureza. São filhos da estrada, mudando constantemente de horizontes.
Nas suas deslocações em campanhas estabelecem uma perfeita comunhão entre si e quando encontram outros ciganos confraternizam-se. Encontram o mesmo contexto, passado, no fundo revem-se a si próprios, conscientes de um valor exclusivo.
Para transporte utilizam desde cavalos, carroças a bons automóveis e roulottes, dependendo da condição financeira. De acordo com o seu carácter aproveitam também abrigos naturais como pontes e cavernas. Preferem a floresta como local de estacionamento. Aqui, encontram lenha para a fogueira, pasta para os muares e possibilidades de caçar. À frente da tenda a fogueira, ao lado os animais.
Devido às condições climáticas durante o Inverno fixam-se temporariamente, esperando impacientemente o retomar, uma vez que para o cigano permanecer muito tempo em qualquer parte é anormal: “cavalo parado muito tempo… formigas nas patas”, dizem.
É num ambiente humano de solidariedade e coesão do grupo, com intensa afectividade e em espaço reduzido, que o cigano encontra o refúgio das agressões sociais.
Essa sociedade onde tem como “recompensa” do apego às tradições – na negação à inovação externa – a pobreza, o analfabetismo, a miséria. No entanto, mesmo perseguidos, menosprezados e humilhados confessam não querer mudar de vida.
Não têm a noção do tempo. O importante é a vida presente, pois que o passado não importa e o futuro é incerto. Normalmente não se orientam por relógios ou calendários, mas através de fenómenos naturais como o relinchar do cavalo indicando a aurora. Muitas vezes não sabem a sua idade e desconhecem a dos seus filhos. Estes são novos ou velhos, o resto não tem importância.
São versáteis ao longo da vida e têm um alto grau de inteligência. São simples, dão valor às pequenas coisas, não têm ambições de bens materiais – o que importa é sentirem-se bem e serem felizes.
O casamento não funda a família. É apenas um rito de passagem do estado de adolescente para adulto. A boda prolonga-se durante uma semana. A rapariga fica dependente da sogra e o rapaz do pai, sendo este o chefe da família com toda a autoridade sob o lar. O jovem casal só é dignificado a partir do nascimento do seu filho, que normalmente recebe o nome do avô paterno.
A criança enquanto não é baptizada é considerada impura. Os filhos não têm berço e depois andam semi-nus. Muito cedo se tornam úteis e são obrigados a mendigar pelo aperto da fome, tornando-se importantes elementos na economia doméstica.
Costumes
Desconfiados e muito prudentes para com o desconhecido (gadjé), raramente lhe dizem a verdade. Aliás, a mentira aliada à sua língua constituem as suas armas.
Como recurso a necessidades vitais pratica o roubo, essencialmente de alimentos e roupa. Acredita que se a Mãe-Natureza é pródiga tudo é de todos e aqueles que têm bens suficientes podem dispensar aos necessitados. A prática é normalmente longe do local onde estão estabelecidos, após uma experiência para recolha de informações preciosas.
Em alternativa à insegurança da vida que praticam tornam-se mendigos, em especial mulheres e crianças. Para provocar a piedade nos passantes inventam manhas e mentiras. Também comum e[ra] o contrabando e a passagem de notas falsas. Entretanto, para esquecer a fome tomam o gosto pelo cigarro desde a infância, evidando todos os esforços para o obter. Adoram fumar cachimbo. A bebida é presença assídua em festas e bodas e é muito comum a ingestão em excesso. Só após a boca molhada exteriorizam os seus estados íntimos.
O cigano cumpre integralmente as normas: respeito aos seus e aos velhos, amor extremo aos filhos e fidelidade conjugal. Para julgar conflitos ou problemas recorre à kris – assembleia de conhecedores das normas de tradição - muito temida.
Crenças
Os ciganos adoptaram um comportamento religioso repleto de superstições e mitologias, perfeitamente integrados nos seus valores familiares, económicos e culturais.
Acreditam numa realidade extra-terrena - entre a qual distinguem o mundo dos mortos, entidades com vida e poderes específicos - para os ciganos tão verdadeira como objectos materiais. Têm assim uma visão de continuidade entre os dois tipos de existência.
O seu Deus chama-se Del, do qual tudo depende, razão pela qual está sempre presente na sua mente. Não têm, contudo, uma religião própria, adoptando regra geral a dos países em que permaneceram mais tempo. São dados à bruxaria, da qual tiram proveito, utilizando frases feitas para ganhar umas moedas. Lançam pragas, maus-olhares, provocado pelo ódio ou inveja. Praticam a adivinhação, eficaz com mulheres grávidas e velhas. Só a mulher tem estes dons, pelo que é sua actividade ler a sina. Acreditam em poderes ocultos, especiais em certos indivíduos, na telepatia e no poder místico do fogo e da água (esta é considerada com mais virtualidades).
Têm uma grande diversidade de ritos e crenças em relação à doença e à morte, onde colocam grande carga afectiva. Em relação à enfermidade são-lhe dadas explicações sobrenaturais; assim, é causada pela introdução de um espírito mau no doente que, nos casos graves, terá de chamar uma curandeira para o expulsar. Há uma mistura da religião cristã, magia e superstições nas “mezinhas” aplicadas tal como nas palavras rituais dos feitiços.
Quanto ao falecimento há uma ambiguidade: homenageiam a alma crendo na sua imortalidade e no seu espírito protector (butyakenga) e têm temor pelos seus malefícios (muló). Acreditam que o morto faz uma peregrinação dolorosa, atravessando montanhas e desertos de ventos gelados e combatendo monstros - é o carácter imortal da alma.
O defunto deixa na terra parte do seu espírito que habitará um descendente, protegendo a restante família. No entanto, o muló – também ele ambulante – pode atormentá-los e pretender ter relações amorosas com mulheres viúvas durante a noite, pelo que é vigiado. Para evitar, satisfazem-no visitando os túmulos, colocando flores e/ou queimando velas.
O velório é acompanhado de pranto, gritos, lágrimas, ruidosas lamentações, para alívio. O luto é condição para praticamente todos os parentes e se é próximo durante quinze dias os familiares não se lavam ou comem alimentos quentes, evitam ainda carne, álcool, músicas e participações em divertimentos. Após o seu enterro é “esquecido” e proibido pronunciar o seu nome ou lamentar pois ele teria desejos de voltar à terra para os consolar. Os seus objectos são queimados pois crêem que o seu espírito vive sobre as coisas de seu uso.
Para auxílio do defunto nas dificuldades que irá encontrar e para protecção da família fazem ritos funerários, mas só após a sua decomposição, altura em que a alma é libertada. Antes estava somente dormitando, razão pela qual lançavam, juntamente com o cadáver, comida e objectos pessoais.
O rito mais importante é o “pomanal”, cerimónia após ano e meio sobre a sua morte, onde se marca o fim do luto. É feita uma encenação, na qual um membro da família com idade próxima o imita em tudo, fazendo-o reviver. Após o banquete lançam-se os restos da comida no rio para demonstrar que a sua lembrança foi apagada.
Todos os ritos visam o bem-estar do morto, pois acreditam que o comportamento dos vivos tem uma influência directa no mundo dos defuntos. Este reúne todas as condições para intervir na existência dos demais e castigá-los.
Ocupações
Laborar para o cigano significa vender; também com uma visão de lazer vai praticando actividades marginais ligadas à vida nómada, livres de horários rígidos e patrões. Só trabalham por extrema necessidade ou para distracção do ócio.
Há uma divisão sexual do trabalho. O homem ocupa-se da actividade produtiva: trabalha o metal (estanhador, caldeireiro, ourives, latoeiro, cutileiro, ferrador), é amestrador (de ursos, macacos), malabarista, acrobata, veterinário, contrabandista, músico e fabricante de instrumentos de cordas, a sua predilecção. Também caçam e pescam, fazem a tosquia de bestas, mas são essencialmente vendedores ambulantes (bufarinheiros) de tecidos e gado (muares, burros, cavalos). Para além do negócio, o cavalo serve para montar, embora não o faça com frequência, e para transporte. É o seu companheiro inseparável e é tratado como um membro da família. O cigano é hábil no tratamento de qualquer animal e perito em fazer passar por bons ginetes.
É a mulher que cuida da alimentação (procura, rouba ou compra) e prepara as refeições - uma por dia, embora comam diversos acepipes. O seu prato preferido é ouriços-cacheiros. A alimentação é muito variada com predominância da carne. Apreciam muito a cebola e a bebida habitual é água. Não têm qualquer repugnância em se alimentar de animais mortos por doença. Os pobres costumam comer com os dedos, esfregando-os no cabelo para brilharem. Nunca deixam restos pois é sinal de desgraça para o próximo dia.
Arte e fisionomia
A sua alegria oculta explode nas festividades. Nestas manifestações ciganas, a música, dança e canto são elementos indispensáveis. Expressam os seus sentimentos quotidianos, reflexo da sua maneira de viver.
Devido à dificuldade de compreensão do canto, as formas mais receptivas foram a música. É sobretudo instrumental na Hungria, vocal na Rússia e dança em Espanha, onde alcança êxito internacional. Da sua cultura musical ficam orquestras célebres na Europa, os países de Leste mantêm tradições no canto, na Rússia são representadas peças em romani. Liszt foi o grande divulgador. Alguns músicos ficam nomes consagrados como Paco de Lucia, guitarrista de Paris. Também muitos temas do seu folclore inspiram compositores e fazem vibrar aficionados.
A sua música é repassada de nostalgia, assente numa espécie de mágica transmitida, própria da sua alma. Deram expressão única à música flamenga que embora tenha influência Andaluzia é muito genuína, com uma variedade rítmica em constantes ornamentações de melodia. Prestam além dos espectáculos, lições.
Em Portugal, são cerca de 50 mil, que se dedicam ao comércio ambulante de tecidos e também gado. Chegaram cerca do século XV, ao Alentejo, zona do seu agrado, provenientes da Estremadura castelhana.
Geralmente magros e esbeltos; contudo, as mulheres de meia-idade tornam-se muito fortes. São morenos, cabelo ruivo – quase sempre cumprido, mesmo em certos homens – rosto cumprido, dentes muito brancos. Olhos escuros, de olhar inquieto que vê e prevê; andar irregular, corpo muito direito. São muito resistentes e parece que falam com as mãos, de tantos gestos que fazem.
A mulher é coquete; usa fatos garridos, gosta muito de argolas, colares, botas ou chinelos. Cobre as pernas e despreza o busto. O homem usa normalmente patilhas, fatos esfarrapados. O seu traje tradicional era a jaqueta com alamares, calças apertadas e chapéu de abas largas.

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sexta-feira, 20 de junho de 2008

Jornalismo (e) audiovisual V


Revisitamos hoje alguns dos principais "newspaper films" dos anos 60, 70, 80 e 90.

Texto Dina Cristo

The man who shot Liberty Valance” – um dos manifestos mais emotivos sobre a liberdade de imprensa – marca a década de 60. Com uma frase que ficou na história dos filmes de jornalismo (“Liberty Valance taking liberties with the liberty of the press), este wester de John Ford representa uma mensagem de resistência a todas as pressões, medos e acomodações da vida social a que pertence.
O jornalista é quem ousa enfrentar o tão temido Valance, publicando no jornal os assassinatos. Apesar de bebedor incurável, a regra que o orienta é o dever de informar e por ela sofre na pele as consequências: é espancado e vê o seu jornal destruído.
No final, após o assassinato de Liberty, o mito impõe-se sobre a verdade: o homem dado como assassino nada tinha feito além da tentativa; a concretização, essa, pertenceu a Tom. A verdade nunca foi reposta e a mentira sobreviveu; subsistiu a lenda baseada num facto nunca esclarecido.
“Cronaca familiare” dá um retrato incomum do jornalista: um homem pobre, triste, sofredor, mas que resiste à doença e à solidão; a redacção, desarrumada, suja e vazia, é desoladora. De facto – como escreve Cintra Ferreira – poderia falar-se de “radiografia” que revela a “complexidade política e cultural de um espaço de tempo e de um país”: a Itália, no tempo do fascismo. O filme é, aliás, uma adaptação de uma novela “mais ou menos autobiográfica” de Pratolini, onde a imagem do jornalista não vai para além de “uma pessoa que mete o nariz na vida das outras pessoas”.
Em “Schock corridor”, um jornalista enérgico entra num asilo de alienados com a finalidade de descobrir a identificação de um assassino. Acaba por conseguir e até obtém o prémio Pulitzer, como era seu objectivo, mas torna-se efectivamente louco e perde a voz. É a história do tudo por tudo por um furo jornalístico com a finalidade de autopromoção e de aquisição de prestígio, mais do que qualquer intenção eminentemente informativa.
Black like me” é uma variação de “Gentleman`s agreement” mas, neste caso, o objecto de investigação do repórter são os preconceitos raciais em relação aos negros. Disposto a fazer uma investigação profunda, o jornalista altera a pigmentação da pele, através de hormonas, e sai enfrentando todos os insultos, humilhações e desprezo. Desta forma, ele pode transmitir, com alguma fidelidade, o estado das relações entre os negros e os brancos nos Estados Unidos; ele vai relatar acontecimentos que não apenas testemunhou como participou, viveu e sentiu. “(…) Uma aposta num realismo “duro”, tanto mais gritante quanto é filmado a preto e branco (…) numa época em que o movimento dos direitos cívicos encabeçado pelo reverendo Martin Luther King estava a fazer História”
[1].
O fotógrafo de “Blow up” tem como meta atingir a verdade dos factos. Para tal, e de forma a dar um aspecto mais documental às fotos, percorre ruas, cafés, subúrbios e parques. Num destes, fotografa um casal que se beija – uma cena aparentemente anódina, que vem demonstrar-se repleta de violência, opressão e crime. Na ampliação que vai sendo feita, revela-se primeiro a presença de um homem nos arbustos, apontando uma pistola e, mais tarde, um corpo estendido. O que se vê, afinal, nem sempre é o que se passa; para perceber a realidade é necessário decifrá-la.
Anos 70
A sétima década tem como referência “All the president`s men”. Produzido quase em simultaneidade histórica, o filme aposta numa meticulosa reconstituição de factos e cenários como a redacção de “Washington Post”: “(…) resultou de centenas de fotografias (as secretárias dos jornalistas foram fotografas uma a uma), da recolha das papeladas que estavam por cima das mesas, seguida da sua expedição para Hollywood e da sua recolocação no cenário e da compra de todos os livros que estavam nas prateleiras da redacção. Foi tão fiel esta reprodução que quando o verdadeiro Bem Bradlee visitou a “set” foi capaz de saber a hora e o dia em que supostamente se passava a cena que estava a ser rodada: só às 10h30 de Sábado é que a redacção poderia ter aquela gente naqueles lugares (…)”
[2].
Focalizada no modo como foi realizada a investigação do caso Watergate pelos jornalistas Bob Woodward e Carl Bernstein, a fita trouxe para as redacções inúmeras vocações e transformou-se no filme por excelência do jornalismo de investigação. “(…) a queda de Richard Nixon e a retirada do Vietname reforçavam a ala liberal” no sector cinematográfico norte-americano, possibilitando o surgimento de uma fita como “All the president`s men” onde dois insignificantes jornalistas abalavam as estruturas do “establishment” político”
[3].
A década foi ainda preenchida com um filme italiano e outro alemão que, ao contrário, pintaram de negro a face do jornalista: “Sbatti il mostro in prima pagina” e “Die verlorene ehre der Katharina Blum”.
O filme italiano aborda a forma como um jornal manipula a realidade. “Il Giornale”, de direita, desvia a atenção das questões levantadas com a realização de eleições, explorando de forma sensacionalista um caso de “fait-divers” – um crime sexual. Constroem a história, fabricam os culpados (os comunistas) e Roveda, o jornalista que se recusa a especular, é despedido. No jornal “Die Zeitung”, é tanta a quantidade de notícias falsas publicadas que a visada, numa atitude de desespero, acaba por matar o jornalista.
Em meados da década concretiza-se a terceira versão de “The front page” – uma fita onde se pretende assegurar a exclusividade da reportagem do evadido que escapa à sentença de morte. Nesta película, Hildy Johnson faz uma alusão mordaz ao culto das notícias de sensação e à falta de respeito pela pessoa humana: «Jornalistas? Um bando de malucos, com caspa nos ombros e buracos nas calças, a espreitar por orifícios de fechaduras, a acordar pessoas a meio da noite para lhes perguntar o que pensam de Aimee Simple McPherson, a tirar fotografias de velhinhas que são violadas no parque. E para quê? Para entreterem empregadas de balcão. E, no dia seguinte, alguém enrolar a primeira página em volta de um peixe»
[4].
Un linceul n`a pas de poches” veicula as pressões políticas a que um jornalista, que se bate pela imprensa livre, fica sujeito. Permanentemente em serviço, o profissional resiste a tudo – ofensas corporais, apreensão das edições – menos à morte, única forma encontrada para fazer calar a sua voz.
Em “The parallax view” surge-nos um jornalista a investigar as reais causas do assassínio de um senador que, oficialmente, tinha sido atribuído a um atirador isolado. “A polémica sobre os homicídios dos irmãos Kennedy e de Martin Luther King nos anos 60 influenciava directamente este filme de cariz ‘liberal’
[5].
A trabalhar numa estação em que a banalidade e o vedetismo, que fazem subir as audiências, são o fundamental, a reportagem de uma jornalista sobre um incidente é relegada para segundo plano; é que, como lhe dizem, não está ali como investigadora. Em “The China syndrome”, a televisão é sujeita a pressões e vencida na sua relação com o poder “(…) já que entraves de toda a ordem bloquearam as pesquisas para uma reportagem sobre uma falha no equipamento de uma central nuclear que está a ser encoberta pelas autoridades. Mais tarde, quando o caso está aparentemente adormecido o desastre acontece
[6].
Anos 80
A oitava década, assinalada com a quarta versão do texto original de Hecht e MacArthur, adaptado agora ao contexto televisivo, é marcada por “Absense of malice” – um dos filmes mais críticos sobre os jornalistas.
Numa resposta à exaltação provocada pelo caso Watergate e numa década pouco amável para com os homens da imprensa, nomeadamente a nível judicial, “Absense of malice” desencadeou uma reacção de indignação por parte dos jornalistas perante a imagem que deles o cinema estava a construir.
A jornalista, ao seguir a pista errada (maliciosamente exposta), acaba por caluniar um homem que estava inocente. Ao acreditar nas fontes de informação a que teve acesso, e sem a preocupação de confirmar os dados com a pessoa objecto da investigação, é usada para dar dos factos uma visão distorcida, verdadeiramente manipulada. Por outro lado, a sua ingenuidade, irresponsabilidade e o desrespeito pela ética profissional acabam por originar um suicídio de uma pessoa indirectamente relacionada com o caso relatado. “(…) não parte de qualquer caso verídico (embora escrito por um ex-repórter, Kurt Luedtke), mas expõe uma das realidades mais preocupantes do ofício de jornalista: a difamação de cidadãos, que mesmo involuntária (como é o caso), nunca poderá ser inteiramente corrigida”
[7].
Os jornalistas protestaram dizendo que o filme os descrevia de uma forma grotescamente distorcida; a repórter Lucinda Franks (galardoada com o prémio Pulitzer) assinalou a Howard Good que, tanto quanto sabia, nenhum crítico se queixara pelo facto da recolha da lista no FBI ser irrealista; pelo contrário, muitos repórteres na vida real haviam feito o mesmo
[8].
“Reds” é o retrato do jornalista John Reed – testemunha da Revolução Soviética – e das suas experiências contadas no livro “Dez dias que abalaram o mundo”; o filme, nas palavras de Joaquim Vieira, “(…) é sobretudo um fresco sobre a geração de Reed e as suas expectativas com a “nova aurora” anunciada pelo assalto ao Palácio de Inverno”
[9].
Em “Ploughman`s lunch” é o jornalista que, cansado da monotonia do seu trabalho e céptico quanto à versão institucionalizada sobre a crise do Suez, inicia, em paralelo, uma investigação sobre aquele período. James acaba por descobrir a manipulação desenvolvida pelo poder, alterando por completo a memória dos factos ocorridos em 1956 e tornando nebulosa a visão da sociedade em relação aos tempos actuais. A guerra das Malvinas é o pano de fundo que atrai todos os interesses do jornalista, num filme que inclui imagens da conferência de 1982 do Partido Conservador.
Também britânico, “Defense of the realm”, destaca a influência e a cumplicidade entre o poder e os responsáveis máximos dos jornais, permitindo que os superiores interesses da Nação sejam confundidos com os do partido no poder. As tentativas isoladas para divulgar verdades de interesse público, como a probabilidade de um desastre nuclear, são apagados pelo fogo e os jornalistas assassinados. É o preço que paga quem não se cala, não cede a pressões, chantagens ou ameaças.
Considerado um filme modelo do cinema de jornalistas dos anos 80, “The killing fields” baseia-se nos relatos de um jornalista real: Sidney Schanberg que acompanhou, para o New York Times, a ocupação do Cambodja pelos Khmers vermelhos. A fita mostra como é fundamental, para o desenvolvimento de um trabalho em terras desconhecidas, a existência de um guia, neste caso indígena, fotógrafo e amigo fiel do jornalista. Uma película que “(…) envolve por completo o jornalista nas causas “pós-modernas”; denúncia dos novos totalitarismos, garantia da dignidade pessoal, respeito pelas minorias, defesa dos direitos humanos”
[10] - uma história autêntica, contada em estilo de “cinema-vérité”.
‘Amoral’, ‘mercenário’ e ‘badalhoco’ são os adjectivos que Frederico Lourenço utiliza para caracterizar o jornalista de “Salvador”. Com pouca decência e poucos escrúpulos, a Boyle resta-lhe o seu colega fotógrafo que pelo menos se arrisca, até à morte, por uma boa fotografia. O filme apoia-se directamente na experiência do jornalista norte-americano Richard Boyle durante o período de 1980-81 e veicula uma visão crítica em relação à política americana na América Central.
Em “The mean season”, o jornalista no seu último trabalho ultrapassa a função de relator dos factos e integra-se no desenrolar dos assassinatos. Torna-se, a princípio, o elo de ligação entre o criminoso e o público, terminando por matá-lo, em legítima defesa. Aqui “a imprensa põe a legalidade antes da justiça, e a economia antes da ética”
[11], pelo menos o director, já que Malcolm preocupa-se com a responsabilidade da profissão e procura ser comandado pela ética: não traz a foto da rapariga assassinada para publicar, nem paga para lhe darem informações.
Switching channels”, a mais moderna versão de “The front page”, adapta o contexto inicial (de imprensa) para televisão, introduzindo alguns elementos como a substituição da escrivaninha por uma fotocopiadora. É o cinema a acompanhar as mudanças sociais e, portanto, a crescente importância da TV, transporta com cada vez mais frequência para o grande ecrã. “Linhas trocadas” retrata a televisão como mecânica de constante descentramento da verdade, paisagem povoada por mais ou menos alucinados “talking heads”, onde o que mais conta é tão só a possibilidade de continuar-a-emitir”
O filme traz-nos uma jornalista de televisão, cuja perspicácia torna possível uma entrevista em exclusivo com o condenado. Este, ao explicar os motivos que o levaram a disparar sobre um polícia, faz mudar a opinião pública. Ao apanhar os malfeitores, que pretendiam explorar o caso para fins políticos, a entrevista repõe a justiça.
Em “Under fire” um fotojornalista e uma repórter vão cobrir a guerra da Nicarágua, pensando apenas veicular os factos, sem qualquer interferência. No final, contudo, reconhecem que se envolveram demais, mas sem culpabilidade. Reticente, a princípio, o repórter fotográfico chega mesmo a fotografar Rafael de forma que este, já morto, parece vivo – é a clara tomada de partido.
«Filmado “on location”, o filme tenta uma reconstrução realista das semanas que precederam a vitória dos guerrilheiros, referindo-se explicitamente ao incidente em que o repórter Bill Stewart, da cadeia norte-americana de TV NBC, foi morto a sangue-frio por um soldado da Guarda Nacional (…)”
Em “the thin blue line” é feito, a partir do assassinato de um polícia em Dallas, um verdadeiro cinema de investigação de carácter marcadamente factual. Através da reconstituição do crime, de acordo com as várias perspectivas de testemunhas e protagonistas entrevistados, fica, no final, a ideia de que o condenado, que se reclama inocente, está a dizer a verdade.
“Tinikling” aborda os últimos dias da presidência de Marcos, durante a campanha eleitoral que o opõe a Corazón Aquino. Para cobrir o acontecimento, lá estão dois repórteres fotográficos a presenciar assassinatos, bombas, mortos e feridos – situações face às quais são impotentes, mais não fazendo do que testemunhar e gravar na objectiva, até mesmo por pressão, como acontece no início.
Os anos 90
A personagem do jornalista mantém-se presente na nona e última década do século XX. Só em 1993, por exemplo, a indústria cinematográfica americana apresentou dois filmes: “Hero” e “The public eye”.
Bernzy, o fotógrafo que prometia limitar-se a tirar fotografias ao que observava e não interferir na luta entre “gangsters”, acaba por quebrar ambas as promessas. É um homem da noite, apaixonado pelo seu trabalho e que, para conseguir fotografias com mais impacto, não hesita em “trabalhá-las” um pouco mais, à maneira dos fotógrafos de “La dolce vita”.
Em “The bonfire of vanities” um jornalista em decadência encontra, na cobertura de um homicídio, matéria que o tornará uma verdadeira celebridade. O filme não é suave para com os jornalistas, aqui identificados como jornaleiros, subservientes em relação ao poder, mais dados ao espectáculo do que à honestidade ou à verdade.
Oliver Stone, ao realizar “J.F.K.”, concretiza um filme de tese que vem pôr em causa toda a versão oficial sobre o assassinato de Kennedy e a influenciar a própria realidade já que, posteriormente, se passaram a encontrar disponíveis mais documentos sobre o crime. Coloca-se ao lado de um “The thin blue line” – também ele a questionar frontalmente a sentença final.
Hero” mostra como se fabricam os acontecimentos, a forma como se exploram e a quantidade de mentiras que são divulgadas com a agravante de que quando se descobre a verdade esta é ocultada – tudo fica “off the record”. Uma fita que marca a insensibilidade perante uma tragédia e onde o que interessa é o ângulo, a exclusividade e a espectacularidade das imagens.
“Não se pode acreditar naquilo que se vê na televisão”: eis as palavras-chave a resumirem um filme que é um autêntico cartão vermelho ao jornalismo televisivo. A própria repórter diz, a propósito do suicídio, que ali não se trata de uma história jornalística, mas da vida real.
“Hero” é um dos filmes mais actuais a tratar a problemática da televisão na sua vertente jornalística. No próximo artigo, vamos recuar um pouco, até 1987, e ver como “Broadcast News” abordou algumas das questões mais prementes em televisão, como acontece com a tendência actual para acentuar a importância da forma em detrimento do conteúdo.

[1] ANDRADE, José Navarro – Black like me//1964. [2] Idem – All the president`s man/1976. [3] VIEIRA, Joaquim – Mr. Gutenberg goes to Hollywood, p.22. [4] Idem, p.24. [5] Idem, p.22. [6] Suplemento de “A Capital”, Dez.1987, p.78. [7] VIEIRA, Joaquim – Mr. Gutenberg goes to Hollywood, p.24. [8] GOOD, Howard - Op, Cit, p.83 [9] VIEIRA, Joaquim – Mr. Gutenberg goes to Hollywood, p.22. [10] Idem, ibidem. [11] GOOD, Howard - Op, Cit, p.90. [12] LOPES, João – Demasiado próximo do amor, p.56. [13] IRA, Joaquim – Mr. Gutenberg goes to Hollywood, p.23.

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quarta-feira, 18 de junho de 2008

Dor benfazeja


Sinal - inevitável - de resistência, convida a estar atentos e conduz-nos ao presente. Depois de Portugal ter assinalado, este Sábado, o Dia Nacional de Luta Contra a Dor, eis os benefícios quase desconhecidos desta verdadeira ponte para a liberdade.

Texto e desenho* Dina Cristo

A dor é altamente informativa – ela sinaliza com elevada eficácia a acção incorrecta – seja ela mental, psicológica ou física. Consoante o seu tipo, intensidade e local assim a referência que dela pode ser extraída sobre o desvio à realidade mais adequada à natureza de cada um. Ela indica com rigor onde e como há equivoco no caminho seguido. Sempre que dele nos desviamos há um sinal de alerta infalível que o acusa. A primeira nobre verdade budhista ensina, orienta e não engana. Sempre que se diz “não” à vida, rejeita ou bloquea algo lá está ela para o lembrar.
A cada via errada corresponde, portanto, uma determinada pena. Acções viciosas, demeritórias geram sofrimento, lembrava já Patandjali. A dor é um signo, com uma mensagem para ser descodificada e entendida. É um meio informativo altamente individualizado e útil. Desperta sempre que nos enganamos e confundimos a ilusão da mudança (como a paixão) com a verdade da permanência (como o Amor). Cada vez que fazemos algo inconveniente para a alma ou corpo ela sinaliza; indicia o caminho errado, para que o possamos corrigir.
Mas em vez de a escutarmos, muitas vezes preferimos deixá-la de ouvir e sobretudo de sentir. “Sim, às vezes, até dói sentir mas, na verdade, ainda bem que podemos sentir”, elucida Louise L. Hay. Emoções quantas vezes dolorosas. Por isso é, aparente e imediatamente, mais fácil esconder ou disfarçar. É mais rápido tomar um comprimido para uma dor do que iniciar o processo de cura da causa que a está a provocar.
Ao anestesiar-se regularmente o Ser Humano, sem o perceber, desensibiliza-se não só em relação à dor mas também ao prazer. Prescindindo do sofrimento, acaba por dispensar, por consequência, o deleite e deixa muitas vezes de ser tocado pelas coisas mais belas e singelas. De tal forma se gera insensibilidade que algumas pessoas já só conseguem sentir algo em situações extremas de sofrimento infligido a si próprio (masoquismo), a outro (sadismo) ou a ambos (sadomasoquistas). Só quem sente dor a provoca em si e nos outros, seja de forma mais ou menos consciente, e a dor provocará mais dor, insatisfação, dramatismo emocional e infelicidade.
Começa por deixar de sentir uma dor simples, de cabeça, de estômago, de dentes. Confunde a eliminação artificial do sintoma com a erradicação da doença que, sem dela ter sinais, permanece. Persiste até um dia, tantas vezes implodida por “medicamentos”, explodir num caso grave e às vezes mortal. Qual automóvel a que se decidiu destruir a sinalética motora para o conduzir inconscientemente, enfrentando então o desastre e, quem sabe, a morte. Sem consciência do erro, adia a solução, persiste no equívoco até uma crise aguda chegar. Entretanto, a dor que se vai ocultando, acumula-se e acabará por se escapar, expressando-se, antes de uma eventual resolução fatal, através do ressentimento, raiva, culpa, irritação, ciúme, impaciência, desespero, auto-comiseração ou em todas as formas de auto-destruição sejam lentas (como o tabaco) ou rápidas (como o suicídio).
Resistência
Para além do medo de a viver, o que só a faz perdurar, e do erro (e sentimento de culpa adjacente) há outras origens da dor. A insatisfação, a carência, o sentimento de imperfeição cria dor. O conhecimento da verdade gera muitas vezes mágoa. A indecisão com a sua tensão e conflito arrastado produz sofrimento. A ingestão de alimentos da família das solanáceas, como a batata, o tomate, a beringela, também; inflamam o corpo e provocam dores. A acidificação do sangue, a diminuição de serotonina aumenta o nível de sofrimento sobretudo a quem já é mais sensível à dor. A fuga ao presente, como toda a oposição, causa dor. E quanto maior a resistência às mudanças da vida, mais dor se irá sobrepor no corpo (mental, psicológico e físico).
A crítica, o julgamento, cria padecimento. Todos os padrões mentais negativos, os pensamentos com forte carga emocional destrutiva, sobretudo se associados a aspectos egoísticos da personalidade – paixão, apego, desejo, aversão, avidez, cobiça, luxúria, ódio, ira, agressividade, ressentimento - são grandes responsáveis pela dor. A ilusão, que confunde o permanente com a mudança, levando à procura da constância na inconstância, gera uma forte dose de dor. Como afirma Helena Blavatsky, "A principal causa do sofrimento está na nossa busca perpétua do permanente no impermanente, e nós não só buscamos, mas agimos como se já tivéssemos encontrado o imutável em um mundo cuja única característica certa e que podemos proclamar é a constante mudança; e sempre, no momento em que nós pensamos que conseguimos estabelecer a nossa base sobre algo permanente, a situação muda diante de nós, e o resultado é o sofrimento”.
Outra grande causa de dor é a consciência, abaixo ou acima da média. A ignorância, até pelos equívocos que provoca, cria dor, mas também os seres que estão na senda espiritual e desenvolvem uma consciência mais abrangente, num altruísmo que os faz identificarem-se com os outros, a quem amam e pelos quais se interessam, também o provoca: «(…) E tudo dói na minha alma extensa como um Universo(…)», como escrevia Álvaro de Campos que na “(…) última fase vai ser esse coração insone em que tudo dói: o que foi, o que não foi, o que é, o que não é, e também a vasta dor do mundo»
[1]. Maior sensibilidade traz um sofrimento mais doloroso; trata-se, neste caso, de uma espécie de prova para atletas do espírito, em ciclo ascencional.
Poder curativo

A dor está presente logo desde o momento do nascimento, quer para o recém-nascido - o trauma da entrada num universo gelado, sonoro e luminoso que angustia e faz gritar - quer para a própria mãe. Não há parto sem dor. Todo o nascimento implica sofrimento. As modernas técnicas de eliminação da dor, além de alguns danos graves já causados, criam a ilusão de que dar à luz é indolor (tal como o fazem relativamente à morte). A dor é natural, inerente à própria vida e é ao longo dela inevitável. Não há vida sem erro e sendo este a principal causa de dor, não é possível viver sem a experienciar.
As tentativas de a controlar foram tantas e tão contínuas ao longo do tempo que, na falta de relaxamento, elas se vão sedimentando no corpo de dor, cristalizado e manifestado, por exemplo, nos Síndromas Pré-Menstruais, ou em depressões, ambas tipicamente femininas – altura óptima para um processo de aceitação das mágoas. Devido à sua acumulação, tentativa para as dissimular, sem que desapareçam efectivamente, as dores escondem outras anteriores, como numa casca de cebola, razão pela qual num verdadeiro processo de cura, ao desbloquear energia, reaparecem sintomas antigos para que possam ser verdadeiramente sarados.
A dor pode ser temerosa, parecer insuportável, mas não é intransponível. Por muito dolorosa que seja, ela não dura para sempre e terminará (mais cedo), necessariamente, se for aceite. A dor (tal como o medo) é uma grande guardiã do prazer, felicidade e alegria, paraísos que assim são reservados. Como lembra Victor Martins, “prazer e dor são uma parelha que jamais pode ser separada”. Se é verdade que o prazer imediato provoca muitas vezes mais tarde sofrimento pelos seus efeitos (como a dependência, a saudade, a carência) também a dor, se aceite, bem vivida e então erradicada, não passa de um meio que conduzirá à bem-aventurança, paz, libertação, compreensão e cura.
Ao ser enfrentada e assumida, como no caso do luto, e não mascarada e ocultada, ela pura e simplesmente se resolve e elimina, sobretudo se for emocional. A dor é, deveras, memória passada acumulada; muitas vezes, no momento actual não há qualquer problema ou pesar. Forçando a decidir qual a melhor via a seguir, leva antes a ajuizar sobre as melhores opções de vida, a peneirar o trigo do joio, gerando um conflito até um ponto de ruptura que leva à decisão. Obriga, assim, a distinguir qual a verdade da ilusão, o que faz bem (a longo prazo) do que sabe bem (no imediato). Nesse processo de transformação, ela é alquimia que eleva cada vez mais em direcção à essência e mantém a fidelidade ao próprio ser. Ao mesmo tempo que ilumina - já que através dela se percepciona qual o melhor caminho a seguir, contribuindo para o auto-conhecimento - também purifica.
Uma das grandes virtudes da dor é obrigar a sentir o instante, a focar a atenção no aqui e agora, às vezes pela sua intensidade. Tão fortes são certas dores que continuar a ignorá-las torna-se impossível. Na sua aparente crueza, a dor atira ao chão do presente, sem subterfúgios, desculpas ou pretextos. Aceitando-a, no entanto, como meio de comunicação individual e observando-a, (mais) rapidamente é ultrapassada. Uma dor pode salvar se para ela houver olhos e ouvidos. Se não for calada tomando um comprimido químico, análgésico ou anti-inflamatório, que a prolongará, ainda que silenciosamente.
Há aliás substâncias orgânicas no corpo humano, como a prostaglandina, que ajudam a produzir reacções que evitam a dor; o chá de cravinho, tal como o magnésio, chocolate ou canela, por exemplo, também auxiliam no alívio das dores. Mas não há remédio como a aceitação do presente, permitindo que a vida flua, com as suas (in)satisfações. Deixando vir a dor, ela rapidamente se dissipa e em seu lugar haverá espaço para o bem-estar. Se esta limpeza diária for feita não serão acumulados resíduos. E em cada dia serão aceites as suas tristezas e alegrias respectivas.
Mais elucidados e orientados, mulheres e homens estarão prontos para desfrutar da vida na sua versão integral e não apenas numa, a cores garridas, que a distorce e é a sua morte lenta e agonizante. A aceitação devolve a saúde, a harmonia entre os dois pólos, integrados, o que conduz à verdadeira resistência e a um espírito construtivo. Foram, aliás, várias as obras-primas criadas após um intenso período de sofrimento. “Devemos ter a sagacidade", aconselhou Goethe, "de permitir pegar na dor e transformá-la numa obra de arte”.
Pietro Ubaldi sugeria que não se temesse a dor, pois ela é um poderoso instrumento de redenção, se for vivida de forma equilibrada. Há pois que não fugir apressadamente, sem reter as suas virtudes e ensinamentos, mas também sem excessivas demoras, correndo o risco de a prolongar ao ponto do afundamento em depressões crónicas ou profundas. A decisão de a vivenciar ou não, e como, é de cada um. Está nas mãos da humanidade a liberdade de escolher. Afinal, como afirma José Manuel Anacleto, «a vontade é mais forte que a dor».
Luta inglória
Pelo mundo fora há, hoje, uma guerra contra a dor. Esta aparece como hostil, algo a controlar. Instituem-se os Dias Nacionais e Mundiais de – Luta Contra a – Dor, de que Portugal foi pioneiro, em 1999, publicam-se manuais, livros, jornais e revistas sobre o tema. Profissionais do sector da saúde formam-se para eliminar o inimigo. Se bem que em casos extremos tais cuidados sejam necessários – qualquer doente se impacienta perante dores graves, prolongadas e insuportáveis - alguns deles poderiam ser evitados se a atitude geral perante a dor fosse diferente.
Há hoje uma intolerância generalizada face à dor. Também ao nível social, individual e de género, ela é vista como a grande adversária, de quem todos temem, alguns mais do que a própria morte. No caso dos homens tal é patente no preconceito de que um ser humano do sexo masculino não deve chorar. Considerada nociva, lança-se sobre ela todo um arsenal de combate. Todos os esforços parecem ser insuficientes para a conseguir “debelar”.
Também se usam as mais diversas estratégias para a “enganar”, através de fugas – dependência de substâncias, actividades ou pessoas. Álcool, droga, açúcar, café, jogo, trabalho, televisão, sexo, comprimidos são alguns exemplos compensatórios nesta guerra mundial. Mas quanto mais dela se a evita, mais ela sobrevive e se expressa. É, portanto, uma luta inglória, que não terá sucesso enquanto não forem extintas as suas causas. Como aconselhava Helena Petrovna Blavatsky, as lágrimas não devem ser enxugadas enquanto não for retirada a dor que as causou.


* Anos 80 [1] Teresa Rita Lopes in CAMPOS, Álvaro – Poesia, Assírio & Alvim, 2002, pág.29.

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quarta-feira, 11 de junho de 2008

Amar é preciso

Há – exactamente - um ano estava a ser lançado durante a conferência sobre Informação Solidária. Em jeito de comemoração, daquela que foi a promotora do “Aqui & Agora”, relembramos o conteúdo de um livro que reúne as respostas dos congressistas à pergunta da Cais sobre qual é o lugar do amor numa economia neo-liberal.

Texto Dina Cristo

O amor é uma necessidade básica de qualquer ser humano. Quando alguém em criança não aprendeu a amar, porque não foi amado, corre sério risco de se vir a tornar sem-abrigo.
A aprendizagem da competência amorosa ocorre na família - espaço afectivo por excelência, onde se vivência o nível mais elevado de gratificação e partilha sentimental. Ser amado é ter (tido em criança) um papel central na atenção, apreciação, admiração; é ter-se sentido único, especial, exclusivo; é ter sido querido, considerado, respeitado e valorizado na totalidade.
Esta experiência será vital para a auto-estima, sentimento de segurança, realização, felicidade, capacidade de sonhar, enfim, para a saúde, não apenas física mas também psicológica e mental de todo o indivíduo. Quando houve na infância uma “anemia” de afectos, a personalidade do futuro adulto ficará enfraquecida e (mais) vulnerável (à dor).
“Os consumos de álcool e drogas cruzaram-se com as suas vidas e são um penso rápido para uma ferida que não pode cicatrizar, impedindo apenas que o sangue se torne visível, isto é, que a maior dor de todas, a dor de pensar, não surja, porque ninguém suporta olhar-se completamente desprovido de amor”
[1], explica António Bento, psiquiatra, a propósito dos doentes mentais sem abrigo.
Sem-abrigo ou sem-amor?
Os sem-abrigo, mais do que não terem habitação, são essencialmente pobres física e, sobretudo, emocionalmente. Como anota Elias Barreto, psicólogo, “(…) antes destas pessoas se tornarem sem-abrigo já o eram interiormente”
[2]. Os sem domicílio fixo não têm onde se alojar afectivamente, carecem de laços psicológicos e sociais estáveis, pelo que o desalojamento exterior mais não é do que um reflexo do desabrigo interior. Os sem-abrigo são, na verdade, pessoas sem amor ou mal amadas.
Esta falta de filiação - traduzido, por exemplo, na ruptura conjugal e/ou parental, na débil ou inexistente rede de amigos - de ligações afectivas, conduz, com frequência, à reprodução do padrão de carência de amor (em relação a si próprio e ao outro), à escassez comunicativa, à depressão, ao delírio, à solidão, à auto-destruição.
A macro-economia, orientada para a produtividade, individual e competitiva, «(…) lucrativa (mas apenas para as pessoas mais “empregáveis”)»
[3], marginalizando uns, os antigos escravos, a quem hoje se retiram os direitos elementares, e excluindo outros, os pobres, amplia, no mercado de trabalho, estes problemas sociais. Aumenta o síndroma de dessocialização, a tensão social e impele à (sobrevivência na) clandestinidade. Amplifica a falta de laços sociais e comunicacionais, o sentimento de inutilidade, de não pertença e a falta de amor geral manifesta-se, então, no crime e na violência.
Problemas que não se resolvem com mais policiamento, controlo ou punição, mas através da responsabilização. Dar a alguém a possibilidade de (voltar a) ser útil, de fazer algo ou cuidar de alguém pode ser o primeiro passo. Parte da solução pode passar pelo restabelecimento de laços afectivos, quer com coisas, produzindo-as, criando-as, quer com pessoas, ou mesmo animais, cuidando deles
[4].
Cura amorosa
A resolução passará pela comunicação e pelo amor – a ligação a algo maior que a nossa única individualidade, separada – pela transição do egosistema, isolado, para o ecosistema, integrado e interdependente. É preciso dar a cada pessoa a oportunidade para encontrar o seu lugar e função neste mundo. Porque o trabalho, além de realização humana, é uma forma de servir os outros.
Numa época de desinvestimento afectivo, perante uma civilização de afirmação individual, com relações interpessoais mais exigentes e frágeis, onde o “nós” está em segundo plano e a pessoa improdutiva é non grata, só a disponibilidade interior poderá curar esta ferida social pois, como afirmou Gabriela Moita, psicóloga, “(…) só amor produz amor (…)”
[5] e o vazio afectivo só poderá voltar a ser (pre)enchido com afectividade.

Enquanto a sociedade privilegiar o mercado em detrimento da dádiva amorosa e a economia permitir será natural que prolifere a falha da auto-estima, a tensão económica, o conflito social e o mal-estar individual. Se persistir a insatisfação amorosa, a “anemia” de afectos - a âncora que representa a relação verdadeiramente humana - e os indivíduos não tiverem sucesso afectivo, os guetos continuarão, por mais que deles desviemos o nosso olhar.

[1] AAVV – Gostar de si – o lugar do amor numa economia neo-liberal, Lisboa, Padrões Culturais Editora, 2007, pág. 32. [2] Idem, pág.57. [3] Idem, pág. 17. [4] A história de sucesso do Fernando é um exemplo. Cf. pág. 61-63. [5] Idem, pág. 12.

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Pensamentos

Assinalamos a chegada do calor, com a publicação de algumas reflexões sobre o amor, medo, desejo, liberdade, vulnerabilidade - todas da mesma autora.

Citações e fotografia Dina Cristo

«O amor corresponde ao grande ciclo da água, a paixão ao pequeno»
«Chora»
«Cala-te»
«Diz-me como te chamas, dir-te-ei quem és»
«Pouco, de cada vez»
«A infelicidade mata»
«Menos e melhor»
"O amor é mais forte do que o medo"
"A maré vazia mostra o que a cheia oculta"
"Levanta-te"
"A verdade não está escrita"
"Concentra-te no bem"
"O direito pertence à alma, os deveres à personalidade"
"Não há coragem sem (des)ancoragem"
"Atenta à voz, não à roupa"
"Qual é o teu modelo?"
"Quanto mais simples mais feliz"
"A felicidade pertence ao céu, o sacrifício à terra"
"É livre quem não faz o que lhe apetece"
"Uma pequena inovação é uma grande mudança"
"O melhor está no pior"
"Os amigos são terapêuticos"
"Quem ama, não exige, dá"
"Quanto mais invisível mais importante"
"Os sonhos estão certos, os medos errados"
"A vontade está no todo, o desejo nas partes"
"Só o amor é urgente"
"A verdade é amorosa"
"O amor espera, a paixão desespera"
"Nos céus puros do amor voam todas as aves em liberdade"
"Ficar doente é um sinal de saúde"
"Faz parte da ignorância considerar-se esclarecida"
"O amor é a chave que ilumina a escuridão, dá compreensão à ignorância e paz ao desasssossego"
"Muito ocupados, sem tempo para viver"
"Vencemos sempre que aceitamos a derrota"
"As tradições também se criam"
"O mundo não nos pertence. Nós é que pertencemos ao mundo"
"Não é preciso procurar. Basta não fugir"
"Se houver coragem para atravessar a dor, no fim encontrar-se-á o prazer"
"Escolhe a Luz"
"Somos a ponte entre o Céu e a terra"
"Não há nada mais amador do que o profissional nem mais profissional do que o amador"
"Não insistas"
"Mais importante do que o modo como se vive é a maneira como se morre"
"A recompensa do trabalho é a alegria do dever cumprido"
"O essencial não muda. O que parece alterar-se é (o) acessório"
"Não se conquista o Céu recusando a Terra"
"Ocupa-te das coisas do corpo mas dedica-te apenas às da alma"
"É a vulnerabilidade que nos torna fortes"
"O amor é extensivo. O desejo é intensivo"
"Os que julgam saber não sabem e os que sabem julgar não julgam”
"Porquê querer mais, quando já se tem tudo?"
"O mal não está em errar mas em não corrigir o erro"
"A comunicação cura"
"Por vezes, parar é andar"
"Hoje homem, amanhã mulher"
"A paixão cega-nos. Só o amor nos ilumina"
"A solução está em sair do problema"
"Não há portal sem guardião"
"Só vemos aquilo que somos"
"O que nos acontece é o melhor que nos podia acontecer"
"Não vai deixar de anoitecer pelo facto de resistirmos à noite"
"O risco vem do abuso"
"Não ames sem pensar nem penses sem amar"
"O tempo transforma o amargo em doce e o doce em amargo"
"Nunca é tarde para sermos quem somos"
"As nuvens escondem o Sol, mas não o eliminam"
"Diz-me o que compras, dir-te-ei quem és"
"Nunca nada está a mais. Tudo tem o seu lugar no universo"
"Tudo o que queremos está em nós"
"A felicidade mede-se pelo estado de saúde"
"Quer a dor quer o prazer profundos se calam"
"O amor não tem fronteiras"
"Quem é ciumento é porque não acredita no seu sentimento"
"Para o que gostamos temos sempre tempo e nunca estamos cansados"
"O amor é infinito"
"Nada há mais comunicativo do que o silêncio"
"Não temas o vazio pois, na verdade, ele é o pleno"
"A vida será fácil se nos banharmos na água cada vez que ela vem e secarmos ao sol cada vez que vai"
"A solidariedade é a resposta"
"O medo atrai, o desejo repele"
"Há caminhos sem saída"
"Vivemos entre o desejo e a frustração de ter"
"Não critiques ou lamentes, agradece"
"A solução está na aceitação"
"Só o Amor dá Alegria"
"A pior coisa que há é sermos bonzinhos"
"Se queres descansar, trabalha"
"Quanto mais sábio, mais silencioso e mais santo"
"Não há maior justiça do que o perdão"
"Morrer é renascer"
"Ou te envolves ou desenvolves"
"Para se ser activo é preciso ser passivo"
"Vencemos sempre que aceitamos a derrota"
"A privação é a rainha de todo o bem-estar"
"Quanto mais dentro mais fora"
"A realidade é muitas vezes a mesma, o que muda é a nossa visão dela"
"A verdadeira cura piora"
"Resistir é adiar"
"A liberdade está para além do medo e tem um preço"
"No momento em que tudo está perdido é que tudo se salva"
"Quanto mais liberdade damos, mais temos"
"A realidade é uma ilusão"
"Quem não sente dor, não sente amor"
"Enquanto não se eliminarem as causas, os efeitos continuarão a manifestar-se"
"É tão estúpido sexo sem amor, como amor sem sexo"
"Quanto mais independência maior fusão"
"A tristeza é uma doença"
"A carência dos Homens é abundante"
"Não fujas. Sente"
"O medo atrai, o desejo repele"
"A cada céu o seu inferno"
"Tudo o que queremos está em nós"
"O cimento é feito de grãos de areia"
"A beleza está na imperfeição"
"Quanto mais acima mais abaixo"
"A felicidade não se procura, semeia-se"
“O pior da vida? A expectativa. O melhor? A aceitação”
"Diz-me como vês os outros, dir-te-ei quem és"
"Sempre que resistimos envolvemo-nos"
"Nada tem de ser mais do que aquilo que é"
"O amor não tem condições"
"Se queres descansar, trabalha"
"A vida só começa onde acaba o medo"
"Tudo o que nos limita faz sofrer"
"São as fraquezas que nos tornam fortes"
"A verdadeira inteligência é amorosa"
"O mais importante não é o que temos mas a maneira como nos sentimos"
"Amar é gostar sem ilusões"
"Quem ama sabe e quem sabe ama"
"O amor é a única coisa que existe e persiste"
"A vontade está no todo, o desejo nas partes"
"O ponto máximo da perdição é também o início da salvação"
"Libertar não é fugir mas renunciar voluntariamente"
"O coração quer paz. É a cabeça que faz a guerra"
"A verdade está sempre oculta"
"A paixão afunda-nos. O amor faz-nos flutuar"
"É o amor que nos conduz à paz. É a paz que nos leva ao amor"
"Só seremos humanos quando formos livres"
“Não há evolução sem recapitulação”
"Só o que está para além da mudança é verdadeiro"
"Quem não aceita perder nunca ganhará"
"Só dói onde há ferida"
"As pessoas amam quem as manipula e manipulam quem as ama"
"Sê tu próprio. Sempre"
“Ou nunca se gosta ou jamais se esquece”
"No que amamos, demoramos"
“Nada substitui a falta de amor”
“O tempo faz aquilo que parecia impossível acontecer”
“O medo é o que, a uns passos do paraíso, nos mantém presos, no inferno”

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