quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Jesus?


Perto do Natal, escrevemos sobre um génio mundial, quase desconhecido e coevo de Jesus, a partir do livro de G. Mead “Apolónio de Tiana - sábio, profeta e renovador dos mistérios".

Texto Dina Cristo

Apolónio nasceu em Tiana[1], actual Turquia, nos primeiros anos da era cristã. Grande instrutor, elogiado por Voltaire, não foi um deus mas estava acima dos homens, um verdadeiro “daemonion”, cidadão do mundo e sacerdote da religião universal. Enigmático, com uma vida secreta e, durante cinco anos, devotada ao silêncio, Apolónio era forte e erecto, mas também suave, gentil, modesto e até charmoso.

Aluno de Euxeno, iniciado em segredos mais elevados do que os eleusinos, Apolónio de Tiana era um profundo estudioso e amante do saber. Dedicava as manhãs a dar e receber instrução sobre as coisas sagradas, e depois da ciência divina, à tarde, ensinava o que sabia sobre ética e vida privada, com frases curtas e exemplos (comuns). Exigente consigo próprio, não impunha aos outros o seu modo de vida.
Despojado e frugal, defendia um sistema de vida que disciplinasse para a aceitação. Andava descalço e só usava linho. Rejeitava o vinho, a lã e tudo o que provinha de animais. Pleno de compaixão, condenou os combates de gladiadores, o sacrifício de sangue, a excitação selvagem nas corridas de cavalos ou a degeneração dos bacanais. Considerava como única comida pura a produzida pela terra: fruta e vegetais.
Ascético, recusava todos os presentes e rogava “Concedam-me ó Deuses, ter pouco e não necessitar de nada”. Com uma vida pura, considerava que era ao não ter nada que se possuía todas as coisas. Meditava três vezes por dia, ao amanhecer, meio-dia e pôr-do-sol, e à noite banhava-se em água fria. A sua conduta pautava-se por “Coração, sê paciente e tu, minha língua, fica quieta”
[2].
Reconsagração internacional

Com uma actividade quase mundial, viajou muito por terras distantes. Alexandria, Atenas, Arábia, Babilónia, Cádiz, Chipre, Éfeso, Espanha, Etiópia, Grécia, Itália, Jónia, Nínive, Pérgamo, Tróia fizeram parte das suas estadias, onde visitava antigos templos, santuários, magos, centros, comunidades e instituições. Não fundou nenhuma escola, antes procurava restaurar os antigos ritos sagrados, purificando-os, explicando-os melhor, ajudando, assim, pela iluminação à sua restauração.
Apolónio viajou, estudou e ensinou muito. Entre os diversos tratados que escreveu contam-se “O testamento de Apolónio”, um resumo das suas obras, “A vida de Pitágoras” ou “Os ritos místicos ou com relação aos sacrifícios”. Instruía, nos seus sermões, sobre temas como a morte - “Ninguém jamais nasce ou morre jamais”
[3] - ou a imaginação - “(…) a imitação só faz aquilo que viu, enquanto a imaginação o que nunca foi visto, concedendo-o na forma em que a coisa realmente é”[4].
Apolónio, que acreditava que o governo monárquico era o melhor para o império, conversava com reis e aconselhava moralmente os príncipes. “Não deveis colocar vossos próprios problemas acima dos deveres públicos”, dizia nos seus sermões. Com influência, a nível moral e político, defendia que “(…) entre os maiores governantes é o melhor aquele que consegue primeiro governar a si mesmo”
[5]. Admirava Palamedes[6], filósofo do período troiano a quem considerava um herói.
Com uma extraordinária memória, lia os pensamentos humanos e podia ver eventos que ocorriam noutro local, “(…) havia aprendido como comunicar-se com eles [sábios indianos] apesar do seu corpo estar na Grécia e os deles na Índia”
[7]. Médico da alma, para Apolónio, “Nenhuma criatura pode ser saudável enquanto a parte mais elevada nele estiver doente”.
Teve como discípulos, ouvintes, Dâmis, Musónio e Demétrio. Orava “Dai-me, ó Deuses, o que me é devido”, lembrava que “O tempo faz cessar o sofrimento” e que “Aquilo que é não cessa jamais de ser”. Teve que deixar Itália depois de um decreto ter banido os filósofos de Roma, onde foi julgado em 93.

[1] Perto de Tarso, onde também nasceu o apóstolo Paulo, seu contemporâneo. [2] MEAD G.R.S. - Apolónio de Tiana – sábio, profeta e renovador dos mistérios, Brasília, Editora Teosófica, 2000, pág. 65. [3] Idem, pág.132. [4] Idem, pág.125. [5] Idem, pág.133. [6] Palamedes, segundo as fábulas, inventou letras, completando o alfabeto de Cadmo. [7] Idem, pág.81.

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