quarta-feira, 30 de julho de 2008

Presente Real

Doze meses após o lançamento do "Aqui & Agora", uma prenda. Lembramos, com Eckhart Tolle, a eficácia da actualidade.

Texto Dina Cristo


Quanto mais fugimos à dor mais ela, acumulada, se expressa. Só a aceitando, reconhecendo e dando-lhe atenção, estando presentes no aqui e agora a dissipamos. No livro “A prática do poder de agora”[1], Eckhart Tolle conta como aceitar é observar (sem julgar), é dignificar e reconhecer cada instante como o melhor, é estar (no) presente, rendermo-nos[2] e dizer “sim” ao que somos, onde estamos e ao que fazemos.


Tal leva à mudança da situação, leveza e paz, possibilita maior simplicidade e, curiosamente, menos sofrimento. Depois, implica fazer o que a circunstância exige, por isso trata-se de uma acção positiva, com qualidade e prosperidade - uma via de realização que religa ao ser e não impõe condições.
O agora é o portal[3] para o Ser, a plenitude, integridade, consciência, liberdade (de escolha), mudança, é o verdadeiro poder, que proporciona calma, redime, salva e onde cada actividade é um fim em si mesma. Corresponde à intuição, o consciente que age, o Ser e o Saber para além da forma, a compaixão, sanidade, presença, despertar, aceitação e perdão que dá vera confiança; é Poder, Luz, Paz, Realidade, Aqui e Agora.
Pelo contrário, resistência é julgar, viver cada momento como um meio, insatisfação mental, negativismo emocional, é evitar e negar. Mantém a condição problemática e apenas encaminha para a preocupação, conflito e dramatismo. Precisa de máscaras e de defesas, é exigente e tem expectativas rígidas, que originam tensão e contracção corporal. Ao dizer "não" o indivíduo interpreta com base no medo, analisa, critica, rotula e, consequência de um apego mental, gera complexidade e frustração.
(Se)mente
A mente é o inconsciente que reage, o pensador e o juiz, a forma, paixão, condicionamento, que gera violência, vulnerabilidade, vitimação. É apego e separatividade, fraqueza, escuridão, ilusão, adormecimento, indecisão disfuncional, ruído e projecção mental, que provoca culpa, medo, problemas, dores e doença.
Em “O poder do agora”[4], Eckhart Tolle explica como a mente é tagarela, produz poluição sonora, resiste, categoriza, compara, julga, condena, especula, lamenta-se e preocupa-se, cria filmes mentais e se torna num vício, pensamento compulsivo que ataca, castiga, desvitaliza, angustia e é muitas vezes repetitiva, inútil e até prejudicial. Condicionada e dualista, ela provoca ansiedade, necessidade, apego, suscita discussões e torna-se estéril e insensata, sempre que usada de forma incorrecta. O positivo é que nós não somos esta mente pensadora: estamos para além dela.
Segundo o autor, existe um tempo psicológico, a identificação com o passado e a projecção compulsiva no futuro, e um tempo cronológico, o presente, que também deve servir para aprender com os dias idos e estabelecer objectivos para o que há-de vir, mas sem prisão. O excesso de passado leva ao sentimento de culpa enquanto demasiado futuro acarreta medo. O agora é tudo o que existe, só o presente é real e pode ser enfrentado.
A mente usa estratégias para evitar o agora, pois a personalidade adora sentir-se infeliz, ressentida ou com pena de si própria. Há, então, propõe o autor, que honrar e reconhecer o passo actual, aceitar o momento incondicionalmente, concentrar toda a atenção no presente e entrar profundamente no agora; parar a mente, retirar-lhe tempo e restringir ao presente, dando-lhe espaço; aproveitar para observar os pensamentos-sentimentos e sensações corporais, concentrar na própria respiração, meditar e permanecer [5]consciente. Quanto mais atenção e qualidade de consciência, mais presença haverá.
Há, assim, dois caminhos: o tempo psicológico, da resistência, do passado/futuro, da mente, que mantém a situação e produz dor, medo, insegurança, infelicidade e o tempo do relógio, da aceitação, do aqui e agora da intuição, que muda a ocasião e leva à paz, confiança e alegria. O poder da escolha é nosso.

[1] Ed. Pergaminho, 2004. [2] Para além da felicidade ou infelicidade há a paz, que vem da rendição e nos conduz à leveza e à liberdade; pelo contrário, a resistência leva à dor, à rigidez, à separação, ao sofrimento. Só este último, a nossa cruz, nos força a render, altura em que dispensamos o passado. Mas a aceitação não significa indiferença nem inactividade. [3] Há vários portais que dão acesso ao não manifestado: o agora, o parar de pensar, a rendição, o silêncio, o espaço (quase cem por cento das matérias aparentemente sólidas é espaço). [4] Pergaminho. 2ª ed. 2003. [5] O estado de presença tem uma energia de alta frequência.

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