quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Cinema ou manipulação?

Antes da atribuição dos prémios da Academia, evocamos um livro de Ignacio Ramonet sobre a conquista psicológica.

Texto Dina Cristo

O cinema, tal como a publicidade, a televisão e agora a Internet, constituem uma indústria cultural, baseada na imagem. Algumas, subliminares, invisíveis a olho nu, imperceptíveis ao nível consciente, actuam de modo silencioso, como na moral da história, o que lhes dá um poder oculto. Tornam-se armas de propaganda numa guerra psicológica de “conquista dos espíritos” na adesão à perspectiva e modo de vida norte-americano. Um dos exemplos que o autor nos dá é o caso de um spot, durante a campanha eleitoral americana, em Setembro de 2000, que comparava os democratas a burocratas e a ratazanas.
Este domínio do imaginário é, para o autor, uma violência simbólica. A penetração ideológica efectua-se através da repetição – retoma-se a estrutura variando ligeiramente o conteúdo. Ao corresponder às expectativas da audiência, reforça o conservadorismo, favorece o status quo; a identificação com o herói, por exemplo, legitima a ordem estabelecida. A audiência é escravizada através da exploração dos sonhos (o mito do sucesso e ascensão social) e de uma retórica de sedução, melosa, de fácil compreensão, com uma linguagem universal, a emoção, que promete a liberdade… de escolher entre os produtos de mega-grupos (como a AOL, Time-Warner-CNN-EMI).
Apesar de invadirem o mundo com as suas mega-produções, os EUA criam cinco por cento dos filmes realizados em todo o mundo e não compram mais do que um por cento das películas estrangeiras. Quanto menor a consciência maior o efeito sobre a população, que ama a sua servidão. Uma espécie de satisfação hipnótica, euforia lúdica que mantém as almas domesticadas numa sociedade de desperdício, na qual o objecto (ter) corresponde a uma dada auto-imagem, identidade e personalidade (ser), que (se) consome.
Trilogia
No caso da publicidade, que procura induzir a compra de produtos inúteis que completam a americanização vendida pelo cinema, torna-se uma máquina de desejo que reforça clichés ideológicos, como a mulher objecto de prazer ou sujeito doméstico.
No exemplo das séries televisivas, de onde vieram vários cineastas (como Robert Altman, Alan J. Pakula, Sidney Pollack com estilos assimilados, entre outros, por Francis Ford Coppola, George Lucas, Steven Spieldberg, Martin Scorsese) dramatizam em excesso, durante uma dúzia de minutos por forma a prender a atenção… para a publicidade. No caso da informação, as câmaras subjectivas na guerra do Vietname permitiram apresentar o ponto de vista do Pentágono em 97%.
Em matéria de cinema, as comédias, ao persuadirem os espectadores de que a II Guerra tinha sido um grande divertimento, turvaram as recordações e favoreceram a amnésia. Resta o cinema clandestino, de intervenção social, produzido por subscrição popular, debatido e difundido por redes paralelas. Filmes de autor, que retirem os espectadores da prisão (de uma distracção sedutora e alienante), enquanto não se constituírem também como discurso de poder.

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1 Commentarios:

Anonymous Anónimo disse...

Toda a realização provém de uma imaginação e é fruto sempre de uma produção com suportes tecnológicos sustentáveis e capazes de poder alcançar o grosso da intenção pretendida.
Eis que essa indústria cultural, que requer um investimento de garantia, queira e em geral consegue iludir e transformar a massa receptora no seu agente escoador e em muitos casos este último é maltratado pelos excessos dos protagonistas, e uma manipulação vem sempre atrás, ainda que algo dissimulada ou disfarçada. Traça-se as metas e os objectivos depois colhem os retornos.

segunda-feira, 23 fevereiro, 2009  

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